Burnout: veja sintomas e saiba a diferença entre a doença e ansiedade

Organização Mundial da Saúde reconhece o burnout como ‘fenômeno ocupacional’, esgotamento profissional pode afetar as saúdes mental e física

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Por Redação
Atualização:

O apresentador Yudi Tamashiro, de 30 anos, se manifestou nas redes sociais nesta quinta-feira, 25, sobre o diagnóstico de possível Burnout. Ele foi hospitalizado após dores na região do estômago, boca ressecada e formigamento. As causas seriam o estresse causado pela nova rotina - ele agora aposta na carreira de empresário.

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Em 2019, a Organização Mundial da Saúde reconheceu o burnout como “fenômeno ocupacional”, mas o esgotamento profissional ainda pode afetar a saúde mental e física e está intimamente ligado a depressão e ansiedade.

Quando Jacinda Ardern anunciou no ano passado a decisão de renunciar ao cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia, ela não citou o burnout como o motivo. Mas ela o descreveu. “Sei o que esse trabalho exige e sei que não tenho mais energia suficiente no meu tanque para fazer justiça a ele”, disse. “É tão simples.”

O burnout é comum entre profissionais de saúde, estudantes de medicina e cuidadores. Mas também pode ser experimentado em outras profissões. Em 2022, o guitarrista do Fall Out Boy, Joe Trohman, anunciou que está “se afastando” da banda por causa de sua saúde mental. E a tenista Naomi Osaka estava no auge em 2021, quando anunciou que precisava de uma pausa no esporte.

Aqui está o que os especialistas em saúde mental têm a dizer sobre o burnout, como identificá-lo e como lidar.

O que é burnout?

Burnout “pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes”, disse Jud Brewer, diretor de pesquisa e inovação do Mindfulness Center da Brown University e diretor médico da Sharecare, empresa de saúde digital. “O esgotamento se aplica a qualquer um. Realmente, é quando alguém não está mais funcionalmente à altura da tarefa.”

De acordo com o Maslach Burnout Inventory, uma ferramenta de diagnóstico amplamente aceita, o burnout ocorre quando três fatores estão presentes ao mesmo tempo: exaustão emocional, despersonalização e diminuição do senso de realização pessoal.

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Burnout é frequentemente descrito como sentir-se emocionalmente esgotado pelo trabalho e simplesmente não se importar tanto, sentir-se cínico ou parecer insensível ou distanciar-se das situações.

“Os médicos, por exemplo, têm a reputação de não serem as pessoas mais calorosas”, disse Brewer. “Alguns são ótimos e, muitas vezes, quando estão esgotados, apenas se distanciam de seus pacientes, e isso é lido como insensibilidade.”

Burnout foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde em 2019 e está intimamente ligado a depressão e ansiedade Foto: Pixelbay

Qual é a sensação do burnout?

Elissa Epel, professora do departamento de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade da Califórnia, em São Francisco, disse que o discurso de demissão de Ardern oferece uma descrição vívida do esgotamento.

“Adoro a analogia que ela fez com ‘meu tanque está vazio. No burnout parece que seu tanque está mais do que vazio”, disse Epel, autora de “The Stress Prescription: Seven Days to More Joy and Ease”. “Na verdade, você está sofrendo, porque perdeu sua energia. Você a perdeu fisicamente. E também perdeu um pouco da motivação que o ajudou a abastecer o tanque por anos ou décadas. Portanto, é muito desmoralizante sentir-se esgotado”.

O burnout não é definido pela exaustão física ou apenas pelo cansaço de longas horas de trabalho. Mas as pessoas com esgotamento muitas vezes se sentem exaustas, disse Epel.

“Sentir-se emocionalmente exausto significa que você não está se sentindo”, acrescentou. “Você não está mais em contato com suas emoções. E, de fato, suas emoções ficaram restritas e você se sente entorpecido, quando costumava se importar tanto.”

O esgotamento pode levar a uma sensação de sobrecarga.

