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Veja quais são os ministérios com mais militares em cargos civis de chefia

Estudo do Ipea mostra que presença de integrantes das Forças Armadas em postos civis aumentou 193% sob Bolsonaro

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Por Vinícius Valfré
Atualização:

BRASÍLIA - Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrando que o número de militares em cargos civis quase triplicou no governo de Jair Bolsonaro, na comparação com 2013, também aponta a distribuição dos membros das Forças Armadas pelos ministérios. Os maiores crescimentos são registrados em pastas que cuidam de áreas consideradas estratégicas na gestão Bolsonaro. Na lista estão os Ministérios da Economia, Meio Ambiente e Saúde.

Os dados dizem respeito aos cargos de Direção e Assessoramento (DAS) e Funções Comissionadas do Poder Executivo (FCPE), como são conhecidos os postos de confiança do governo federal. Segundo nota técnica do Ipea, eles são o subconjunto de cargos mais representativos dentre aqueles em que se observou ocupação por militares entre 2013 e 2021.

Na gestão do presidente da República Jair Bolsonaro o número de militares em cargos de confiança do governo aumentou 193%. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Conforme os dados do estudo, o Ministério da Economia tinha um militar em 2013. Em 2021 eram 84. Foi o maior aumento percentual entre todas as pastas, superior a 8000%.

No Ministério da Saúde, os militares passaram de 7 para 40, um crescimento de 471%. Na gestão do general Eduardo Pazuello, na parte dramática da pandemia, ele levou colegas de farda para a pasta.

Os resultados e as investigações da CPI da Covid, no Senado, fizeram com que a cúpula do Exército precisasse atuar nos bastidores para que Pazuello tentasse descolar sua imagem como ministro das Forças Armadas.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o presidente Jair Bolsonaro em ato político em maio de 2021 no Rio de Janeiro. Foto: Reuters

O Ministério do Meio Ambiente também recebeu uma quantidade grande de comissionados militares. Era 1 há nove anos. No ano passado, o total passou para 21. Houve ainda uma alta de 650% nas funções comissionadas da Educação, com salto de 2 militares para 15. Na Defesa, no mesmo período, o crescimento foi de 33,5%, pois os militares eram 167 e passaram a ser 223.

Entre 2013 e 2018, eram cerca de 300 militares nessas funções. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, a partir de 2019, o número saltou para 623. Em 2021, chegou a 742.

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Para Piero Leirner, professor titular de Antropologia da UFSCar que se dedica ao estudo do contexto militar no Brasil, os militares promovem, com Bolsonaro, um aparelhamento do Estado. E esse movimento acaba sendo ofuscado pela influência do Centrão.

“Há uma militarização da política que não é recomendada em nenhum nível. O resto, isso que se chama de “bolsonarismo” entre militares, é uma ilusão necessária para esse sistema se manter de pé”, frisou.

Na avaliação do especialista, há uma inegável associação entre a atuação dos militares no governo e os resultados obtidos pela atual gestão.

“Especialmente tomando a gestão da Saúde durante o período Pazuello (general da ativa do Exército), apesar de ser bastante óbvia a associação entre o governo propriamente dito e as Forças Armadas, houve uma forte operação de ‘comunicação social’ para blindagem deles em relação à percepção dessa associação. Para isso, entre outras coisas, eles saturaram a opinião pública com mensagens do tipo ‘ele [Bolsonaro] manda, eu obedeço’. Se fica difícil perceber que há uma ‘sociedade’ entre Forças Armadas e Governo, mais difícil ainda é perceber que na verdade há uma hierarquia: generais mandam, capitão obedece”, comentou.

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Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz não vê vinculação direta entre as Forças Armadas e o governo Bolsonaro. Para ele, a sociedade faz uma associação que na prática não existe e Bolsonaro tenta explorar para si o prestígio dos militares. “Os militares da reserva e uns raros da ativa que estão em postos de nomeação não representam as Forças Armadas e não têm nenhuma influência nas decisões e no comportamento das Forças. As decisões são prerrogativas exclusivas de seus comandantes”, frisou. “Pelo número de militares no governo, é normal o público fazer essa associação, mas, na realidade, ela não existe. Por outro lado, é conveniente o governo blefar sobre esse “vínculo”, para explorar politicamente o prestígio das Forças Armadas”, acrescentou.

Os ministérios que mais ganharam militares em cargos de confiança:

Ministério da Economia

2013 - 1

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2021 - 84

Ministério da Educação

2013 - 2

2021 - 15

Ministério do Melo Ambiente

2013 - 1

2021 - 21

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Ministério de Minas e Energia

2013 - 2

2021 - 19

Ministério da Justiça

2013 - 7

2021 - 50

Ministério da Saúde

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2013 - 7

2021 - 40

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