Parte do comércio da cidade de São Paulo não parou de funcionar no 1º dia útil da fase vermelha, a mais restritiva do plano paulista de combate à covid-19. Além de ambulantes, muitas lojas sem autorização para abrir deixaram as portas a meia altura e colocaram os funcionários para trabalhar, para receber mercadorias, contar estoque e organizar vendas drive-thru. Entre aquelas lojas de serviços essenciais, como as de materiais de construção, os relatos eram de queda de faturamento.
Nas ruas do Brás, 25 de março e Santa Efigênia, na região central da cidade, ambulantes tentavam driblar a fiscalização para vender às poucas pessoas que circulavam nas ruas, a maioria sem máscara ou com o item de proteção no queixo. Os camelôs colocavam os produtos na calçada, anunciavam “bonecas LOL, homem-aranha e Bob Esponja”, mas logo tinham de recolher, pois apareciam funcionários da Vigilância Sanitária amparados pela Polícia Militar. Não houve tumulto. Enquanto a reportagem esteve nos locais na tarde de ontem, nenhum produto foi apreendido.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/QM6A6DMGPBNZHAD3V3RZ5S2N54.jpg?quality=80&auth=4f56b5157ed3879a4b8ffdcec7fb350798ae8a6a11b38320709b1e613f8f2d9d&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/QM6A6DMGPBNZHAD3V3RZ5S2N54.jpg?quality=80&auth=4f56b5157ed3879a4b8ffdcec7fb350798ae8a6a11b38320709b1e613f8f2d9d&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/QM6A6DMGPBNZHAD3V3RZ5S2N54.jpg?quality=80&auth=4f56b5157ed3879a4b8ffdcec7fb350798ae8a6a11b38320709b1e613f8f2d9d&width=1200 1322w)
No centro, a principal movimentação estava no entorno da Armarinhos Fernando. A loja tinha aval para abrir por comercializar itens essenciais, como álcool em gel, luvas cirúrgicas, máscaras e material de limpeza. Mas ali os consumidores buscavam outros produtos, como material escolar e brinquedos.
Ondamar Antonio Ferreira trabalha na loja matriz, na 25 de Março, há 33 anos, 19 como gerente. "Temos o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) modificado e autorizado pela Prefeitura para funcionar nesse período”, afirma.
Apesar do movimento intenso na loja, ele comentou que diminuiu muito em comparação aos dias sem restrições. “Como a maioria dos outros lojistas da região não possui a mesma autorização, tiveram de fechar. E isso também acaba nos prejudicando. O faturamento deve cair de 60% a 70% nestas duas próximas semanas, com certeza.”
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/4GZWJ6OQSBKKHMLJ3CSHAHQEYA.jpg?quality=80&auth=c9ee209cdbdfd3ee7ecc97ea5a9cae8404348d7a743bb7cd63ddf2047e26929c&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/4GZWJ6OQSBKKHMLJ3CSHAHQEYA.jpg?quality=80&auth=c9ee209cdbdfd3ee7ecc97ea5a9cae8404348d7a743bb7cd63ddf2047e26929c&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/4GZWJ6OQSBKKHMLJ3CSHAHQEYA.jpg?quality=80&auth=c9ee209cdbdfd3ee7ecc97ea5a9cae8404348d7a743bb7cd63ddf2047e26929c&width=1200 1322w)
A despesa, ele diz, continuará a mesma. O quadro completo, com 215 funcionários, seguirá trabalhando normalmente. A expectativa de Ferreira é que as vendas melhorem nos próximos dias. “Por ser o primeiro dia útil, o movimento está muito baixo. Mas a gente acredita que nos próximos dias vai melhorar um pouquinho.”
