GLASGOW E LONDRES - A secretária do clima das Nações Unidas, Patricia Espinosa, disse neste domingo, 15, que o acordo firmado na Conferência do Clima (COP-26) é um bom compromisso, mas não satisfaz a todos. O documento assinado em Glasgow tem sido alvo de críticas de ativistas, a exemplo de Greta Thunberg, de especialistas envolvidos em estudos de mudança climática e também de autoridades, como o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
"Isso (o acordo) não satisfaz totalmente a todos", afirmou Patricia Espinosa. "Mas nos leva para a frente. É um bom compromisso", ponderou em entrevista. Apesar das ressalvas, a secretária do clima disse que está “satisfeita” com o documento final e acrescentou que ele é “muito positivo”, uma vez que “dá uma orientação muito clara sobre o que precisamos fazer nos próximos anos".
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/K7ANBLHLORJU7N446QDY5CD54U.jpg?quality=80&auth=921d47a013e2098313b01843479936f302ff5afdc282e3a3f489cf075dd2f73f&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/K7ANBLHLORJU7N446QDY5CD54U.jpg?quality=80&auth=921d47a013e2098313b01843479936f302ff5afdc282e3a3f489cf075dd2f73f&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/K7ANBLHLORJU7N446QDY5CD54U.jpg?quality=80&auth=921d47a013e2098313b01843479936f302ff5afdc282e3a3f489cf075dd2f73f&width=1200 1322w)
Segundo especialistas, no entanto, ainda que tenha mostrado progresso, o acordo desperdiçou oportunidades. Isso porque não atingiu nenhum dos três objetivos da ONU: reduzir de forma mais ambiciosa as emissões mundiais de dióxido de carbono, destinar US$ 100 bilhões em ajuda climática anual de países ricos para países pobres e usar ainda metade desse dinheiro para ajudar o mundo em desenvolvimento a se adaptar aos danos do aquecimento global.
Uma frustração foi o fato de uma grande economia mundial, a Índia, que já está passando por secas e calor extremo por causa do aquecimento global, ter sido uma das nações que diluiu o acordo final em Glasgow. Terceiro maior poluidor de carbono do mundo, a Índia disse que não poderia permitir a linguagem que pede a "eliminação" do carvão e o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis. Na versão final do texto — ajustada na última hora e alvo de críticas de outros países — é mencionado o esforço para a "redução" gradual desses poluentes.
Para muitos dos países, especialmente as pequenas nações em ilhas, que enfrentam ameaças da elevação dos mares, acabar com o carvão é fundamental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e tentar manter o aquecimento a um nível que permitiria que suas nações sobrevivam.
De acordo com Espinosa, um acordo climático por si só não bastará para limitar o aquecimento a 1,5 ºC, em comparação aos níveis pré-industriais. Ainda assim, ela pondera que o documento aponta para um cenário, criando um mercado de carbono e permitindo que mais dinheiro flua dos países ricos para os pobres — mesmo que os países pobres estejam insatisfeitos e digam que a ajuda não é suficiente.
Johnson celebra acordo, mas pondera que alegria está 'manchada de decepção'
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse em entrevista coletiva neste domingo ter ficado satisfeito com o pacto assinado em Glasgow. Porém, reconhece que sua alegria está "manchada de decepção".
Segundo ele, o acordo exigia um “alto nível de ambição para cúpula”, mas isso não foi um consenso entre os países envolvidos. "E embora muitos deles estivessem dispostos a fazê-lo, não foi o caso para todos", afirmou o primeiro-ministro.
"Minha alegria com esse progresso (do acordo) é manchada de decepção", disse Johnson, que destacou ainda "aqueles para quem a mudança climática já é uma questão de vida ou morte".
O premiê disse que, ainda que seja possível encorajar, não se pode “forçar as nações soberanas a fazerem algo que não querem”. “A decisão é delas", acrescentou Johnson. Apesar disso, ele afirmou estar "imensamente orgulhoso" do acordo.
Já o presidente Jair Bolsonaro, ao comentar a conferência do clima neste sábado, reclamou que a COP é o lugar "onde se apontam dedos" e disse que o Brasil é atacado injustamente, embora contribua para o equilíbrio climático do planeta. No mês de outubro, apesar das tentativas do governo federal de reverter a imagem de vilão ambiental em Glasgow, a Amazônia registrou a maior taxa de desmatamento dos últimos sete anos. /AP e AFP