BRASÍLIA – As fileiras de balsas de garimpo clandestino que varreram o Rio Madeira, na Amazônia, em novembro do ano passado, e viraram escândalo internacional, voltaram a se formar sobre as águas da região nos últimos dias.
Imagens obtidas pela reportagem de sobrevoo feito na região nas últimas duas semanas mostram dezenas de dragas usadas para sugar o leito do rio na região dos municípios de Manicoré e Humaitá, no Estado do Amazonas, a mesma região onde, no fim do ano passado, a Polícia Federal destruiu 131 balsas ilegais. Ao Estadão, o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes, confirmou que acompanha a movimentação. “Não podemos adiantar nada a respeito do tema, mas estamos sabendo da movimentação.”
Os garimpeiros costumam se aglomerar em filas para facilitar o deslocamento na água do rio. Normalmente, eles seguem para uma mesma região ao chegar a informação de que, em determinada área, alguém teria encontrado maior quantidade de ouro.
O porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, afirma que o que possibilita o retorno dos garimpeiros à região é a ausência de uma política de desenvolvimento regional. “De uma vez por todas, o Estado brasileiro precisa compreender que precisamos ir além das ações de comando e controle, e estruturar outras políticas que nos permitam superar a economia da destruição que consome rios e florestas, mas também se alimenta da desigualdade social profunda que caracteriza a região”, diz.
Segundo Aguiar, a melhor forma de combater a atividade garimpeira na região, no curto prazo, é atuar diretamente na rede que sustenta essa prática predatória: “O Estado precisa investigar e desmontar a linha de suprimento que garante combustível para o desenvolvimento dessa atividade no Rio Madeira. O óleo diesel que abastece essas balsas não cai do céu."
Em novembro do ano passado, durante a operação da PF, muitas balsas foram abandonadas pelos garimpeiros nas beiras do Madeira. Houve situação em que os próprios garimpeiros trataram de afundar suas balsas nas margens, para que não fossem queimadas ou encontradas pelos agentes.
Durante as ações policiais, os equipamentos costumam ser destruídos, uma ação que é constantemente criticada pelo presidente Jair Bolsonaro. O ato de queimar os equipamentos, no entanto, tem previsão legal e é regulamentado. Dessa forma, os agentes destroem as máquinas e evitam que estas voltem a ser utilizadas, de alguma maneira. O prejuízo financeiro causado aos donos dos equipamentos também é mais um reflexo desse tipo de medida, o que acaba retardando os planos dos empresários do garimpo de retomarem as operações.
A queima da estrutura é feita com o próprio combustível encontrado nas estruturas, que normalmente carregam grandes tanques de plástico com centenas de litros de gasolina. Em cerca de cinco minutos, o fogo se alastra e coloca tudo abaixo. Com o calor extremo, os equipamentos de ferro costumam dilatar, comprometendo uma nova utilização. Com o afundamento no leito do rio, torna-se item irrecuperável.
O recolhimento desse material também não costuma ser feito pelos agentes, dadas as difíceis situações logísticas nas quais são encontrados. O transporte do equipamento, além de ser complexo, também pode colocar os próprios agentes em novas situações de risco.
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