Coronavírus já está em 50 países e OMS eleva para 'muito alto' o risco

O vírus que surgiu na China no fim do ano passado já chegou a 50 países e soma 2.858 mortes mortes e mais de 83 mil infectados, de acordo com a OMS

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Por Giovana Girardi
Atualização:

SÃO PAULO - A ocorrência do coronavírus já em mais de 50 países, em todos os continentes, e o aumento de nações que registram transmissão local da doença levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a elevar o nível de alerta no mundo. O risco de dispersão e de impacto do Covid-19 foi de alto para muito alto. 

Mulher usando máscaras caminha diante da Catedral de Milão. Foto: Yara Nardi/Reuters

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O anúncio foi feito nesta sexta-feira, 28, pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que afirmou que o contínuo crescimento do número de casos e países afetados é claramente motivo de preocupação. Ele continua defendendo, porém, que ainda é possível trabalhar para tentar conter essa expansão e exortou os países a se prepararem, ficarem alertas e agir rapidamente. 

Na quinta-feira, ele já tinha dito que “todo país deve estar pronto para seu primeiro caso, seu primeiro cluster, a primeira evidência de transmissão comunitária e para lidar com a transmissão comunitária sustentada. E deve estar se preparando para todos esses cenários ao mesmo tempo”.

Mas a organização continua evitando usar a palavra pandemia, o que é defendido por alguns especialistas. O Brasil, no entanto, tem discordado.

Nesta sexta, o Ministério da Saúde reiterou o pedido para a OMS atualizar a classificação do coronavírus. “Esta mudança (para pandemia) vai implicar numa redução de busca de relação com o local provável de infecção e vai nos permitir focar principalmente nos grupos etários mais vulneráveis, que são adultos com mais de 60 anos”, afirmou o secretário de Vigilância da Saúde do ministério, Wanderson Kleber de Oliveira.

Ghebreyesus defende que ainda há margem para atuar em contenção de casos. “O que temos visto no momento são epidemias de Covid-19 em vários países, mas a maioria dos casos ainda pode ser rastreada a contatos conhecidos ou a clusters de casos. Não temos evidências, ainda, de que o vírus está se espalhando livremente nas comunidades”, afirmou nesta sexta. 

“Enquanto for este o caso, ainda temos a chance de conter o coronavírus se ações robustas forem tomadas para detectar os casos rapidamente, isolar e cuidar dos pacientes e rastrear os seus contatos”, disse. 

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O vírus que surgiu na China no fim do ano passado já chegou, de acordo com a OMS, até sexta, a 51 países, além da China. Foram cinco novos desde quinta: Dinamarca, Estônia, Lituânia, Holanda e Nigéria (o primeiro país da África sub-saariana).  Após a checagem da organização, o México também informou que registrou seu primeiro caso. 

Segundo a OMS, havia 78.961 casos confirmados na China e 4.691 em 51 países. O número de mortes total chegou a 2.858 mortes (67 delas fora da China). Em 24 horas, a China havia reportado 331 novos casos – o valor baixo em um mês de epidemia. Já os novos casos no resto do mundo foram de 1.027

Dos novos registros, 24 casos foram exportados da Itália para 14 países e 97 casos foram exportados do Irã para 11 países desde quinta. No Brasil, o Ministério da Saúde informou que investiga 182 casos suspeitos, mas continua com apenas um confirmado até o momento.

Pandemia ou não?

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Especialistas ouvidos pelo Estado defendem que ainda não ter declarado uma pandemia faz sentido. “A partir do momento que isso for feito, significa que há transmissão sustentada em tantos lugares que já não faz mais sentido tentar conter os casos. Se declara pandemia, a China pode não mais se sentir impelida a controlar os 100 milhões de pessoas que estão sob confinamento. Os países que têm transmissão sustentada perdem ou acham que perdem a obrigação de conter. Se virou pandemia, por que vou gastar esforço político e de recursos de fazer cordão sanitário?”, comenta o epidemiologista Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP. “Mas se a China e os outros países não tivessem feito isso, haveria muito mais casos pelo mundo”, diz. 

Para o também epidemiologista Eliseu Alves Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP, deve ser apenas uma questão de tempo para virar de fato epidemia, mas ainda há que se tentar amortizar esse processo. “Numa doença de transmissão respiratória, não existem medidas para pará-la. A expectativa é que o vírus vai mesmo se espalhar. Mas é importante ao máximo retardar o processo, para que a evolução se dê de maneira gradual. Porque quanto mais rápido for, com certeza, mesmo em países desenvolvidos, as estruturas dos sistemas de saúde poderão entrar em colapso.”

Ele apon­ta ain­da que, ao de­cla­rar pan­de­mia, a OMS tem de en­vi­ar re­cur­sos hu­ma­nos e financei­ros pa­ra apoi­ar paí­ses mais po­bres a li­dar coma do­en­ça, o que au­men­ta cus­tos e dificuldades. “Existem motivos para tomarmos todas as providências necessárias e possíveis para evitar o pior – como ter um aumento muito rápido da doença em um número muito grande de países.”

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O diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, explicou que a elevação de risco de alto para muito alto reflete o fato de que a doença está surgindo em muitos países e o fato de que alguns estão sofrendo para conter a propagação. E que serve principalmente como mensagem para que os países que têm os primeiros registros ajam rapidamente para tentar conter a propagação. “É um chamado para acordar e ficarem prontos. O alerta é para dizer que podemos conter isso”, afirmou.

Confira as notificações feitas por cada país:

  • China: 2.788 mortes entre 78.824 casos
  • Hong Kong: 94 casos, 2 mortes 
  • Macau: 10 casos 
  • Coreia do Sul: 2.337 casos, 16 mortes 
  • Japão: 931 casos, incluindo 705 do navio de cruzeiro Diamond Princess, 11 mortes 
  • Itália: 650 casos, 15 mortes 
  • Irã: 388 casos, 34 mortes 
  • Cingapura: 98 
  • Estados Unidos: 60 
  • Alemanha: 53 
  • Kuwait: 45 
  • Tailândia: 41 
  • França: 38 casos, 2 mortes 
  • Bahrain: 36 
  • Taiwan: 34 casos, 1 morte 
  • Espanha: 32 
  • Malásia: 25
  • Austrália: 23 
  • Emirados Árabes Unidos: 19 
  • Reino Unido: 19 
  • Vietnã: 16 
  • Canadá: 14 
  • Suécia: 7 
  • Iraque: 6 
  • Omã: 6 
  • Rússia: 5 
  • Croácia: 5 
  • Suíça: 5 
  • Israel: 4 
  • Grécia: 4 
  • Filipinas: 3 casos, 1 morte 
  • Índia: 3 
  • Líbano: 3 
  • Romênia: 3 
  • Paquistão: 2 
  • Finlândia: 2 
  • Áustria: 2 
  • Holanda: 2 
  • Geórgia: 2 
  • México: 2 
  • Egito: 1 
  • Argélia: 1 
  • Afeganistão: 1 
  • Macedônia do Norte: 1 
  • Estônia: 1 
  • Lituânia: 1 
  • Bélgica: 1
  • Bielorrússia : 1 
  • Nepal: 1 
  • Sri Lanka: 1 
  • Camboja: 1 
  • Noruega: 1 
  • Dinamarca: 1 
  • Brasil: 1
  • Nova Zelândia: 1 
  • Nigéria: 1 
  • Azerbaijão: 1

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