Joesley e Wesley Batista são recebidos por embaixador e tietados por empresários após Lula cancelar viagem; veja vídeo

Os irmãos donos do grupo que possui a JBS, maior processadora de proteína animal do mundo, fazem reuniões e posam para fotos em Pequim; empresários que viajaram à China antes de Lula mantêm agendas privadas.

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Por Felipe Frazão
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM - Os irmãos Joesley e Wesley Batista foram recebidos pelo embaixador Marcos Galvão e tietados por empresários brasileiros em Pequim neste domingo, 26, um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelar a visita de Estado à China. Os executivos da holding J&F participam da primeira missão no exterior a convite do governo brasileiro depois de sacudirem o mundo político com uma delação premiada em 2017.

A China é o principal mercado do grupo J&F, do qual faz parte a JBS, maior empresa de proteína animal do mundo. Além da carne, as empresas dos irmãos Batista atuam com exportação de celulose, pela Eldorado Brasil, e minério de ferro e manganês, pela J&F Mineração. As commodities constituem a base da relação comercial entre os países, do ponto de vista das exportações brasileiras.

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A visita à embaixada brasileira é simbólica por mostrar a deferência do governo aos empresários. Apesar do cancelamento da visita de Lula, o embaixador Galvão, representante do presidente em Pequim perante o governo comunista, não deu declarações a jornalistas brasileiros e cancelou um briefing à imprensa.

O diplomata recebeu representantes de conselhos de empresas ao longo do dia. Em resposta a questionamento da reportagem, a embaixada disse que a JBS foi recebida “para apresentar o panorama das exportações da empresa para a China”.

Ao fim do encontro, que durou pouco mais de uma hora, Joesley e Wesley Batista não quiseram comentar a viagem ou o teor da reunião. “Não nos leve a mal, estamos chegando aqui agora”, disse Joesley.

Executivos da JBS, liderados por Joesley e Wesley Batista são recebidos na Embaixada do Brasil em Pequiim Foto: Felipe Frazão

Os irmãos Wesley e Joesley atraíram atenção no Hotel St Regis, onde estão hospedados, ao lado de representantes do governo brasileiro e parlamentares, entre eles o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR).

Em entrevista a jornalistas, o ministro defendeu a volta dos executivos da J&F à comitiva empresarial organizada pelo governo e disse que conversou com eles durante o café da manhã no hotel. O assunto foi a abertura de mercado com habilitação de novas plantas exportadoras de carne, segundo Fávaro.

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“Tomo café da manhã com todos. Falamos de mercado, de oportunidades”, afirmou Fávaro. “A gente tem que reconhecer. É a maior empresa de carnes do mundo, uma empresa brasileira que gera muitos empregos e oportunidades ao cidadão brasileiro. Eles cumprindo a legislação brasileira e seu compromisso, não tem por que eles não poderem fazer parte da comitiva e estar buscando a ampliação de seus negócios.”

Para Fávaro, a retomada de relações próximas e a participação na missão empresarial não seria uma forma de apagar o passado: “Se alguém deve alguma coisa, que pague pelo que deve. Agora, tem que olhar pra frente. Estão lá centenas de milhares de brasileiros que trabalham e tem seu emprego garantido. Não tem por que tratar diferente”.

Eles se recusaram a comentar a ausência de Lula ou a dar qualquer declaração à imprensa. Os irmãos circularam entre os mais de 100 empresários do agronegócio, integrantes da comitiva empresarial convidada pelo ministro da Agricultura.

Os irmãos Batista evitaram andar desacompanhados no lobby do hotel. Estavam com uma entourage de funcionários do grupo empresarial, que evitavam a aproximação de jornalistas. Eles ficaram em um restaurante, em área mais reservada, onde se reuniram com empresários do setor calçadista nacional. Ao fim, trocaram contatos e posaram para fotos. Ainda no elevador do hotel, conversaram sobre uma recente aquisição do grupo, mais uma empresa de cosméticos, a Vyvedos.

Joesley Batista e Wesley Batista (à direita na foto), da J&F, no hotel St Regis na China durante missão empresarial a convite do governo Lula Foto: Felipe Frazão/Estadão

Uma parte da comitiva oficial, que se deslocou antecipadamente para preparar a chegada de Lula, deixava o hotel no momento em que os irmãos Batista mantinham reuniões no restaurante.

Como cortesia oferecida pelo governo chinês, o presidente Lula ficaria no mesmo hotel dos irmãos Batista, na suíte presidencial de 200 metros quadrados, localizada no 18º andar. A diária custa R$ 61 mil. Todo o piso teria o acesso restrito. O hotel tem histórico de receber chefes de Estado e autoridades militares, além de executivos.

Joesley Batista (centro) durante missão empresarial a convite do governo Lula na China Foto: Felipe Frazão/Estadão

Joesley e Wesley Batista, além de empresários brasileiros que chegaram a Pequim nas últimas horas, vão participar nos próximos dias de atividades e seminários promovidas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) e pelo Conselho Empresarial Brasil China (CEBC). As agendas foram mantidas, apesar do cancelamento da visita de Lula.

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