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AstraZeneca some dos postos, e governo de SP ameaça ir ao STF contra União

Falta para aplicação da 2ª dose se ampliou nesta sexta, afetando 1 milhão de pessoas. Governador alega que já enviou ofícios ao Ministério da Saúde, que rebate dizendo que Estado utilizou como primeira dose as vacinas destinadas à dose dois

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Por Felipe Resk e Ítalo Lo Re

SÃO PAULO - Quase todos os postos de saúde da cidade de São Paulo estão sem vacina da AstraZeneca para aplicar como segunda dose nesta sexta-feira, 10. O problema chega a mais de 95% das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital e atinge todo o Estado. Segundo o governo estadual,  desde o fim de semana cerca de 1 milhão de pessoas ficaram sem o esquema vacinal completo. Somente na capital, 200 mil pessoas estão com a aplicação atrasada, número que chegará na segunda-feira a 340 mil, segundo a Prefeitura. O governador João Doria (PSDB) disse que o Estado pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso não receba do Ministério da Saúde 1 milhão de doses de AstraZeneca até a próxima terça-feira, 14. A quantia, segundo ele, já deveria ter sido entregue pelo governo federal, evitando o desabastecimento do imunizante.

Falta de segunda dose da Astrazeneca afeta vacinação contra a covid-19 nos postos de saúde da cidade de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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"O ministério deve, sim, um milhão de doses da vacina da AstraZeneca e, se não der por aquilo que representa a proporcionalidade de São Paulo e seus 645 municípios, dará por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF)", disse o governador. "Se nós não recebermos a vacina até a próxima terça-feira, como é a promessa do Ministério da Saúde, nós ingressaremos com uma nova medida no Supremo."

Segundo Doria, o Estado já enviou dois ofícios ao Ministério da Saúde solicitando que providencie a entrega de vacinas. "Isso não é um problema só de São Paulo, é um problema do País", disse. Em reportagem publicada na quinta-feira, 9, o Estadão apontou que alguns Estados temem a falta de doses de AstraZeneca nas próximas semanas.

O governador acrescentou ainda que, caso não tenha doses da AstraZeneca, o ministério forneça a vacina da Pfizer, sugerindo o uso heterólogo como alternativa para a falta de doses do imunizante produzido pela Fiocruz. Na nota técnica 6/2021, o ministério determinou que vacinas heterólogas podem ser administradas quando houver indisponibilidade daquela utilizada na primeira dose. Não especificou, contudo, quais seriam os critérios para isso.

"Do dia 4 até o dia de hoje, em torno de um milhão de pessoas precisam completar o seu esquema vacinal. Aguardamos, inclusive, além do envio de doses, que o ministério da saúde se coloque se podemos ou não usar outro imunizante. Nesse momento, 1 milhão de pessoas precisam completar seu esquema vacinal contra a covid-19", disse a coordenadora do Programa Estadual de Imunização, Regiane de Paula.

Na quinta-feira, o ministério afirmou que já repassou ao Estado 12,4 milhões de doses da AstraZeneca referentes à primeira aplicação e outras 9,2 milhões referentes à segunda aplicação. A diferença, cerca de 2,8 milhões de doses, segundo a pasta, ainda não foi enviada porque o intervalo previsto só terminaria no final deste mês. "Ao contrário do que foi divulgado pelo governo de São Paulo, o Ministério da Saúde não deve segunda dose de vacina covid-19 da AstraZeneca ao Estado", diz a nota. Ainda de acordo com a pasta, São Paulo utilizou como primeira dose vacinas destinadas à dose dois.

No caso da Pfizer, a escassez também foi constatada pela manhã. Mais de 85% dos postos chegaram a ficar sem a vacina para aplicação do reforço, mas parte das unidades foi reabastecida no início da tarde. Além da segunda dose, o imunizante é aplicado em adolescentes a partir de 12 anos. No início da tarde, parte dos postos passaram a informar um abastecimento.

