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Quais são as apostas da direita para ocupar ‘vácuo’ de Bolsonaro; veja a lista

Tarcísio, Zema, Michelle e Flávio são nomes cotados para sucessão do ex-presidente; Bolsonaro está inelegível por decisão do TSE

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Foto do author Natália Santos
Foto do author Gabriel de Sousa
Por Natália Santos e Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornou inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, com isso, está aberta a disputa na direita pelo espólio do ex-presidente. Nomes como dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, despontam como fortes candidatos a ocupar o “vácuo” deixado pelo ex-chefe do Executivo. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “01″; a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o general da reserva Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa derrotada nas eleições passadas, também são cogitados para substituir o ex-presidente no grupo bolsonarista em 2026.

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Bolsonaro se tornou inelegível por oito anos em julgamento no TSE, finalizado nesta sexta-feira, 30. O ex-presidente foi condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação por causa da conduta dele no período pré-eleitoral. Em julho de 2022, se reuniu com embaixadores no Palácio da Alvorada. Na ocasião, o então presidente fez críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Corte eleitoral e ainda colocou sob suspeita o sistema eleitoral brasileiro, sem apresentar provas.

Para o doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Leandro Gabiati, a ausência de Bolsonaro nas urnas não significará um ex-presidente fora das eleições. “Ele deixará de ser um candidato, mas passará a ocupar o espaço de um orientador político”, disse.

O papel dele, no entanto, precisará ser avaliado pelo futuro candidato da direita à Presidência, segundo o cientista político Thiago Valenciano, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O sucessor de Bolsonaro deve ponderar o quão positivo é estar ao lado de Bolsonaro para angariar todos os votos e o quão positivo é estar distante do Bolsonaro para também não atrair uma rejeição.”

Veja os nomes cotados, citados por lideranças bolsonaristas e especialistas ouvidos pelo Estadão.

Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Tarcísio de Freitas se elegeu governador de São Paulo com o apoio de Bolsonaro, de quem foi ministro da Infraestrutura Foto: Werther Santana / Estadão

Nome mais citado entre políticos de direita como sucessor do espólio do ex-presidente, Tarcísio Gomes de Freitas é governador de São Paulo até 2026, com possibilidade de se reeleger até 2030. Ministro da Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro, foi indicado pelo ex-presidente para se candidatar ao governo paulista nas eleições do ano passado. Derrotou Fernando Haddad (PT) no segundo turno, com uma diferença de 2,5 milhões de votos.

O potencial de Tarcísio para a disputa à Presidência reside no fato de ele comandar o Estado mais rico do País, com R$ 317 bilhões de orçamento anual. Para o cientista político Thiago Valenciano, o governador precisa ter um bom desempenho à frente do Palácio dos Bandeirantes para que a sua possível candidatura seja competitiva. “Só há Tarcísio caso ele consiga fazer sucesso em São Paulo.”

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Gabiati avalia que o governador de São Paulo, apesar de ter sido eleito na esteira do bolsonarismo, tem posição mais moderada, ao buscar diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em temas de interesse do Estado. “Ele é um candidato certamente conservador, mas é um político que desperta certas tradições com convenções políticas”, disse.

Romeu Zema (Novo)

Romeu Zema foi eleito governador de Minas Gerais em 2018 e reeleito ao cargo em 2022 Foto: ESTADAO

Também no radar da direita, Romeu Zema, único governador do partido Novo, foi eleito para comandar Minas Gerais em 2018 e reeleito para o cargo em 2022. Nas duas vitórias para o segundo maior colégio eleitoral do País, teve o apoio de Jair Bolsonaro. Desde o início do governo Lula, Zema tentou se cacifar como líder da oposição sem “abraçar” o bolsonarismo. Em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Sul, oito dias após os ataques de 8 de janeiro, Zema afirmou que o governo federal fez “vista grossa” às invasões e depredações das sedes dos Três Poderes para, segundo ele, se “posar de vítima”.

O cientista político Thiago Valenciano analisa que a falta de representação legislativa do Novo é um desafio para Zema chegar ao Planalto pelo partido. Para ele, o governador mineiro precisaria de um apoio externo em torno da candidatura. “Além do discurso, será necessária uma grande frente para disputar contra o governo Lula. Ele também precisa construir uma unanimidade na direita”, afirmou.

