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Prefeitura de SP projeta carnaval com 15 milhões de pessoas e sem restrições em 2022

Gestão Ricardo Nunes abriu inscrições para blocos, que desfilarão durante oito dias de programação; Secretaria da Saúde destaca que realização dependerá de situação da pandemia

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Por Priscila Mengue
Atualização:
Carnaval de rua de São Paulo chegou a 15 milhões de foliões em 2020 Foto: Carla Carniel/Estadão

“Neste momento, iniciamos o planejamento do evento (com a publicação de editais; uma comissão planeja o evento desde julho). A sua realização dependerá do quadro sanitário do ano que vem", afirmou. Ele e outros secretários presentes na coletiva admitiram que é inviável ter um controle sanitário da covid-19 em um evento deste porte. 

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Questionado sobre o assunto, Aparecido destacou a redução nos números de óbitos e internações, além de estimar que 90% da população paulistana estará com o esquema vacinal completo (duas doses ou a vacina de dose única) até 15 de outubro, número que chegaria perto de 100% até o fim do mês. “A cidade está muito próxima do controle da pandemia.” Ele admitiu que seria inviável haver um controle de vacinados entre o público. “Em um evento desta natureza, de grande participação popular, é evidente que fica muito difícil ter controle de apresentação de comprovação vacinal”, comentou. Ele salientou que a expectativa é de avanço da cobertura vacinal em todo o País até o ano que vem.

Com o crescimento nos últimos anos, o carnaval paulistano tem atraído foliões de outros locais. Uma pesquisa do Observatório do Turismo, da Prefeitura, apontou que 73,6% dos foliões moram na cidade e que 50,4% vai a mais de um desfile. Entre os visitantes, 59,3% vivem na Grande São Paulo, 20,7% no interior paulista, 19,4% em outros Estados e 0,6% fora do País.  Outro dado apontado no levantamento é que o público majoritariamente utiliza transporte coletivo para ir aos desfiles, principalmente ônibus ou trem (51,4%) e ônibus (31,6%). Durante a programação, são frequentes casos de estações e veículos com altíssima lotação.

A média móvel é de 498 mortes diárias por covid-19 no País, calculada com base nos dados dos últimos sete dias. Ao todo, apenas 44,2% da população brasileira está com o esquema vacinal completo. A estabilização dos números da doença neste patamar tem preocupado parte dos especialistas.

Maioria do público se concentra em megablocos, aponta Prefeitura

Na coletiva, a Prefeitura mostrou ter desenvolvido um cálculo para estimar a capacidade e quantidade de públicos dos desfiles, com a classificação da aglomeração em cinco níveis (o mais alto é de 6 pessoas por metro quadrado). Estes dados serão utilizados exclusivamente para o planejamento de infraestrutura, não para a contenção de aglomerações. Segundo dados apresentados pelo secretário municipal das Subprefeituras, Alexandre Modonezi, 85% do público frequenta cerca de 10% dos blocos, de médio e grande porte. Os chamados megablocos geralmente são liderados por agremiações populares (como o Acadêmicos do Baixo Augusta, por exemplo) e artistas famosos, como a cantora Daniela Mercury e outros.

Ao todo, a edição de 2020 teve 570 blocos e 670 desfiles. A maioria dos desfiles fica concentrada especialmente na região central (240) e zona oeste (224), majoritariamente nas subprefeituras Sé, Pinheiros e Lapa. O período de inscrições de blocos estará aberto de 15 de outubro a 5 de novembro, com divulgação do resultado em 28 de novembro. O edital de patrocínio do evento será publicado em 18 de outubro. Os percursos dos blocos não serão alterados, com os desfiles de maior porte concentrados na Rua da Consolação, na Avenida Tiradentes, no Parque do Ibirapuera e em outros sete pontos.  Durante a coletiva, a Prefeitura também anunciou a instalação de tendas temáticas contra a violência contra a mulher, o assédio, o racismo e a LGBTfobia, além de uma voltada ao cuidado infantil. Serão distribuídas pulseiras para a identificação de crianças e adolescentes, além de camisinhas.

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Embora não tenha sido citado na coletiva, a Secretaria das Subprefeituras firmou um contrato de seis meses com a FDTE no fim de agosto para a elaboração de um “estudo para planejamento estratégico através da disciplina da engenharia da complexidade, visando otimizar as ações de segurança e mobilidade urbana em eventos de grande porte, em especial o Carnaval de Rua”, com o valor de R$ 430 mil. Além disso, em 23 de setembro, a Prefeitura abriu um pregão para contratar empresa para oferecer banheiros químicos nos desfiles.  Também para o ano que vem, produtoras preparam festivais com a temática carnavalesca para janeiro, com apresentações de blocos e artistas, em locais como o Canindé e o Memorial da América Latina. A venda de ingressos já está aberta. Os desfiles das escolas de samba estão previstos de 25 a 28 de fevereiro, com o retorno das campeãs ao sambódromo em 5 de março. Nesta terça, a São Paulo Turismo, vinculada à Prefeitura, publicou o edital de chamamento público para exploração comercial dos camarotes nas edições de 2022, 2023 e 2024. Parte das agremiações tem retomado aos poucos o ritmo de trabalho, com seleção de integrantes para comissão de frente, apresentação de fantasias e ensaios fechados.

