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Todos os dias, 3.500 pessoas morrem por hepatites virais no mundo, afirma OMS; quadro é silencioso

Na avaliação da organização, mortalidade representa falha em diagnóstico precoce; no Brasil, vacinação para subtipos A e B da doença está disponível gratuitamente no SUS

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Por Victória Ribeiro

Divulgado nesta terça-feira, 9, o Relatório Global sobre Hepatites, produzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), aponta que o número de óbitos em decorrência da hepatite viral aumentou 18,2% em apenas três anos. Segundo o levantamento, a quantidade de registros passou de 1,1 milhão em 2019 para 1,3 milhão em 2022, tornando a doença a segunda principal causa infecciosa de morte em nível mundial, ficando atrás apenas da tuberculose.

Esses números, segundo a entidade, refletem cerca de 3.500 mortes diárias, sendo que 83% estão relacionadas à hepatite B e 17% à hepatite C. Na avaliação dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, o cenário está diretamente associado à falha no diagnóstico precoce, mesmo com os avanços nas ferramentas e nos métodos de detecção.

Hepatites B e C são as principais causas relacionadas à cirrose hepática.  Foto: Peakstock/Adobe Stock

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“Esse relatório mostra um quadro preocupante: apesar do progresso global na prevenção de infecções por hepatite, as mortes estão aumentando porque poucas pessoas com hepatite estão sendo diagnosticadas e tratadas”, afirmou Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em comunicado.

Apesar do aumento das mortes, a entidade reitera que a meta de eliminar a hepatite até 2023 ainda é possível, mas requer “ações rápidas”. “A OMS está comprometida em apoiar os países no uso de todas as ferramentas disponíveis, a preços acessíveis, para salvar vidas e reverter essa tendência”, ressaltou Tedros.

Incidência

Enquanto o número de mortes aumentou, as taxas de incidência caminharam no sentido contrário durante o período analisado. De acordo com a OMS, em 2022 foram registrados 2,2 milhões de casos da doença (1,2 milhão de hepatite B e 1 milhão de hepatite C), o que representa uma redução de 12% em relação aos 2,5 milhões registrados em 2019.

Segundo a avaliação da entidade, essa queda pode ser atribuída a uma melhoria nos dados provenientes de inquéritos nacionais de prevalência. Além disso, evidências indicam que medidas preventivas, como a ampliação da vacinação, aliadas à expansão do tratamento para hepatite C, contribuíram significativamente para a redução da incidência da doença.

Mesmo com a queda, a OMS destaca que a incidência permanece elevada, com mais de 6 mil pessoas infectadas a cada dia.

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Brasil

No total, existem cinco versões da doença: A, B, C, D e E. No Brasil, as infecções mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C, sendo que os subtipos A e B são preveníveis por vacina. O grande perigo é que elas podem atingir o fígado – e, muitas vezes, de maneira silenciosa. Com isso, há risco de complicações sérias, como a cirrose.

“A cirrose é uma doença grave, que faz com que o fígado vá parando de funcionar”, define o médico infectologista Paulo Abrão, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) ao Estadão. Em alguns casos, a pessoa acometida pode precisar de um transplante de fígado ou até vir a óbito.

Entre 2000 e 2021, foram confirmados 718.651 casos de hepatites virais no Brasil, como mostra o último Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Sendo que a divisão por tipo ficou assim:

  1. Hepatite A: 23,4% do casos (ou 168.175)
  2. Hepatite B: 36,8% dos casos (ou 264.640)
  3. Hepatite C: 38,9% dos casos (ou 279.872)
  4. Hepatite D: 0,6% dos casos (ou 4.259)

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As infecções causadas pelos vírus da hepatite B ou C são as principais causas de doença hepática crônica. Por esse motivo, de acordo com Moacyr Silva Júnior, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), a população deve ser incentivada a realizar a sorologia, ou seja, um exame de sangue. “Assim, é possível detectar se a pessoa é portadora de algum desses vírus, principalmente o B e o C, que são os que mais levam à cirrose hepática”, esclarece.

Para a infectologista Ceuci Nunes, diretora-presidente do Bahiafarma, a imunização deve ser frequentemente ressaltada como meio mais eficaz de prevenção. “O importante é saber que as hepatites mais frequentes são preveníveis por vacinas que são oferecidas gratuitamente no Brasil”, destacou.

Transmissão

Hepatite A: O vírus da hepatite A é transmitido principalmente por alimentos, bebidas e água contaminados. Ao ingeri-los, o indivíduo adoece. Inicialmente, as manifestações do quadro podem incluir mal-estar, febre e dores musculares. Ainda é possível apresentar enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia.

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Hepatite B: Entre as formas de transmissão da hepatite B, estão: relações sexuais sem uso de camisinha com pessoas infectadas, transmissão vertical (de mãe para filho na gestação, no parto ou na amamentação) e compartilhamento de objetos perfurocortantes.

Hepatite C: O vírus é transmitido sobretudo por meio de sangue contaminado, durante compartilhamento de agulhas e reutilização ou falha de esterilização de itens perfurocortantes. Relações sexuais sem preservativo representam um risco, mas essa via de transmissão não é tão comum. A hepatite C pode avançar de maneira silenciosa.

Hepatite D: As formas de transmissão da hepatite D são idênticas às do subtipo B. É considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação e morte.

Hepatite E: É a menos comum no Brasil. A transmissão ocorre por meio de água ou alimentos contaminados e em locais com saneamento precário. Segundo o Ministério da Saúde, outras formas de propagação podem ocorrer pela ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais infectados (como fígado de porco), transfusão de sangue infectado ou por transmissão vertical, aquela que ocorre de mãe para filho.

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