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Ao menos três outros Estados também relataram nesta sexta a falta do diluente necessário para a aplicação da Pfizer. Bahia, Pernambuco e Mato Grosso do Sul disseram que o envio do insumo está atrasado por parte do Ministério da Saúde. Sem a diluição, parte das doses fica parada nos estoques. 

Com o sumiço nas primeiras horas do dia, a arquiteta Karina Garcia, de 26 anos, achou melhor se precaver. "Vi que estava faltando e fiquei preocupada", relata a jovem, que foi tomar a segunda dose do imunizante na UBS Boracea, na Barra Funda, zona oeste da capital, por volta das 16h30. "Antes de vir para cá, liguei no posto de saúde para ter certeza que havia vacina disponível."

Pontualmente, moradores de São Paulo também relataram problemas com a disponibilidade de Coronavac. "Precisei sair mais cedo do trabalho, passei duas horas na fila e, quando chegou minha vez, disseram que não tinha", diz a operadora de loja Ana Flávia Santos, de 24 anos. Segundo afirma, tentou primeiro em um posto da Brasilândia, na zona oeste, antes de ir para a Barra Funda. "É uma situação frustrante: a gente perde o dia de serviço."

O levantamento do Estadão levou em consideração dados divulgados pela Prefeitura por meio do site De Olho na Fila, que informa sobre a disponibilidade dos imunizantes para a segunda dose. A escassez também se estende a vacinas para a primeira dose, dado que a gestão municipal não detalha em seu site. 

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse na manhã desta sexta que a cidade precisa de 200 mil doses para suprir as aplicações da segunda dose de AstraZeneca que estão em atraso. Na próxima segunda-feira, esse número aumentará para 340 mil, com as 140 mil pessoas que estão previstas para receber o reforço na data. 

"É uma questão de falta de fornecimento por parte do Ministério da Saúde e estão resolvendo. Aparentemente, deverá ser feita (a segunda dose para pessoas que receberam AstraZeneca), com Pfizer", declarou.

O problema constatado nesta sexta começou a ser notado na quinta-feira, 9, quando o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, reconheceu que a quantidade de vacinas da AstraZeneca era insuficiente para abastecer todos os postos. Até então, a falta de doses afetava metade dos postos, situação que se agravou nas últimas 24 horas.

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A escassez de doses afeta todas as regiões da capital paulista. Na zona leste, nenhum dos 146 postos têm vacinas da AstraZeneca disponíveis para a segunda dose, mesma situação dos postos do centro (10), zona oeste (33) e norte (92). 

No Rio de Janeiro, o estoque que a secretaria municipal de Saúde dispõe de doses da vacina AstraZeneca contra a covid-19 também está terminando. Segundo a pasta, quem vai tomar a vacina e, por algum motivo, não pode ser imunizado com a Pfizer será inscrito numa lista de espera, no posto de vacinação, e avisado quando chegar um novo lote de doses da AstraZeneca.

Lote da AstraZeneca está previsto para a semana que vem, diz Prefeitura 

Em nota, a Prefeitura disse ter recebido nesta quinta-feira 255 mil doses da Pfizer e 128,5 mil da Coronavac. "Estas vacinas estão sendo entregues em todas as regiões da cidade e as Unidades estão sendo reabastecidas", informou a gestão municipal.

Sobre a AstraZeneca, a secretaria municipal disse que o Ministério da Saúde sinalizou a entrega de um lote para a capital, prevista para o início da próxima semana. "Recomendamos à população que acompanhe a disponibilidade de segundas doses dos imunizantes por meio da plataforma De Olho na Fila, no seguinte endereço: https://deolhonafila.prefeiturasp.gov.br/."

Quanto à possibilidade de aplicar vacina da Pfizer em quem recebeu a primeira dose da AstraZeneca, a Prefeitura disse que a "medida precisa ser orientada pelo Programa Estadual de Imunização (PEI) e publicada em informe técnico para ser seguida pelo município". /COLABORARAM MARCO ANTÔNIO CARVALHO E JOÃO KER

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