Ivermectina, solidão na UTI e morte à espera de aparelho: histórias de jovens com covid

Autoridades de saúde e médicos têm relatado maior presença de infectados mais novos na segunda onda da pandemia no Brasil

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

Com o novo agravamento da pandemia no Brasil, profissionais de saúde e autoridades relatam preocupação com a alta de jovens entre internados e vítimas da covid-19. "Antes eram idosos e portadores de doenças crônicas, o que chamamos de comorbidade. Hoje é de 60% mais jovens, na faixa de 30 a 50 anos, sem doença prévia", disse este mês o secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn. Na segunda onda da doença no Amazonas, hospitalizados entre 20 e 59 anos foram a maioria, diferentemente do primeiro pico, entre abril e maio do ano passado, quando predominavam pacientes idosos nos hospitais. 

Profissionais de saúde e autoridades relatam preocupação com a alta de jovens entre internados e vítimas da covid-19 Foto: Clóvis de Souza Prates /HCPA

PUBLICIDADE

Ainda não há estudos consolidados sobre o crescimento da participação desse grupo etário. Especialistas ainda investigam se a maior presença de jovens relatada por médicos está ligada a uma maior exposição ao vírus - com o afrouxamento da quarentena e a frequência em aglomerações, como bares e festas - ou a novas variantes do Sars-CoV-2. 

Se antes os jovens chegavam quase sempre assintomáticos, “hoje cada vez mais comum internar esse grupo populacional devido à gravidade de casos”, diz o infectologista Maurício Campos, que atende em uma UTI para pacientes com covid-19 na Bahia. Na opinião do médico, a doença tem se mostrado mais agressiva entre os mais novos.

Em Monte Carmelo, cidade no Triângulo Mineiro, não houve registro de nenhuma morte de ninguém com menos de 50 anos em 2020. Já de fevereiro para cá, cinco pacientes com 39 anos ou menos morreram de complicações da doença na cidade. De todas, apenas uma tinha comorbidades comprovadas. A secretária municipal de Saúde, Ana Flávia Novais e Silva, ainda não tem uma resposta definitiva, mas acredita no peso de novas variantes - principalmente a de Manaus (P.1), cujos estudos preliminares apontaram ser mais transmissível. "Além disso, a doença tem se apresentado mais agressiva. Os pacientes têm chegado com o pulmão bastante comprometido, bem comum estar acima de 75% de infiltração."

Para as famílias e os pacientes mais novos, o sentimento é de surpresa, solidão e de trajetórias terminadas antes da hora. Segundo os parentes, muitos costumavam praticar exercício físico e não tinham outras doenças. Entre os infectados, houve quem morreu à espera de um equipamento para fazer o trabalho do pulmão, que perdeu a capacidade de absorver oxigênio. Outros doentes apostaram em remédios cuja ineficácia foi comprovada pela ciência - o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso desses medicamentos - e chegaram a adiar a busca por ajuda médica. 

Estadão conta a seguir histórias de jovens que foram internados ou perderam a vida por causa do novo coronavírus. Nesta quarta-feira, 10, o Brasil registrou 2.349 mortes pela doença, recorde de toda a pandemia. Especialistas afirmam que a alta de hospitalizações e óbitos deve continuar nas próximas semanas e pode se agravar com o colapso do sistema de saúde em várias regiões. /LEONARDO AUGUSTO, FERNANDA SANTANA, FÁBIO BISPO e LIEGE ALBUQUERQUE, ESPECIAIS PARA O ESTADÃO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.