Michelle Bolsonaro (PL)

Michelle Bolsonaro foi uma importante peça na campanha à reeleição de Jair Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

Desde a campanha presidencial do ano passado, na qual foi uma importante peça para a conquista de votos do eleitorado evangélico e feminino, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro começou a construiu um perfil que chamou a atenção do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O líder do partido viu nela um promissor capital político. Em fevereiro, Michelle assumiu a presidência do PL Mulher e começou a realizar compromissos políticos.

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Para Thiago Valenciano, Michelle Bolsonaro seria uma importante aposta pelo seu sobrenome, que pode angariar votos de eleitores do ex-presidente. “Óbvio que o espólio eleitoral é grande e, assim, pode ser amplamente explorado. Enquanto País, há a tradição de famílias comandando o poder nacional.”

Já o cientista político Leandro Gabiati avalia que a ex-primeira-dama possui um capital político que vem sendo explorado pelo PL, mas que ainda representa um bolsonarismo que, segundo ele, perdeu o pleito de outubro por causa das posições radicais. “Ela mostrou um bom desempenho na campanha e colaborou para diminuir, talvez, a resistência do capital feminino a Bolsonaro. Mas ela ainda é uma Bolsonaro”, disse.

Flávio Bolsonaro (PL)

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “01″, também é um nome citado para suceder o ex-presidente Foto: Edilson Rodrigues

Dos três filhos de Jair Bolsonaro que possuem cargos políticos, o senador Flávio Bolsonaro é considerado com maior projeção para concorrer à Presidência. Senador da República desde 2019, é uma figura da oposição ao governo Lula presente em importantes colegiados do Senado. Ele é titular na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e suplente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos de 8 de Janeiro.

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Para Valenciano, Flávio, por herdar o sobrenome do ex-presidente e ocupar a cadeira na Casa, pode ser uma alternativa da direita para preencher o “vácuo” deixado por Bolsonaro. “Aponto que ele possa ocupar esse espaço do pai.”

Flávio foi cogitado para disputar a Prefeitura do Rio, em 2024, mas o nome dele foi barrado por Bolsonaro.

Braga Netto (PL)

O general da reserva Walter Braga Netto (PL) é outro apontado como possível sucessor do ex-chefe do Executivo. Vice na chapa derrotada nas eleições passadas, sempre foi considerado um “cumpridor de ordens”. No governo Bolsonaro, atuou como ministro da Casa Civil, em 2020, e da Defesa, em 2021.

Ele foi um dos poucos oficias militares da reserva que passaram pela gestão sem perder a confiança do então presidente e seus filhos. Em novembro passado, após o pleito, Braga Netto demonstrou simpatia pelo movimento que preparava um golpe. “Vocês não percam a fé, tá bom? É só o que eu posso falar pra vocês agora”, disse o militar a simpatizantes que defendiam, na portaria do Palácio da Alvorada, uma intervenção militar. Declarações de apoio ao golpe e em defesa da ditadura podem afastar dele o eleitorado de fora do bolsonarismo.

No último dia 16, Braga Netto falou pela primeira vez como pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio, cargo para o qual tem o apoio de Bolsonaro.

Ratinho Jr. (PSD)

Ratinho Junior Foto: TV ESTADÃO

Seguindo uma linha mais moderada, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), reeleito em 2022, é um nome que surge mais discretamente na disputa pelo espólio de Bolsonaro. Mesmo sendo filiado ao PSD, que faz parte da base do governo Lula com três ministérios, declarou apoio a Jair Bolsonaro no segundo turno das duas últimas eleições presidenciais. Depois da vitória do petista, declarou que fará oposição ao governo, mantendo “relacionamento institucional”.

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Ratinho Jr. se coloca como um “candidato do centro e do anti-extremismo” e pode ter o seu conhecimento nacional impulsionado pela fama de seu pai, o apresentador de televisão Carlos Massa, o Ratinho. “Em um País com fissuras e rupturas na democracia, o desafio dele é angariar esse eleitorado, além de popularizar o nome no País”, disse o cientista político Thiago Valenciano.

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