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Os bastidores do Planalto e do Congresso

O desafio de Simone Tebet

A terceira via não pode ficar apenas no discurso do ‘nem-nem’ nessa campanha

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Por Vera Rosa
Atualização:

Quibes, esfihas e outros quitutes árabes ornamentavam a comprida mesa de 12 lugares, na casa de Campo Grande, quando Simone entrou na sala. “Você vai ser candidata a deputada federal”, disse-lhe o pai. “Não vou, não”, reagiu a filha, então professora universitária. “Quero ser deputada estadual.”

O ano era 2002 e, à época, Ramez Tebet desfrutava de prestígio no MDB. Era presidente do Senado, havia comandado a CPI do Judiciário, que resultou na cassação de Luiz Estevão, e o Conselho de Ética durante as investigações sobre a quebra de sigilo do painel eletrônico de votação.

Senadora Simone Tebet durante coletiva de imprensa para anunciar sua candidatura à Presidência pelo MDB em maio de 2022. Foto: Eraldo Peres/AP

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Intrigado, o pai de Simone quis saber os motivos da decisão que desafiava a lógica política num momento em que ele era poderoso cabo eleitoral. “Mas por que você não quer ser candidata a deputada federal?”, perguntou Tebet.

A resposta foi simples e inesperada. “Pai, eu tenho duas filhas pequenas e quero almoçar todos os dias com elas”, afirmou Simone, ao explicar por que deixaria Brasília fora de seu mapa em sua primeira investida eleitoral. E assim foi.

Escolhida há uma semana como candidata da aliança MDB, PSDB e Cidadania para disputar a sucessão de Jair Bolsonaro (PL), Simone Tebet enfrenta agora, 20 anos depois, o desafio de mostrar a que veio.

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Pesquisas indicam que ela tem, hoje, de 1% a 3% das intenções de voto.

A terceira via tenta construir uma alternativa capaz de romper a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT), mas ainda não tem um mote para chamar de seu nessa campanha. Não basta ficar no discurso do “nem-nem”, enquanto Lula ressuscita o “nós contra eles” e Bolsonaro bate na tecla do “bem contra o mal”.

Depois de conquistar empresários e economistas, Simone cumprirá um roteiro popular, que inclui festas juninas nordestinas, passando pelo Ceará. A entrada do senador Tasso Jereissati (PSDB) como vice na chapa pode atrair votos no Nordeste, região que concentra 40 milhões de eleitores. Muitos depositam em Tasso a expectativa de convencer Ciro Gomes (PDT) a pular no barco da terceira via, uma missão quase impossível.

Nesse cenário de fogo amigo, há traições a Simone no MDB e no PSDB, principalmente no Nordeste e no Sul, onde os dois partidos estão divididos no apoio a Lula e a Bolsonaro.

Ao Estadão, a candidata disse que não reivindica palanque exclusivo, mas, sim, espaço para expor ideias. Uma delas é criar portas de saída para a desigualdade social. Não por acaso, seu livro de cabeceira é Cuidar Uns dos Outros, de Minouche Shafik. “Sempre tive que empurrar portas”, afirmou.

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Simone sabe, porém, que terá de dizer “não”, como fez quando decidiu entrar na política, se quiser avançar casas no jogo.

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