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Lula lança campanha 'Fé no Brasil' para atrair eleitorado evangélico e reembalar programas sociais

Estratégia foi apresentada a secretários executivos e chefes de assessorias de imprensa em reunião com ministro da Secom, Paulo Pimenta, e marqueteiro Sidônio Palmeira

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Por Vera Rosa
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BRASILIA – O governo Lula vai lançar nos próximos dias a campanha publicitária intitulada “Fé no Brasil”. São filmes que tentam juntar as marcas do governo e, ao mesmo tempo, fazer um aceno aos evangélicos. Pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto mostraram queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente no segmento evangélico, que representa 30% do eleitorado. A portas fechadas, a avaliação é a de que o governo tem perdido a batalha da comunicação para aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A campanha será regionalizada e, a cada visita de Lula a um Estado, haverá exibição do material para o público. O conceito básico da propaganda, que pretende injetar esperança na população, foi apresentado recentemente a secretários executivos e chefes de assessorias de imprensa dos ministérios pelo titular da Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, e pelo marqueteiro Sidônio Palmeira.

O publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de Lula na campanha presidencial de 2022. Foto: Arquivo Pessoal/Sidônio Palmeira Foto: Arquivo pessoal/Sidônio Palmeira

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A ideia é que, neste ano de eleições municipais, os ministros também comecem a falar sobre programas do governo de todas as pastas, e não somente sobre suas áreas. Para tanto, a Secom produzirá um caderno com informações sobre as principais realizações do governo.

Ao conversar com os secretários executivos dos ministérios, Pimenta destacou que era preciso arrumar a comunicação da equipe. Observou, ainda, a necessidade de jogar os holofotes sobre as ações positivas e as “entregas” do governo para reduzir a polarização política que divide o País.

Como mostrou o Estadão no último dia 17, Sidônio Palmeira foi chamado por Lula para ajudar na comunicação após a desaprovação do governo aumentar. O marqueteiro assinou a campanha do PT em 2022 e foi o criador do slogan do terceiro mandato, batizado como “União e Reconstrução”.

Com o mote “Fé no Brasil”, que vai embalar programas já apresentados – como Pé de Meia, Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida –, Lula tentará demonstrar que, após um ano definido por ele como sendo de “plantar”, chegou a hora “da colheita” e as promessas saíram do papel.

“Se as pessoas não falam bem da gente, ou bem das coisas que a gente fez, nós é que temos que falar”, argumentou o presidente na reunião ministerial do último dia 18.

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Propaganda diz que governo está ‘no rumo certo’

A propaganda aparecerá em rádio, TV, jornais e mídias digitais. Nas redes sociais, os anúncios serão emoldurados pela inscrição “Bote fé no Brasil”, com letras coloridas, ao lado de “Estamos no rumo certo”. Sob o guarda-chuva da “União e Reconstrução”, o governo já adotou outros três slogans: “O Brasil voltou”, “Brasil no rumo certo” e “Brasil, um só povo”.

Nos bastidores, porém, auxiliares de Lula admitem que, para o clima de polarização diminuir, ele próprio precisa mudar o discurso. O presidente não apenas tem reagido aos ataques como puxado a briga com Bolsonaro.

Na reunião do dia 18, por exemplo, Lula chamou o ex-presidente de “covardão” e disse que ele “ficou no Palácio chorando um mês”, após perder as eleições, preferindo “fugir” antes da tentativa de golpe, em 8 de janeiro de 2023.

A senadora Damares Alves diz que "governo tem errado muito e comprado brigas desnecessárias". Foto: Edilson Rodrigues

“Se depender de mim, esta estratégia do governo de tentar se aproximar dos evangélicos vai flopar”, criticou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), recorrendo a uma expressão muito usada nas redes sociais para indicar fracasso.

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Ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares observou que o PT não conseguirá construir pontes com evangélicos. “O governo tem errado muito e comprado brigas desnecessárias. O Ministério da Saúde produziu nota técnica em defesa do aborto e o ministro dos Direitos Humanos (Sílvio Almeida) disse que é a favor da descriminalização das drogas. Para quê isso? Querem afastar o público conservador?”, perguntou a senadora, que é evangélica.

Padilha e Messias se reúnem com deputados da Frente Evangélica

Na prática, a tentativa de aproximação do Planalto com os evangélicos tem sido conduzida pelos ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social). Há duas semanas, Padilha e Messias se reuniram com integrantes da Frente Parlamentar Evangélica no gabinete da liderança do PSD, na Câmara, e ouviram muitas queixas.

Deputados disseram aos ministros que, quando votam a favor de alguma medida do governo, são sempre associados à defesa do aborto e das drogas. Padilha explicou que Lula não defende nenhuma dessas pautas. Chegou a entregar aos parlamentares uma lista com propostas encaminhadas pelo Planalto ao Congresso.

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“Não tem nada da pauta de costumes que seja de iniciativa do governo”, afirmou o titular de Relações Institucionais, responsável pela articulação política do governo com o Congresso.

No fim de fevereiro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, precisou suspender uma nota técnica divulgada por sua pasta, que cancelava o prazo estabelecido no governo de Jair Bolsonaro para a prática do aborto legal. Nísia alegou ter tomado conhecimento do documento somente após o anúncio.

Diante da repercussão negativa, principalmente no meio evangélico, o Planalto pediu que a ministra revogasse a nota técnica. Nísia é alvo de críticas do Centrão, que até hoje quer derrubá-la e assumir sua cadeira.

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