Na Santa Efigênia, havia uma loja de eletrônicos aberta. A autorização da prefeitura, no caso, é dada pelo comércio de materiais de construção, como tomadas e interruptores. Mas o movimento era fraco. “Entra aqui. Dá para jogar futebol de tanto espaço que tem. Uma hora dessas (por volta das 16h), estaria cheia”, disse o gerente de uma loja que não quis se identificar. “80% dos funcionários ficaram em casa. Esperamos ter queda de vendas na mesma proporção”, disse.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ENBDN7I3JZNB5IFNGVLZHYXAE4.jpg?quality=80&auth=faf3539a13571eb93eb91897a9982fd2bd0e53bd00e4587c171bc5c0c62c4979&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ENBDN7I3JZNB5IFNGVLZHYXAE4.jpg?quality=80&auth=faf3539a13571eb93eb91897a9982fd2bd0e53bd00e4587c171bc5c0c62c4979&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ENBDN7I3JZNB5IFNGVLZHYXAE4.jpg?quality=80&auth=faf3539a13571eb93eb91897a9982fd2bd0e53bd00e4587c171bc5c0c62c4979&width=1200 1322w)
Muitos que não tinham aval para abrir também não dispensaram todos os funcionários. Lá dentro, empregados executavam funções como conferir estoque, além de contar e receber mercadoria. Mas bastava passar a fiscalização para, por via das dúvidas, fecharem totalmente a porta. Havia também lojas abertas com aviso de vendas drive thru: o consumidor não entrava na loja, mas podia comprar da calçada.
“Vai fotografar o (governador) João Doria. Deixa o chinês trabalhar, vai prejudicar o trabalhador honesto?", questionou um homem que passava pela calçada, ao notar o fotógrafo do Estadão, que registrava o comércio com a porta semi-aberta.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ZWNXVKT35BMHPJV2WJDMJ73ZAM.jpg?quality=80&auth=fc7cfb67173084d4f05be5ac487762da1755f02fe0ef83f2c41c1e6ed6e3c7d2&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ZWNXVKT35BMHPJV2WJDMJ73ZAM.jpg?quality=80&auth=fc7cfb67173084d4f05be5ac487762da1755f02fe0ef83f2c41c1e6ed6e3c7d2&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ZWNXVKT35BMHPJV2WJDMJ73ZAM.jpg?quality=80&auth=fc7cfb67173084d4f05be5ac487762da1755f02fe0ef83f2c41c1e6ed6e3c7d2&width=1200 1322w)
Especialistas têm apontado a necessidade de ajuda financeira, como o auxílio emergencial (cuja 2ª rodada ainda não foi liberada pelo governo federal), para que haja condições financeiras de as pessoas cumprirem a quarentena e ficarem em casa.
Vigilância diz que autuou 231 estabelecimentos
A Vigilância Sanitária Estadual informou, em nota, que inspecionou 3.759 estabelecimentos, entre a noite de sexta-feira e anteontem, em todo o Estado. Foram autuados 231 locais por desacordo com as normas, como falta de placas obrigatórias, falta de distanciamento social, aglomerações, funcionamento após o horário liberado e também por permitir consumidores sem máscaras dentro do estabelecimento.
Na capital, foram 148 estabelecimentos inspecionados e 19 autuados – sete fechados. As equipes percorreram bairros em várias regiões, como Itaim Bibi, Pinheiros, Paraíso, Moema, Morumbi, Penha, Jabaquara, Itaquera, entre outros. Procurada, a Vigilância não esclareceu se o comércio não essencial pode receber funcionários para recebimento de mercadorias ou checagem de estoque.
As equipes sanitárias estaduais realizaram 204.956 inspeções e 3.988 autuações entre 1º de julho de 2020 e 7 de março de 2021, diante da constatação de aglomerações e da falta de uso de máscaras.
Como denunciar
Além das blitze, as fiscalizações também podem acontecer por meio de denúncias. É possível registrar a queixa pelo telefone 0800 771 3541 ou pelo e-mail: secretarias@cvs.saude.sp.gov.br.
O descumprimento das regras prevê multa com base no Código Sanitário, que pode chegar a R$ 290 mil. Pela falta do uso de máscara, a multa é de R$ 5.278 por estabelecimento, para cada infrator. Pessoas em espaços coletivos também podem ser multados em R$ 551,00 pelo não uso da proteção facial.