Coletivo de blocos e médicos comentam decisão

Coordenador do Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval, José Cury considera importante a movimentação da Prefeitura a respeito da organização do próximo carnaval. Para ele, a abertura de inscrições e a definição das condições do evento auxiliarão na preparação e dimensionamento de como será a próxima edição. 

“Como parte de um coletivo de quase 200 blocos, vejo que é ótimo planejar e estruturar. Agora, se vai ter ou não, estamos esperando ainda. Diferentemente de escola de samba, o carnaval de rua é outra coisa, não é controlável (do ponto de vista sanitário, com restrição de acesso e afins)”, explica. “Estamos mais pela precaução do que pelo liberou geral. Daqui a dois meses, talvez o quadro será outro e já se saberá o tamanho dos inscritos.”

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Ele comenta que alguns blocos estão discutindo se irão se inscrever, por causa da pandemia. “É o momento de prospectar quem tem interesse que o carnaval volte. Tem muita gente esperando um pouco mais, até novembro, para ver se melhora a condição vacinal”, comenta. “A pandemia está no comando, não pode ser esquecida, nem menosprezada.”

Entre os especialistas ouvidos pelo Estadão, as opiniões sobre a realização do carnaval de rua foram distintas. Médico sanitaristas e professor na USP, Gonzalo Vecina Neto se diz “totalmente temoroso”. Para ele, a situação não terá mudado tanto em quatro meses e a vacinação chegará a cerca de 60% ou 70% até fevereiro. “O grande problema é que carnaval de rua e festa de réveillon não tem como controlar”, afirma.

Como exemplo, cita outros países que flexibilizaram medidas com o avanço da vacinação, mas que não viveram uma experiência do porte de um carnaval de rua brasileiro, com milhões de pessoas aglomeradas. “Não dá para ter um evento (deste porte) sem máscara e sem controle”.

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O médico considera, por outro lado, que a realização dos desfiles de escolas de samba seja viável, desde que mediante a adoção de protocolos sanitários, como a vacinação completa dos componentes, a apresentação de comprovante de imunização pelos espectadores e outros.

Infectologista e professora da Unicamp, Raquel Stucchi considera possível a realização do carnaval de rua em 2022 ao se considerar a redução de casos graves e, principalmente, o avanço da vacinação. Ela exemplifica que, diferentemente do ano passado, em que os números voltaram a subir após uma queda em novembro, desta vez a vacinação possivelmente conterá os números de internações e óbitos mesmo se a transmissão aumentar com as flexibilizações.

(O momento) Nos permite sim fazer essa programação, com muita chance de poder se concretizar, com a consideração que pode ser suspensa (em caso de agravamento da pandemia)”, comenta. Para ela, o principal fator que poderia impactar nesta situação é a disseminação de uma variante de preocupação que drible os efeitos da vacina. 

A docente aponta que o ideal é alcançar cerca de 80% do esquema vacinal completo até o carnaval, com a aplicação da dose de reforço na população idosa, imunossuprimidos e outros grupos mais suscetíveis a desenvolver casos graves.  Mas ressalta: “Precisa diminuir o número de internações e o de óbitos, porque 500 mortes por dia ainda é muito.”

Rio também anunciou carnaval de rua de 2022

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), também tem sinalizado a possibilidade de realizar um carnaval de rua sem restrições em 2022 se as condições sanitárias permitirem. Em entrevista recente ao jornal O Globo, ele disse que não “a ciência avançou, venceu e permitiu que se abra”.

No Recife, o prefeito João Campos (PSB) anunciou no fim de setembro a criação de uma comissão interna para tratar do carnaval. A realização do evento no ano que vem não está definida e também dependerá do parecer de autoridades sanitárias.

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A comissão está iniciando processos administrativos voltados ao desenvolvimento do evento. “O objetivo é garantir o cumprimento de prazos, a articulação externa e todas as demandas pertinentes ao ciclo carnavalesco”, destacou a Prefeitura após a criação da comissão.

Já o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), disse recentemente que a definição sobre a realização do evento será tomada entre o fim de outubro e novembro. Ele tem destacado que a vacinação é um dos pontos mais importantes para que isso seja possível.

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