Uma das cabeças à frente da secretaria de contingência criada para lidar com a pandemia do novo coronavírus no Estado de São Paulo, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen da Silva, diz que documentos coletados em mais de 40 países por consultorias contratadas pelo governo e que integram o grupo de gestão da crise apontam que a principal medida para enfrentar o problema é a liberação de recursos para proteger a população vulnerável. “A gente está correndo o risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena. Essa ajuda emergencial precisa chegar e tem que chegar agora”, alerta a secretária. Ela contou ao Estado detalhes de como foi desenhado e como vai ser operado o plano de flexibilização da quarenta, previsto para entrar em vigor partir de 11 de maio. A seguir, principais trechos da entrevista.
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Em que pé está o plano de flexibilização da quarentena no Estado de São Paulo a partir do dia 11 de maio?
É importante destacar que São Paulo nunca parou. Temos cerca de 70% da atividade econômica funcionando. Nosso modelo de quarentena é parcial. Neste momento estamos finalizando a análise de vulnerabilidade por setor, com apoio da Fipe, economistas, consultorias. A partir do dia 10 de maio começaremos a ter um olhar mais regional e faseado das atividades que por ventura tenham sido interrompidas. Estamos olhando os setores mais impactados e vendo que tipo de protocolo precisa ser estabelecidos para a retomada gradual.
Haverá a volta à normalidade a partir do dia 11?
Não há volta da normalidade de um dia para o outro em nenhum lugar do mundo onde houve covid-19. O novo normal é aprendermos a lidar com a pandemia. A Coréia do Sul, por exemplo, apresentou um plano de retomada em dois anos. Estamos falando de horizontes que podemos ter a retomada de um município num momento e que poderá a vir a ser fechado de novo. O mais importante é como iremos conviver com essa pandemia no médio prazo.
Como está sendo desenhado esse modelo de monitoramento?
Criamos uma estrutura dinâmica de monitoramento e gestão da pandemia. Temos hoje um sistema vinculado à secretaria de Governo com todos os dados integrados, de saúde, economia e a parte social. A saúde e economia estão integradas para termos um núcleo único de dados, onde reunimos leitos por município, dados de testagem, casos suspeitos, confirmados e óbitos, isolamento. Isso numa granulidade muito grande e integrada numa plataforma que nos permite fazer uma gestão diária. São mais de cem dados por município
Como será a operação de soltar e puxar as rédeas na reabertura?
Vamos combinar os dados de uso da capacidade adequado, com a vulnerabilidade econômica do município, com a taxa de transmissão da doença, com a disponibilidade de testes e a taxa de imunização da população. Essa combinação dos critérios é determinada pela saúde. Com base nas modelagens, serão estabelecidos critérios para classificação dos municípios em quatro faixas; zona verde, laranja, amarela e vermelha. Os municípios serão monitorados diariamente. Se a cidade ficar um dia na categoria laranja é uma coisa. Se ficar uma semana, já é um problema. O importante é a curva de tendência. Os dados serão analisados diariamente e o comitê contingência se reúne toda semana para reavaliar os municípios. Tem casos que poderão ser reavaliados no dia. Uma cidade que pular verde para o vermelho, tem que ter uma ação emergencial.
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Quantas pessoas estão trabalhando nesse comitê de contingência?
Tem muita gente. Dezenas de pessoas dentro da Saúde, da secretaria de Desenvolvimento Econômico, da secretaria de Ciência e Tecnologia com apoio do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Investe SP e da secretaria de Governo. O núcleo que compõem o sistema de monitoramento inteligente deve ter quase 50 pessoas. Também contamos com apoio de consultorias. No total são cerca de 100.
O que vai abrir primeiro?
Em primeiro lugar, é a ciência e a preservação das vidas. É isso que estamos elegendo como prioridade. Independentemente da quarentena, há muito trabalho a fazer. Temos que entrar com medidas de alívio para as pessoas físicas. O mapa que as consultorias nos trouxeram de mais de 40 países mostra que a principal medida é a proteção social da população vulnerável. Essa ajuda emergencial precisa chegar e tem que chegar agora. A gente está correndo o risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena. As pessoas precisam de ajuda. A segunda parte é o crédito para os nossos empreendedores e empreendedoras, que hoje respondem por mais de 50% dos empregos no Estado de São Paulo e no Brasil. Essa ajuda está chegando a conta-gotas. Tem que chegar rápido.
Mas, qual será o horizonte para os setores depois do dia 10 de maio?
Ainda é muito cedo para falar, porque estamos trabalhando nas propostas. A saúde está trabalhando nos critérios e a economia está trabalhando nos protocolos setoriais. A partir da semana que vem vamos juntar essas informações. O comitê de saúde vai ter os protocolos e olhar para as informações regionalizadas. Talvez o corte não seja só setorial, mas também regional. Pode ser que em algumas regiões não seja possível afrouxar a quarentena porque elas estão na curva crescente da pandemia, enquanto outras regiões, em outro estágio, será possível ter flexibilização.
Os protocolos foram criados pela equipe ou copiados de fora?
A gente não reinventa a roda. As consultorias estão ajudando muito a levantar todas as práticas internacionais. Para os protocolos, temos o da Organização Mundial da Saúde (OMS). O setores também têm protocolos que estão sendo desenvolvidos. Hoje estamos recebendo mais de 30 documentos com protocolos do Brasil e do mundo, fora da OMS e estamos monitorando diretamente mais de 15 países. Temos uma biblioteca de protocolos. Mas o mais importante é o diálogo dos secretários com os setores.
Qual o risco de começar abrir com esses dados frágeis, como assubnotificações?
Houve um trabalho muito grande de zerar a fila de testes de casos graves. Será anunciada também a estratégia expandida de testagem. Temos, ao lado dos testes voltados para o diagnóstico da doença, testes de imunização. Países que estão tendo êxito na retomada, estão trabalhando muito nesse modelo. A subnotificação existe no mundo inteiro. Por isso, essa estratégia de testagem vai ajudar a lidar com uma parte dessa diferença.
Há risco de a flexibilização ser adiada?
No dia 11 de maio iniciamos uma nova fase de monitoramento regional. A flexibilização será faseada e diária e feita de forma responsável. Temos muito claro o que não vamos fazer: não vamos tomar decisões precipitadas e aleatórias. São Paulo é um estado heterogêneo e é preciso reconhecer cada região de uma forma mais independente. Não estamos fazendo gestão política na pandemia.
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