Marrocos: do labirinto colorido de Marrakesh ao deserto do Saara

Gastronomia, hospedagens e curiosidades de um país com um mosaico cultural que começa a ser definido já em Marrakesh

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Por Paulo Saldaña
Atualização:
Epicentro. Jamaa el Fna, o coração da medina Foto: YOUSSEF BOUDLAL | REUTERS

MARRAKESH - No labirinto de ruelas da medina de Marrakesh, um formigueiro de gente divide espaço com motos barulhentas, burrinhos que puxam carroças carregadas de verduras, moças apressadas com véus pretos, amarelos, azuis, e um exército de vendedores. Enquanto ecoam o árabe, o francês, o inglês e outras línguas, vendem-se sandálias, temperos de aroma marcantes, óleos, luminárias, anéis e galinhas vivas. Uma certa definição de caos surge nesta primeira parada da viagem ao Reino do Marrocos. Já é possível ver nessa mistura os fragmentos das sobreposições culturais que vão ficando mais claras e saborosas durante um tour pelo país, rumo às dunas do deserto.

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Sem considerar o território de Saara do Oeste, ao sul, que o país reclama como parte de sua propriedade, o Marrocos se espalha por 450 mil quilômetros quadrados, área similar à da Espanha. Fica no noroeste do continente africano, ao longo de 1,8 mil quilômetros de litoral voltado para o Oceano Atlântico. Ao norte estão grandes cidades como Casablanca, Tanger – ali na beira do Estreito de Gibraltar –, a capital Rabat, a histórica Meknes e Fes, esta também histórica e famosa pelos curtumes coloridos e, como esquecer?, pela novela O Clone.LEIA MAIS: No Marrocos, entre a rota das mil maravilhas e o Saara

Do centro para o sul do território ficam Marrakesh e as altas montanhas do Atlas, onde as estradas são ladeadas por pequenos povoados e outras cidades maiores, como Ouarzazate. Conhecida por ser cenário de filmes e sede de estúdios, a localidade é porta para o deserto do Saara, o maior do mundo.

As paisagens se diversificam pelo país, mas a predominância do ocre, da cor de terra, característicos dos caminhos para o deserto, é a protagonista da nossa turnê. Na Rota das Mil Kasbahs – kasbahs são tradicionais construções de adobe fortificadas –, a paisagem se alterna entre montanhas que fazem imaginar a superfície de um planeta distante e imensidões de oásis com palmeirais recortados por rios calmos. Tudo envolto pelo misticismo de um país fortemente religioso.

Nenhuma construção nas cidades e vilarejos é mais alta que os minaretes, as torres das mesquitas. Cinco vezes ao dia, alto-falantes chamam os fiéis para a oração e, em tapetes dispostos em salinhas existentes em todo canto, os muçulmanos rezam virados para Meca. Embora a maioria das mulheres esconda os cabelos com véus, é comum encontrar algumas de cabeça descoberta. Há as que escondem todo o rosto, deixando só olhos à vista, e alguns homens de djellaba, túnica típica usada por muçulmanos mais ortodoxos.

A proximidade com a Europa, a força do turismo e uma certa liberdade, entretanto, reforçam a identidade de território de transição entre as culturas ocidental e árabe. Ouve-se que o Marrocos é, também, a entrada para o mundo muçulmano.

Ancestrais. A expansão árabe iniciada no Marrocos no século 7.º foi seguida de forte islamização. Mas os povos tradicionais, os chamados berberes, lutaram para preservar sua cultura, ainda expressa nas músicas, costumes, arte e artesanato. Antes de árabe e islâmico, o Marrocos é berbere, como a maior parte do norte da África.

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Em Marrakesh, por exemplo, a visita a um pequeno museu berbere no lindíssimo Jardim Majorelle oferece um panorama da riqueza dos símbolos e adornos tradicionais, como roupas, sapatos e colares. Você identifica vários elementos de uma continuidade estética entre o que se vê no museu e o que se encontra no mundaréu de artigos vendidos nos souks (mercados) e por vendedores ambulantes espalhados pelo país. Os traços geométricos, típicos dos berberes – em distinção aos arabescos árabes – estão em lenços, tapetes e também na discreta ornamentação da arquitetura das construções, sempre muito parecidas.

Tagine, prato típico no Marrocos Foto: Paulo Saldaña|Estadão
Escola islâmica Ben Youssef Foto: Paulo Saldaña|Estadão
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