WASHINGTON - O Brasil formalizou sua disputa pela direção-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) com o inédito cuidado de não antecipar o nome do seu candidato. A cautela se deve ao fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ter ainda decidido se concorrerá ao posto ou se deixará a disputa para seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. De acordo com autoridades brasileiras, o candidato original de Lula, José Graziano, teria chances remotas de ser o indicado pelo governo para esse organismo sediado em Roma.
A definição sobre a candidatura brasileira para a FAO terá de esperar a sucessão de Amorim, cujo pedido de permanecer mais um ano à frente do Itamaraty foi negado pelo próprio Lula. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci é o mais cotado neste momento para assumir o Itamaraty dentre os que estão na lista da presidente eleita, Dilma Rousseff. Recentemente, foi adicionado o nome do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, um dos colaboradores de Lula que devem permanecer no governo Dilma.
O nome de maior agrado pessoal de Dilma, entretanto, é o do diplomata Antônio Patriota, secretário-geral das Relações Exteriores e ex-embaixador do Brasil em Washington. Patriota tornou-se amigo de Dilma ao longo do governo Lula e é visto pela equipe da presidente-eleita como uma opção menos traumática para a liderança do Itamaraty, por tratar-se de um membro da corporação.
Dentre essas três opções, a escolha de Patriota sugere a continuidade da política externa de Lula-Amorim. Porém, com um grau mais acentuado de pragmatismo, principalmente quanto à relação Brasil-EUA. A aposta em Palocci envolveria mudanças mais profundas, em especial na orientação da política comercial, como já foi sinalizado no seu período na Fazenda. A posição de Meirelles sobre temas de política internacional é uma incógnita. Mas, o presidente do BC tem demonstrado capacidade de negociação em foros internacionais.
Uma vez escolhido o chanceler de Dilma, Lula deverá decidir seu destino e, portanto, a candidatura brasileira para a FAO. Há mais de um ano, o presidente vinha publicamente reafirmando seu interesse em montar uma entidade, no Brasil, para trabalhar a cooperação com a África e a América do Sul em políticas de combate à fome e à pobreza.
Mas, nas últimas semanas, acentuaram-se os rumores de que o presidente estaria interessado em assumir a organização, em Roma. A escolha está programada para o final de 2011, de forma a permitir a sucessão do atual diretor-geral, o médico senegalês Jacques Diouf, em janeiro de 2012. Diouf está em seu terceiro mandato na FAO.
As candidaturas já começaram a ser apresentadas - inclusive, a brasileira, sem o nome. Lula dificilmente seria derrotado nessa disputa em função da exposição internacional em seus oito anos de mandato e dos resultados do programa Bolsa Família. Nos cálculos do governo, a mesma lógica caberia ao ministro Celso Amorim, que não tenderá a sofrer oposições severas.
Embora a direção-geral da FAO seja o menos vibrante dentre os postos das Nações Unidas, a presença de Lula tenderia a chamar a atenção para a organização, segundo fontes do governo. Para o presidente, essa posição poderá ainda funcionar como uma espécie de trampolim para cargos mais ousados no plano internacional. A decisão final, entretanto, não caberá nem a Dilma nem a Amorim. Mas, ao próprio Lula.