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Antiviral contra dengue começará a ser testado em animais no próximo mês

Expectativa é de que primeiros resultados dos estudos pré-clínicos fiquem disponíveis no segundo semestre de 2024; ainda não existe um tratamento específico para a dengue

Por Victória Ribeiro
Atualização:

A Universidade de Stanford (EUA) e a Ciência Pioneira, iniciativa sem fins lucrativos de apoio à pesquisa científica no Brasil vinculada ao Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), anunciaram o início dos testes pré-clínicos de um antiviral para combater o vírus da dengue.

Atualmente, não existe um tratamento específico para a doença, que causa transtornos no Brasil todos os anos. Mas, em 2024, a dengue chega a proporções consideradas inéditas: até o momento, já temos mais de 1,6 milhão de casos registrados no Brasil.

Dengue ainda não tem tratamento específico. Foto: Sérgio Castro/Estadão

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Victor Geddes, pesquisador de pós-doutorado em genética e fellow da Ciência Pioneira revela que esse estudo é uma extensão de pesquisas voltadas ao desenvolvimento de antivirais para hepatite. Posteriormente, os mesmos compostos foram testados para outros vírus, incluindo arbovírus como dengue, zika e chikungunya – e mostraram resultados positivos em testes realizados em células de laboratório.

Sob a liderança de Jeffrey S. Glenn, professor de imunologia e microbiologia em Stanford, Geddes antecipa que o próximo estágio avaliará a eficácia do antiviral em camundongos. Os testes estão previstos para começar em abril, com o suporte da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Embora a expectativa seja de que os primeiros resultados estejam disponíveis no início do segundo semestre deste ano, Geddes reconhece que um dos principais desafios enfrentados durante o desenvolvimento é encontrar uma molécula que não só seja eficaz contra os quatro sorotipos da dengue, mas também seja bem tolerada pelos modelos animais.

Vale destacar que já existe outro antiviral em estudos para a dengue. Ele foi desenvolvido pela farmacêutica Janssen e os resultados de testes clínicos de fase 2 ficaram prontos em outubro de 2023. “Mas o mecanismo de atuação é diferente”, diz Geddes.

Vacina x antiviral

Conforme explicado pelo pesquisador, as vacinas têm como objetivo fundamental treinar o sistema imunológico para desenvolver respostas eficazes contra o vírus, constituindo uma medida preventiva que requer uma janela de imunização, ou seja, um tempo necessário para que o corpo produza os anticorpos necessários.

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Em relação à vacina Qdenga, aprovada para uso no Brasil e incorporada ao SUS, é imprescindível a administração de duas doses com um intervalo de três meses para assegurar uma imunização eficaz. Mas, devido à baixa disponibilidade de doses na rede pública no momento, ficou definido que as vacinas contemplarão crianças e adolescentes de 10 a 14 anos de um número também reduzido de cidades – serão 521 municípios.

Cabe destacar ainda que a vacinação ocorre em meio a um aumento explosivo de casos de dengue antes do período esperado. A soma desses fatores faz especialistas apontarem que, agora, a vacina dificilmente vai apresentar um impacto significativo de saúde pública, no sentido de a vacinação ajudar a suprimir o avanço da doença, o que só pode ser esperado para o futuro.

Já em relação aos antivirais, o efeito é mais imediato, combatendo diretamente o vírus. Hoje, o tratamento da dengue depende basicamente de hidratação intensa. Daí a importância de termos remédios específicos contra a doença. Geddes faz questão de lembrar que a eficácia de um medicamento fica restrita ao período de administração – ou seja, não proporciona proteção duradoura como acontece com as vacinas.

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