Tínhamos até 2022 um presidente misógino. Que ganhou notoriedade dizendo que uma deputada não merecia ser estuprada porque era feia. Que disse que fraquejou por ter tido uma filha do sexo feminino. Que levou milhares de mulheres às ruas ainda na campanha pedindo “Ele não”.
No ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu com a ajuda do voto feminino e era visto como um contraponto ao concorrente Jair Bolsonaro. Subiu a rampa do Palácio do Planalto, fez uma foto bonita representando a diversidade brasileira, recebeu a faixa de uma mulher. Nomeou um governo com recorde de ministras. Desde então, justamente elas foram sendo derrubadas. O prestígio feminino no governo Lula parou por aí.
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Na sucessão ao Supremo Tribunal Federal (STF), Lula fez feio. Numa vaga aberta após a saída da ministra Rosa Weber, mulheres nem sequer foram cogitadas. Entre os principais cotados, homens. O escolhido, o ministro da Justiça, Flávio Dino, homem. Ao invés de aumentar, como se esperava do presidente da diversidade, a presença de mulheres na Corte mais alta do País será reduzida.
Apesar de o vice-presidente Geraldo Alckmin e de o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, terem dito que é cedo para discutir quem fica no lugar de Dino, é só o que se fala em Brasília. No disse me disse, surgiu o nome de duas mulheres. Não porque Lula quer necessariamente se redimir com o público feminino. Mas, para o presidente, esse seria um bônus desejável.
Segundo a coluna apurou, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, vem crescendo na corrida. Ela teria a vantagem de acalmar os ânimos do partido, que se sentiu preterido nas escolhas tanto para o Supremo quanto para a Procuradoria-Geral da República e, agora, está indócil. E, olha só, é uma mulher.
Contribuiria para corrigir um pouquinho do estrago feito em seu ministério após Lula demitir as ex-titulares do Turismo Daniella Carneiro e do Esporte Ana Moser e colocar homens nas respectivas cadeiras. Pesa contra Gleisi, porém, o fato do presidente preferi-la no PT, especialmente com eleições municipais no ano que vem.
Outro nome feminino que começou a circular antes mesmo de a indicação de Dino ser anunciada foi o de Simone Tebet, atual ministra do Planejamento. A avaliação ouvida pela coluna é que a solução tem chances remotas. Nem mesmo caciques do MDB acreditam na mudança. No agregado dos números, também não adiantaria ela migrar de Pasta e colocarem um homem no Planejamento - em nada muda a representatividade feminina no governo.
Ainda são candidatos ao cargo de Dino o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o atual secretário-executivo Ricardo Capelli. Os dois, inclusive, são mais cotados do que as duas mulheres nas “casas de apostas” que se transformaram os bastidores de Brasília.
Lula já deixou claro que não levaria em consideração critérios de “gênero ou raça” ao escolher seus ministros do STF e integrantes do governo. O discurso do presidente se assemelha ao daqueles que dizem que não veem “cor ou sexo” ao criticar políticas afirmativas, tão caras à esquerda e aos eleitores que levaram o presidente até o cargo. Lula parece ter esquecido a diversidade na rampa do Planalto.