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Num último ato, tão dramático quanto improvável, o debilitado governo militar argentino, conhecido por sua impiedosa máquina repressão e sua retórica salvacionista, ao ver sua sobrevivência ameaçada pela grave crise econômica e crescente insatisfação popular, buscou reunir a massa em torno de uma causa e consequentemente de si. Para tal, desenterrou uma querela antiga e provocou uma potência ao ponto de transformá-la num inimigo externo.
Este foi o capítulo mais trágico da centenária disputa entre Inglaterra e Argentina pelas ilhas austrais no Atlântico Sul - Malvinas para os argentinos e Falkland para ingleses. A guerra teve início há 30 anos, quando tropas argentinas invadiram o arquipélago colonial inglês, no começo de abril de 1982.
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Soldados argentinos enfrentam chuva e vento, em Port Stanley. Foto: Arquivo/AE
Em pouco tempo a Inglaterra reagiu, lançou uma força tarefa digna da tradição militar e imponência de sua armada. A participação do príncipe Andrew, então segundo na linha sucessória do trono , nos combates aéreos não deixaram dúvidas sobre a disposição inglesa para recuperar sua antiga possessão.
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Patrulha de soldados ingleses encontra centenas de pinguins. As Malvinas tem uma das maiores populações da ave fora da Antártida. Foto: Arquivo/AE
As motivações para o enfrentamento eram nebulosas. A opinião pública inglesa e a argentina não apoiavam nem entendiam a disputa bélica por um território inóspito e de riquezas duvidosas. Mas, uma vez despertado o orgulho patriótico nestes países, os ganhos da vitória se tornaram mais evidentes. Quem venceu não apenas deteve a posse sobre o território e salvou a honra de seu país, mas garantiu o futuro de seu governo. Entre os louros, o vencedor colheu uma onda de fervorosa popularidade. O perdedor também colheu fervor, mas na forma de revolta.
Momento de glória para a conservadora Margaret Thatcher, que da vitória inglesa tirou votos, reelegeu-se primeira-ministra nas eleições inglesas de 1983.
O Estado de S.Paulo - 15/06/1982
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Soldados argentinos em fila para depõe suas armas em Port Stanley. Foto: Arquivo/AE
Dias de vergonha para os militares na Argentina, o general Leopoldo Galtieri renunciou 3 dias após a derrota. O triste espetáculo da volta dos soldados, que optaram pela rendição e retornaram contando os horrores particulares desta guerra - a fome, pois a comida era fria e insuficiente, o frio que os impedia de dormir e até de moverem-se, pois suas vestimentas não eram apropriadas para o gélido clima local - agitou a massa insatisfeita na Argentina. A derrota levou ao agravou da crise econômica no país, e à derrocada da Ditadura Militar.
O Estado de S.Paulo - 15/06/1982
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O Estado realizou uma extensa cobertura sobre o conflito. Matérias diárias informaram sobre as frustadas tentativas de resolução diplomática, o início dos confrontos, as manobras militares, as armas, efetivos e táticas de combate aéreo e marítimo utilizadas. Enviados especiais cobriram a trágica realidade no fronte, enquanto correspondentes noticiavam as decisões tomadas em Buenos Aires e Londres e a reação da população argentina e inglesa após cada dia de combates nas ilhas geladas.
O conflito gerou temores internacionais, países mobilizaram-se para conter as indiscutíveis perdas no campo das relações internacionais. Atentos a isso correspondentes de diversas partes do mundo analisavam as consequência globais da guerra.
Nos editoriais, o jornal apoiou o "ecumênico neutralismo da nossa diplomacia", preocupado com os problemas que um alinhamento trariam ao País. Reafirmando a incompreensão internacional , apontou o carácter tragicômico do embate, chamando-o de guerra de opereta, onde governos "encontram pretexto de endurecimento em arroubos nacionalistas, e os utilizam para desviar a opinião pública interna dos verdadeiros problemas com que se defrontam as nações envolvidas."
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Uma caricatura espanhola apostava que, apesar de a Argentina ter perdido a guerra das Malvinas para a Inglaterra, o resultado em campo seria diferente na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. O confronto esperado, no entanto, não aconteceu. Imagem: Arquivo/AE
Pesquisa e texto: Lizbeth Batista
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