A Campanha Nacional de Vacinação contra pólio neste ano será feita em setembro e com um novo formato, bem mais reduzido do que em anos anteriores. Em vez de se vacinar todas as crianças entre 6 meses e 5 anos com o imunizante oral, a mítica “gotinha”, a meta agora será atender apenas o grupo desta faixa etária que não está com o esquema vacinal completo.
A vacina contra pólio deve ser dada em cinco doses. Três delas são injetáveis e devem ser aplicadas aos 2, 4 e 6 meses. A “gotinha” deve ser dada como reforço, aos 15 meses e quatro anos. De acordo com a pasta, somente quem não estiver com esse esquema completo deve receber uma dose no posto, no dia da campanha.
O Ministério da Saúde atribuiu a mudança na indicação da vacina a uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A meta do governo é erradicar o uso da vacina oral até 2020. Como a tarefa exige uma adequação tanto do sistema de produção de vacinas quanto dos postos de imunização, a estratégia adotada foi fazer a mudança de forma gradual.
A data da Campanha de Vacinação mais enxuta também foi alterada, atrasada de agosto (como é a tradição no País) para setembro. O Ministério da Saúde alegou que a mudança no calendário teria sido uma estratégia para evitar que a campanha, que todos os anos mobiliza grande número de pessoas em todo o Brasil, fosse prejudicada em razão dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
Semana passada, no entanto, integrantes do próprio Ministério da Saúde afirmaram que o produtor da vacina, o laboratório Biomanguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz, teria atrasado a produção do imunizante. Oficialmente, no entanto, a pasta afirma que o novo cronograma para produção da vacina não foi um fator determinante para a escolha do mês de setembro para a campanha.
Sem efeito. O Ministério da Saúde afirmou ainda que a mudança não traria nenhum efeito negativo para as crianças. O Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o Certificado da Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem em 1994. O último caso da doença registrado no País foi em 1990.
Embora não haja casos no Brasil, a vacinação precisa ser mantida, pois o vírus continua a circular em outras partes do mundo. Especialistas planejam erradicar a doença até 2018.
Além da redução da indicação do uso da “gotinha”, o Ministério da Saúde recomendou que a Campanha de Vacinação deste ano estenda o público-alvo e reforce a mobilização para atualizar a vacinação de crianças entre 9 e 14 anos.
A troca de vacina contra pólio pela injetável, que já vem ocorrendo em alguns países, é recomendada pelo fato de ser mais segura: ela é produzida com vírus morto.
A Sabin, por sua vez, é feita com vírus atenuado - o que traz um risco, embora muito raro, de a criança desenvolver a doença, chamada pólio vacinal. O risco, no entanto, é muito baixo diante das 450 milhões de doses da vacina aplicadas.
Programa. O programa de imunização brasileiro sempre foi considerado como um ponto alto do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, nos últimos dois anos, em razão de mudanças nas regras para fabricação do produto e da necessidade de adequação de fábricas, além de faltas esporádicas de insumos, a produção de alguns produtos caiu de forma significativa levando, em consequência, à falta temporária de vacinas importantes para o calendário infantil.
Nos últimos meses de 2015 e início deste ano, por exemplo, foram registrados problemas de abastecimento das vacinas DTP (tríplice bacteriana), BCG (tuberculose) e hepatite A. Problemas também foram encontrados com a vacina de febre amarela e antirrábica.
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