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Zerar a transmissão da aids até 2030: sonho ou realidade?

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Por Jairo Bouer
Atualização:

Para acabar com a transmissão do vírus HIV até 2030 - meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) - apenas os métodos tradicionais de prevenção, como camisinha e educação sexual, não darão conta do recado. Durante a 20.ª Conferência Internacional de Aids, que acabou nesta semana em Melbourne (Austrália), se discutiu a importância do uso, em larga escala, de tecnologias complementares para que se alcance esse objetivo.A Unaids (programa de aids da ONU) estima que hoje existam cerca de 35 milhões de portadores do vírus em todo o mundo. Desses, 19 milhões desconhecem sua condição. Assim, o primeiro passo seria trazer essas pessoas para o tratamento, melhorar a expectativa e a qualidade de vida e, também, diminuir a chance de transmitir o vírus. Hoje se sabe que a redução da carga viral a níveis indetectáveis impacta muito a transmissão. Com menos vírus circulando, menos pessoas se infectariam. Novas análises estatísticas mostram que a cada 10% de aumento na cobertura do tratamento para os portadores do HIV há um declínio de 1% no número de novas infecções.Nesse sentido, se discute a importância das campanhas para que as pessoas busquem diagnóstico. Além dos testes laboratoriais habituais, começam a estar disponíveis testes que podem ser comprados em farmácia. De acordo com a Agência de Notícias da Aids, pesquisas mostram que os benefícios de saber o resultado parecem superar eventuais riscos e problemas. No Brasil, os testes "caseiros" só estão disponíveis para serem usados em postos de saúde ou por pessoal treinado de ONGs. Mas a liberação da venda em farmácias está em estudo. O passo seguinte, depois de feito o diagnóstico, seria garantir tratamento e acompanhamento médico permanente para toda a população. Notícias recentes mostram que mesmo pessoas com tratamento de longo prazo (e até bebês medicados desde o nascimento) voltam a apresentar vírus circulando no organismo quando deixam de tomar os remédios. Portanto, casos de cura são raríssimos. Novas experiências com transplante de medula e até uso de um quimioterápico foram experiências relatadas na Austrália para tentar "forçar" a saída do HIV dos seus reservatórios no organismo. Mesmo nesses casos, o uso de antivirais não pode ser interrompido. Outra tecnologia muito discutida nos últimos meses, que também ganhou destaque na conferência, foi o uso da PrEP (profilaxia pré-exposicão) para determinados grupos. O método consiste no uso preventivo de uma pílula diária para diminuir as chances de a pessoa se infectar.A OMS avalia que hoje, apesar da diminuição global da aids, algumas populações-chave (homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas endovenosas, profissionais do sexo, transgêneros e encarcerados) concentram a metade dos novos casos de infecção pelo HIV no mundo. Entre os mais jovens (15 a 24 anos), dentro dessas populações, o risco é ainda mais elevado. Talvez, nesses grupos, a PrEP faça toda a diferença.Isso não significa que todo homem gay deve usar essa prevenção. Mas aqueles que têm múltiplos parceiros, comportamentos seguidos de risco e já tiveram outras DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) poderiam se beneficiar dessa proteção adicional ao preservativo. A OMS avalia que a chance de um homem que faz sexo com outro homem (HSH) se infectar com HIV é quase 19 vezes maior do que de um homem que tem apenas relações heterossexuais. No Brasil, a prevalência de HIV na população geral é de cerca de 0,5%. Entre os HSH, de acordo com alguns trabalhos, ela pode variar de 10% a 15%. Veio também da Austrália a promessa de uma nova camisinha, recoberta por um uma espécie de gel antiviral, que promete diminuir o risco de infecção por diversos vírus, como HIV, HPV e herpes. O jornal britânico Daily Mail trouxe reportagem na última semana em que a Biotech Starpharma (fabricante do Vivagel) garante que ele inativa os diversos vírus e pode reduzir em mais de 99% o risco de alguém se infectar pelo HIV. O efeito do gel é muito mais significativo quando usado de forma combinada à camisinha. O novo produto, já aprovado pelas autoridades regulatórias da Austrália, aguarda registro e deve estar disponível no mercado australiano já neste ano. Alguns especialistas, no entanto, alertam que em estudos anteriores doses mais elevadas desse gel para uso intravaginal causavam inflamação na mucosa, o que poderia até aumentar o risco de infecções. Além disso, o desafio continua sendo fazer com que as pessoas usem camisinha de forma consistente.

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