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“Não somos mais capazes de sentir emoções específicas, e nosso corpo está respondendo a essa mensagem sobrecarregada que a mente está enviando, mantendo o sistema de resposta ao estresse em alerta máximo, mesmo quando dormimos”, disse Epel.

Como sei se estou realmente esgotado ou apenas trabalhando duro?

Uma maneira de saber se você está com burnout é simplesmente pensar em seu trabalho e avaliar sua reação, disse Brewer.

“O que acontece?”. Uma pessoa pode estar menos entusiasmada com o trabalho e não se esgotar. Mas se a reação for “Oh, Deus. Eu temo isso”, e a pessoa está tentando evitar o trabalho, então esses podem ser sinais de burnout.

Qual a diferença entre burnout, ansiedade e depressão?

Embora o burnout esteja intimamente ligado a ansiedade e a depressão, existem diferenças distintas. Algumas pessoas até se referem ao esgotamento como “depressão no trabalho”, disse Epel.

Alguns dos sintomas físicos são os mesmos, como sentir-se cansado, sem energia, irritado, triste ou ansioso.

“A pessoa também pode desenvolver um sentimento de desesperança sobre seu papel e sua eficácia e sentir que as coisas nunca vão mudar no trabalho”, disse Epel. “E isso é um paralelo com o pensamento depressivo, em que sentimos desesperança e não vemos nenhuma luz no fim do túnel.”

A depressão geralmente se concentra em si mesmo e em se sentir inútil ou autocrítico, disse Epel. Burnout é centrado no “estresse crônico insustentável das demandas do trabalho, seja trabalho não remunerado em casa, como cuidador ou demandas do seu trabalho diário”, disse ela.

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Epel disse que estudos com residentes cirúrgicos identificaram altos níveis de suicídio e depressão como resultado do esgotamento.

“Portanto, o estresse crônico é, por si só, prejudicial para nossos corpos e nosso bem-estar emocional”, disse ela. “O burnout é uma resposta específica ao estresse crônico avassalador, geralmente do trabalho. E a depressão é uma resposta emocional mais grave ao estresse crônico e ao esgotamento.”

O que posso fazer para lidar com o burnout? Desistir ou renunciar são as únicas opções?

As razões por trás do burnout podem ser diferentes para cada pessoas, disse Brewer. Como resultado, é importante que as pessoas tentem entender a causa raiz.

Fatores de estilo de vida, como dieta pobre, falta de sono e falta de tempo para se exercitar, podem desempenhar um papel importante no esgotamento. E questões de saúde mental, como ansiedade e depressão, devem ser consideradas. Coisas sobre as quais as pessoas têm menos controle, como longas horas de trabalho, prazos impossíveis e pouco tempo para se recuperar do trabalho, podem desempenhar um papel no esgotamento, disse ele.

“É realmente olhar para dentro e ver o que está levando a esse esgotamento e, em seguida, chegar a essas causas e ver o que pode fazer”, disse Brewer. Focar em hábitos saudáveis e tratar a ansiedade, por exemplo, podem ajudar. “Existem elementos individuais relacionados ao esgotamento e há elementos institucionais”, disse ele.

Embora abordar questões individuais possa ajudar, o problema geral não será resolvido se as mudanças não forem possíveis no local de trabalho.

“A maneira mais dramática de lidar com o burnout é deixar o local de trabalho”, disse Epel. “E é lamentável que as pessoas muitas vezes tenham essa como a única opção, porque, como indivíduos, não podem mudar o sistema e as estruturas existentes que estão criando uma cultura de esgotamento”. Já os gerentes, no entanto, podem fazer a diferença.

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“Acho que os gerentes em todos os níveis podem mudar o ambiente para mitigar a cultura do burnout”, disse ela. “E parte disso é gerenciar horários diários para torná-los flexíveis, fornecer pausas necessárias, incentivar uma cultura de bem-estar, modelando sua própria vulnerabilidade ao estresse.”

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