BRASÍLIA - A empresa R7 Facilities, alvo da Operação Dissímulo, da Polícia Federal, continua prestando serviços na penitenciária federal de Brasília (DF) e atrasou os salários de janeiro de trabalhadores terceirizados que atuam dentro da unidade de segurança máxima.
Em ofício de terça-feira, 11, ao qual o Estadão teve acesso, a direção do presídio pediu providências e apuração à Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) por causa das “peculiaridades do caso concreto e considerando a sensibilidade do tema para a rotina administrativa desta unidade”. Nesse presídio estão alguns dos criminosos considerados mais perigosos do País.
Procurada, a empresa não se manifestou. Em nota, o Ministério da Justiça informou que a penitenciária aguarda a formalização da impossibilidade de pagamento por parte da empresa e que, em seguida, deverá proceder ao pagamento direto dos salários.

A representação do presídio cobrou explicações da R7, recomendou que a Senappen fizesse o depósito dos salários diretamente aos trabalhadores e que abrisse uma apuração sobre o não cumprimento da obrigação pela empresa.
Na quinta-feira, 13, a empresa informou por telefone ao presídio que não teria condições de fazer os pagamentos referentes a janeiro. O Ministério da Justiça informou que, com a declaração formalizada, o que deve ocorrer ainda nesta sexta, 14, o governo deverá fazer os pagamentos aos trabalhadores.
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A R7 foi contratada para oferecer apoio técnico administrativo na penitenciária de Brasília por R$ 1,9 milhão, em março de 2023. Ao todo, são 30 trabalhadores, entre profissionais de apoio administrativo, motoristas, almoxarifes e porteiro. O contrato foi renovado em 2024, por meio de um aditivo, até março de 2025.
A assinatura desse contrato foi revelada pelo Estadão depois que a reportagem mostrou que a R7 está registrada em nome de um laranja da periferia de Brasília. A R7 também firmou contratos para fazer, entre 2022 e 2024, serviços de manutenção na penitenciária de Mossoró (RN), de onde dois presos faccionados fugiram.
A suspeita inicial era a de que obras dentro da cadeia facilitaram a fuga. A versão, mais tarde, acabou descartada. Mesmo assim, especialistas consideraram grave o indício de que a empresa de um “testa de ferro” atua dentro de presídios federais de segurança máxima. A preocupação é com quem pode estar por trás do negócio e do controle de funcionários terceirizados que acessam as dependências das penitenciárias (relembre as reportagens abaixo).
Como revelou o Estadão, a R7 está em nome de um laranja que vive na periferia de Brasília, recebeu o auxílio emergencial, não soube dar informações sobre a operação da empresa e em 2022 tinha pouco mais de R$ 500 em suas contas bancárias. Gildenilson Braz Torres assumiu a empresa em fevereiro de 2023. Logo em seguida, assinou o contrato para serviços na penitenciária de Brasília e um aditivo para o presídio de Mossoró.
O Ministério da Justiça informou que seguirá recomendação da CGU e avaliará riscos na continuidade da prestação dos serviços.
Relembre a revelação do 'esquema das terceirizações'
Antes de Torres, a firma estava em nome de um brigadista, também morador da periferia do Distrito Federal, que deu informações conflitantes sobre o negócio. Wesley Fernandes Camilo disse que comprou a empresa milionária sem desembolsar nada. Segundo ele, a firma foi repassada com créditos não recebidos e ele trabalharia para recuperá-los. Em seguida, repassou a empresa para Gildenilson.
A reportagem perguntou a Camilo o motivo que o fez abrir mão do negócio. “O meio é fogo, irmão. É só você pesquisar. Para ficar num meio sujo e perverso, melhor sair e passar para a mão dos caras”, disse, negando-se a detalhar a que se referia.

A empresa R7 é alvo de investigação da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF). As instituições deflagraram, na terça-feira, uma operação que tinha a R7 como um dos alvos. São apurados crimes de frustração do caráter competitivo de licitação, uso de documentos falsos, falsidade ideológica e estelionato contra a administração pública.
Foram cumpridos 26 mandados de busca e apreensão, e duas pessoas foram presas por posse ilegal de arma: o ex-deputado distrital Carlos Tabanez (MDB) e o empresário Edison Araújo Junior. Ambos são suspeitos de estarem por trás do esquema que envolve ainda outras empresas de terceirização que faturam contratos milionários em Brasília.
A R7 tem mais de 50 contratos com órgãos do governo federal, com milhares de empregados. Questionada se vai recomendar a rescisão desses contratos ou a inabilitação da empresa em novas licitações, a CGU disse somente que enviou ofício às pastas com orientações sobre “a necessidade de avaliar riscos na continuidade da prestação de serviços pela empresa, considerando possíveis impactos na execução contratual e, principalmente, no cumprimento das obrigações previdenciárias e trabalhistas com os empregados terceirizados”.
E acrescentou que “a prioridade é proteger esses trabalhadores e trabalhadoras, garantindo que recebam integralmente seus direitos e evitando que fiquem desamparados diante de eventuais problemas na execução dos contratos”.
Relembre as reportagens do caso
- Grupo responsável por obra em presídio de Mossoró tem contratos milionários com empresas fantasmas
- Empresa de obra em presídio está por trás de esquema suspeito de fraude bilionária em Brasília
- Ex-deputado do DF indica funcionários para empresa de ‘laranja’ que atua na prisão de Mossoró
- Empresa de ‘laranja’ que faz obra em Mossoró também atua na penitenciária de Brasília
- Empresas triplicaram valor recebido do governo depois de passar às mãos de laranjas
- Lewandowski pede ‘rigorosa apuração’ sobre empresa de laranja que atua em prisão de Mossoró
- Prisão de Mossoró: governo contratou empresa de ‘laranja’ para obra no presídio que teve fuga do CV
- CGU abre investigação sobre empresas de ‘laranjas’ suspeitas de criar ‘máfia da terceirização’