PUBLICIDADE

Clientes de planos de saúde relatam recusa de exames para detectar coronavírus

Redes credenciadas estariam oferecendo serviço apenas de forma particular, com possibilidade de reembolso

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela

SOROCABA - Clientes de planos de saúde relatam recusas e dificuldades na marcação de exames para diagnóstico do novo coronavírus. Redes credenciadas não estariam oferecendo o exame pelo plano, apenas de forma particular, com possibilidade de reembolso, mesmo após a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinar a obrigatoriedade da cobertura por parte de convênios. A Associação Brasileira dos Planos de Saúde (Abramge) afirma que os testes são indicados apenas para casos graves que precisam de internação. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) disse, em nota, que diante da evolução de casos, pode haver falta de kits de diagnóstico no País e não é possível dizer que houve negativa de cobertura. 

A publicitária e digital influencer Juliana Severo, de 38 anos, após apresentar sintomas da doença, fez contato com o plano de saúde para saber em quais locais o exame poderia ser feito, mas os funcionários não souberam responder. Ao ligar para a rede credenciada, foi informada que o hospital só oferecia o serviço de forma privada. “Estava com uma tosse que não parava. Fui ao médico, ele me passou algumas medicações, retornei para casa e fiquei de repouso. Poucos dias depois, a tosse ainda permanecia e, preocupada, liguei para o hospital em que fiz a consulta e perguntei se realizavam o exame para a covid 19”, relatou.

'Estado'lançou um boletim diáriosobre os principais acontecimentos da crise Foto: WILTON JUNIOR / ESTADAO

PUBLICIDADE

Segundo ela, o atendente informou que sim, mas o exame não era coberto pelo plano. Ela voltou a ligar para o plano de saúde e, após 25 minutos de espera, o atendente informou que não saberia dizer qual o hospital da rede credenciada poderia cobrir o exame. “Vi pelo aplicativo que o valor do exame, de R$ 200, poderia ser reembolsado. Por sorte, voltei ao hospital e o médico solicitou tomografia, que descartou o coronavírus. O diagnóstico foi de pneumonia. Sigo em casa, aliviada pelo resultado, mas ainda preocupada por estar no grupo de risco e com essa incerteza sobre o exame.”

O estudante J.G., de 23 anos, apresentou sintomas gripais e, preocupado com o coronavírus, entrou em contato com o ambulatório do hospital credenciado pelo seu plano de saúde para fazer o exame. A informação que recebeu foi de que o hospital não estava realizando exames para coronavírus pelo plano de saúde, a não ser de casos graves, com entrada pelo setor de emergência. J. acabou fazendo o teste para coronavírus em unidade da rede pública e foi colocado em quarentena. Após sete dias completados nessa quinta-feira, 19, ele já não apresentava qualquer sintoma, mas ainda não recebeu o resultado.

Em outro caso, uma moradora de Sorocaba apresentou sintomas, como espirro, tosse e dor no corpo e, após acionar o plano de saúde, foi encaminhada a um hospital. Ela conta que, após ser atendida por uma médica, teve o exame negado. A paciente, que trabalha em São Paulo, procurou um hospital da capital, também credenciado pelo seu plano, mas conseguiu fazer só o exame conhecido como ‘painel viral’, que não é específico para coronavírus. Ela chegou a divulgar o caso em rede social, mas pediu para não ser identificada, pois tem filhos em idade escolar.

De acordo com o advogado Marcos Patullo, especialista em Direito à Saúde, o beneficiário que, mesmo com o pedido médico, encontrar dificuldade para obter autorização da operadora para realizar o teste, deve tentar solucionar o impasse com a operadora e, permanecendo o problema, registrar reclamação na ANS. “A ANS estabeleceu uma resolução normativa regulamentando a cobertura obrigatória. O consumidor não pode ser penalizado pela falta de entendimento entre a operadora e a rede credenciada.”

Associação diz indicar testes só para casos graves; ANS destaca escassez de kits

Publicidade

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) informou que o exame de detecção do coronavírus é coberto para todos os beneficiários de planos de saúde com segmentação ambulatorial, hospitalar ou referência e deve ser feito de acordo com diretrizes definidas pelo Ministério da Saúde, que atualmente, devido ao aumento expressivo de suspeitas, indica somente para casos graves que necessitam de internação. Conforme a Abramge, neste momento de crescente receio por parte da população de contaminação pelo covid-19, é fundamental que esse protocolo seja reiterado pelo Ministério da Saúde e ANS.

A ANS informou que, desde o último dia 13, está incluído no rol de cobertura obrigatória dos planos o exame de coronavírus, que deve ser feito mediante indicação médica e nos casos previstos nos protocolos estipulados pelo Ministério da Saúde. “No entanto, diante da evolução do número de casos suspeitos e prováveis no país, é possível que em algumas localidades comece a faltar kits para os testes. Nesses casos, não há como considerar que houve negativa de cobertura e a demora na realização do exame é justificável."

O órgão informou também acompanhar e monitorar essa situação, realizando esforços, juntamente com o ministério e as operadoras de planos de saúde, para que essa crise seja amenizada e finalizada o quanto antes. “É relevante destacar que, de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, nos Estados onde há transmissão comunitária, o teste deve ser feito apenas em pacientes internados em estado grave. Hoje, há seis Estados com transmissão comunitária: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Santa Catarina, Pernambucoe Rio Grande do Sul.”

Ainda segundo a agência, “o mais importante a ressaltar neste momento é que fazer o exame não altera a conduta a ser adotada na sequência. Ou seja, se a pessoa tiver sintomas, deverá se manter isolada e tratar tosse, febre, em casa, conversando com seu médico e deixando para recorrer ao pronto atendimento somente em caso de dificuldades para respirar.”

PUBLICIDADE

Informou ainda que o tratamento para a covid-19 tem cobertura nos planos, conforme o tipo de contrato: consultas, exames e terapias (plano ambulatorial) e internação (hospitalar). “Estamos vivendo uma situação atípica, então é importante manter a calma e saber que o melhor a fazer é o isolamento como forma de proteção, manter as mãos higienizadas e orientar que todos ao seu redor façam o mesmo."

Conforme o ministério, os laboratórios centrais de saúde pública de 26 Estados e do Distrito Federal estão aptos, desde a quarta-feira, 18, a realizarem exames para o coronavírus, como parte do esforço da pasta no enfrentamento à doença. “A medida é importante porque descentraliza o diagnóstico do coronavírus para todo o país”, informou em nota. Segundo o Ministério, as capacitações que estavam sendo realizadas desde fevereiro foram finalizadas nesta semana.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.