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Desafios da memória e da cultura digital

Quantas novas ideias virão das ideias escondidas nas antigas páginas do jornal?

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Por Pedro Puntoni

O Brasil cresce economicamente, mas precisa evoluir na atenção com sua cultura e, em particular, com as instituições gestoras dos acervos que sustentam a nossa memória social. Um país sem história não é uma nação. Para termos história é preciso cuidado com as bibliotecas, arquivos e centros de documentação. Mais ainda, é preciso que estas instituições tenham valor para a sociedade. Mobilizar bilhões de reais para a festa do futebol, em 2014, não parece nada errado para nós, brasileiros. Mas o mesmo não se pode dizer para a preservação da nossa memória, para a construção da nossa cultura e difusão dos nossos valores.

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Os projetos de digitalização e de ampliação do acesso aos livros e documentos nos acervos brasileiros já estão nos ajudando a construir uma presença mais efetiva e amorosa para com esses registros de passado. A memória de uma nação se constrói sobretudo no coletivo, no apego emotivo (e também racional, estudioso) aos registros que nos permitem entender o presente, o percurso que nos construiu como coletivo possível. É imperativo que União, Estados e municípios se comprometam com a sociedade a valorizar a nossa cultura. Colocar os acervos na internet é abri-los para o diálogo com as novas gerações.

A digitalização do acervo do Estado é algo mais do que louvável. É uma conquista de todos, uma vez que temos agora acesso facilitado a quase 140 anos de nossa história.

Poderemos ler todos textos do Suplemento Literário, publicado entre 1956 e 1974, um marco da cultura brasileira. Quantas novas ideias virão das ideias escondidas nas antigas páginas do jornal? Poder ler as notícias de um país ainda imerso no escravismo, os passos da construção da República, os difíceis anos das guerras, da ditadura e dos nossos tempos mais recentes é, sem dúvida, uma fonte de recursos para os historiadores, mas também uma oportunidade para o cidadão encontrar-se na história ou, no caso das novas gerações, encontrar-se com a história.

*PROFESSOR DE HISTÓRIA DO BRASIL E DIRETOR DA BIBLIOTECA BRASILIANA GUITA E JOSÉ MINDLIN DA USP

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