Uma das mais espetaculares fugas da história do sistema prisional brasileiro aconteceu por via aérea. Na tarde de 31 de dezembro de 1985, o traficante de drogas José Carlos do Reis Encina, o Escadinha, foi resgatado de helicóptero do extinto presídio Cândido Mendes na Ilha Grande, Rio de Janeiro.
A fuga surpreendeu pela audácia. Pode-se dizer que o presídio da Ilha Grande, demolido em 1994, era de segurança máxima. O que dava total segurança era o isolamento do presídio e as dificuldades impostas pela natureza.
Estadão - 3 de janeiro de 1986
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/LAKXF4FZVBJBDFEPNAHSEV44QI.jpg?quality=80&auth=9e024283c79be78143a1e599d7e8b457448252cda5855bb6b353c894fc65f343&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/LAKXF4FZVBJBDFEPNAHSEV44QI.jpg?quality=80&auth=9e024283c79be78143a1e599d7e8b457448252cda5855bb6b353c894fc65f343&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/LAKXF4FZVBJBDFEPNAHSEV44QI.jpg?quality=80&auth=9e024283c79be78143a1e599d7e8b457448252cda5855bb6b353c894fc65f343&width=1200 1322w)
O instituto penal Cândido Mendes ficava na Vila Dois Rios, numa praia paradisíaca em formato de ferradura e, como o próprio nome diz, com dois riachos de águas cristalinas em cada canto da praia. Ao redor dele estavam as casas dos policiais e funcionários do presídio. Chegar lá não era simples. Da principal vila da ilha, Abraão, o trajeto era feito por mais de uma hora de caminhada entre picadas e sem nenhuma indicação de caminho. Só os funcionários do presídio e moradores da região dominavam o trajeto.
Dificilmente algum preso escaparia por terra, pois além das barreiras naturais, qualquer estranho perambulando levantaria suspeitas dos moradores espalhados pelos vilarejos e dos funcionários do presídio e policiais que também viviam lá. Para piorar a vida de um aspirante à fuga, na ilha não existem estradas e é vetado o uso de automóveis.
Estadão - 3 de janeiro de 1986
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/H7J63FVAWVB5BB2IT7N5NRG3XY.jpg?quality=80&auth=b921f8e6bce848ff53e4e254aa9adfbfbf55037f2f0236c2e01436202ef4616c&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/H7J63FVAWVB5BB2IT7N5NRG3XY.jpg?quality=80&auth=b921f8e6bce848ff53e4e254aa9adfbfbf55037f2f0236c2e01436202ef4616c&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/H7J63FVAWVB5BB2IT7N5NRG3XY.jpg?quality=80&auth=b921f8e6bce848ff53e4e254aa9adfbfbf55037f2f0236c2e01436202ef4616c&width=1200 1322w)
Quando se tentava fugir pelo mar os criminosos eram resgatados por lanchas. Mas era quase impossível atingir o continente. De Angra dos Reis ou Mangaratiba, as cidades mais próximas, o trajeto é de mais ou menos duas horas em embarcações de porte. Além do mais, o preso teria que primeiro fugir por terra para ir a outra parte da ilha, porque qualquer embarcação seria avistada na praia onde ficava o presídio. Nessas condições, a captura de fugitivos significava mais um resgate de náufragos. Os policiais não tinham muita pressa na busca, pois sabiam que eles não podiam ir longe.
Mas a Ilha Grande tinha uma brecha, percebida pelos criminosos que elaboraram o plano de fuga de Escadinha. Não havia nenhuma proibição de voos na região. Foi o que fez o ladrão de carros e mentor do plano José Carlos Gregório, o Gordo. Dois meses antes da fuga, Gordo fizera alguns voos na região alegando que estava procurando terras para comprar. No dia da fuga, Escadinha escapou do presídio e foi para a praia Coroa Grande. Lá esperou Gordo que o resgatou.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/MIB2DRG5GVNNZPEXNLV6BQN4HA.jpg?quality=80&auth=47b28fb42b944be88b1c10ed4a6308a18d776b9b93c1194057cb41c33d02ef04&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/MIB2DRG5GVNNZPEXNLV6BQN4HA.jpg?quality=80&auth=47b28fb42b944be88b1c10ed4a6308a18d776b9b93c1194057cb41c33d02ef04&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/MIB2DRG5GVNNZPEXNLV6BQN4HA.jpg?quality=80&auth=47b28fb42b944be88b1c10ed4a6308a18d776b9b93c1194057cb41c33d02ef04&width=1200 1322w)
Por ironia do destino, Escadinha voltou ao presídio da mesma forma que fugiu: de helicóptero. Ele foi capturado no final de março numa cama de hospital, após ter levado dois tiros durante conflito entre a PM e seus comparsas, no morro do Juramento.
A morte de Escadinha
Escadinha foi morto com dois tiros de fuzil na Avenida Brasil a caminho do trabalho em 23 de setembro de 2004. Preso em 1982, ele cumpria pena em regime semi-aberto desde 1999 e deixava a prisão diariamente para trabalhar numa cooperativa de táxi e voltava à noite. Escadinha era tido como um dos integrantes pioneiros da Falange Vermelha, organização criminosa que deu origem ao Comando Vermelho, mas um pesquisador contestava essa informação.
Estadão - 24 de setembro de 2004
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ORSUGVHMZZEN5E76VTR7GHADXU.jpg?quality=80&auth=20741b6b19062b56e41022889e9d3251a1fb9ff88797bf51bda5038b80d78313&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ORSUGVHMZZEN5E76VTR7GHADXU.jpg?quality=80&auth=20741b6b19062b56e41022889e9d3251a1fb9ff88797bf51bda5038b80d78313&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/ORSUGVHMZZEN5E76VTR7GHADXU.jpg?quality=80&auth=20741b6b19062b56e41022889e9d3251a1fb9ff88797bf51bda5038b80d78313&width=1200 1322w)