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Aliança federal e ataques a Wagner dão tom de eleição dura em Salvador

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Por EDUARDO SIMÕES

Depois de terminarem praticamente empatados no primeiro turno das eleições em Salvador, Nelson Pelegrino (PT) mantém a aposta no apoio da presidente Dilma Rousseff enquanto seu adversário, ACM Neto (DEM), centra fogo no mal avaliado governo estadual do petista Jaques Wagner para vencer a disputa pela prefeitura. Com uma diferença a favor de ACM Neto de pouco mais de 5 mil votos, num universo de quase 2 milhões de eleitores, a disputa segue em alta tensão. Os petistas fazem críticas ao carlismo, do qual o candidato do DEM é herdeiro, já a campanha de ACM Neto bate em Wagner ao mesmo tempo em que usa o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal para atacar o PT. Em comum, os dois candidatos só têm o fato de querer distância do impopular prefeito, João Henrique Carneiro (PP). Para a campanha petista, o alinhamento entre as três esferas de governo seria o grande trunfo de Pelegrino para "salvar" a capital baiana. "Nelson é o único que tem força para realizar por Salvador. Neto não tem força política para viabilizar um projeto para a terceira maior cidade do país, com o nível de endividamento que Salvador tem, sem articulação política no âmbito nacional", argumentou a senadora Lídice da Mata (PSB), ex-prefeita da capital baiana e integrante da coordenação de Pelegrino. Um exemplo desse alinhamento é a esperada participação de Dilma em comício na sexta-feira no maior bairro popular da capital baiana. Para se contrapor ao apoio da presidente, o candidato do DEM, que no início da disputa defendia que "Salvador tem de andar com os próprios pés", agora usa a aliança com o PMDB baiano no segundo turno para dizer que o partido que tem o vice-presidente da República, Michel Temer, lhe dará uma "ponte para Brasília". Mas se o PMDB baiano decidiu apoiar ACM Neto, o candidato do partido no primeiro turno, o ex-prefeito Mário Kertész, que ficou em terceiro lugar, com 9,43 por cento dos votos válidos, pediu desligamento da legenda para apoiar Pelegrino. ESTADO, MENSALÃO E CARLISMO A estratégia central do DEM, no entanto, continua sendo as críticas ao governo Wagner, especialmente na área de segurança pública. "O governador Jaques Wagner é um helicóptero para carregar, sem motor", disse o coordenador da campanha de ACM Neto, o ex-deputado federal José Carlos Aleluia. "A Bahia tem perdido protagonismo, importância e tem se tornado um dos Estados mais violentos... Jaques Wagner é a prova de que o alinhamento não traz benefícios para a população." O mensalão também tem entrado na campanha do DEM, especialmente para mostrar o papel de ACM Neto que, como deputado, foi um dos protagonistas da CPI que investigou o escândalo. Herdeiro do modo de fazer política e do patrimônio político de seu falecido avô, o senador Antônio Carlos Magalhães, ACM Neto busca se beneficiar do carlismo que dominou a política baiana por décadas. Já Pelegrino tenta colar no adversário aspectos negativos das práticas que dominaram o Estado no período em que ACM dava as cartas. "O carlismo ainda é forte na Bahia. Apesar de muito longe do que era no auge do domínio do ACM, ainda tem um eleitorado seguidor do carlismo", disse Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores Associados. Falando com a Reuters, a ex-prefeita Lídice da Mata, no entanto, procurou minimizar o impacto do carlismo. "A interferência que tinha que ter, teve no primeiro turno." A campanha petista tem buscado associar uma eventual eleição de ACM Neto à volta do carlismo e a um "retrocesso" na política da cidade. Um dos motes é afirmar que "antes a Bahia tinha dono, agora não tem". A herança carlista, entretanto, não é rejeitada pelo campo de ACM Neto. "O Neto é diferente de Antônio Carlos. É uma nova pessoa com novas ideias, num novo tempo", disse Aleluia. "Mas nós temos que nos orgulhar, porque a Bahia no tempo de Antônio Carlos era muito melhor do que a Bahia de hoje." Para Joviniano Neto, professor de ciência política da Universidade Federal da Bahia, a associação de ACM Neto ao avô pode ser benéfica para o candidato do DEM, especialmente em um momento em que a população mostra grande insatisfação, especialmente com a segurança pública. "No imaginário popular há a imagem que na época dele (ACM) se enfrentava os bandidos com violência. Que na época dele, bandido não medrava, não se criava", disse Joviniano. "A imagem de força, de centralização das decisões, o ACM Neto está usando. Isso é parte da marca. Parte da marca também é a competência gerencial." Sem pesquisas de Ibope e Datafolha divulgadas depois do primeiro turno das eleições, cada campanha canta vantagens na disputa. Mas os analistas ainda veem equilíbrio. "Se for pensar em articulação, em organização de militância, Pelegrino tem vantagem. Mas o clima de insatisfação na cidade... fortalece um candidato que se apresenta como candidato de oposição", disse Joviniano.

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