PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Centrão vê Pacheco como ‘picolé de chuchu’ mineiro e monta estratégia para reagir à CPI da Covid

Avaliação do grupo de Lira é a de que senador age em dobradinha com Renan e Alcolumbre contra Planalto

PUBLICIDADE

Foto do author Vera Rosa

Caro leitor,

PUBLICIDADE

O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), está inconformado com o pedido de indiciamento de deputados por crimes na condução da pandemia do novo coronavírus, apresentado pela CPI da Covid. Em público, joga a culpa no relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), seu adversário político. Mas não é só: Lira também avalia, nos bastidores, que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), recém-filiado ao PSD, fez corpo mole e só agiu para evitar a punição de seus próprios colegas, deixando a CPI se voltar contra os bolsonaristas da Câmara.

Pacheco é visto por integrantes do Centrão de Lira como uma espécie de “picolé de chuchu” mineiro, que tenta ressuscitar a política do café com leite. O apelido foi dado há quase 20 anos ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin – hoje de saída do PSDB e também em negociação para se filiar ao PSD –, na tentativa de batizar o estilo do tucano como “insosso”. Pegou e virou até marketing de campanha.

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, durante cerimônia de filiação ao PSD,no Memorial JK, em Brasília Foto: Adriano Machado/Reuters

O Centrão, aliás, apoiou oficialmente o picolé de chuchu “original” nas eleições de 2018 contra Jair Bolsonaro, mas as traições ao casamento de papel passado predominaram naquela disputa. Agora, no entanto, o cenário é muito diferente e o combate do Centrão, neste primeiro momento, é contra a chamada “terceira via”.

A cerimônia de filiação de Pacheco ao PSD de Gilberto Kassab, nesta quarta-feira, 27, foi planejada em detalhes para vendê-lo como “um novo JK” na eleição de 2022 ao Palácio do Planalto. Ao som de “Peixe Vivo” – canção folclórica que virou hino da trajetória do ex-presidente Juscelino Kubitschek –, o advogado que comanda o Congresso foi apresentado no encontro como dono de um estilo apaziguador.

Publicidade

Mesmo sem assumir a candidatura à sucessão de Bolsonaro, Pacheco fez discurso de desafiante. “O caminho para solucionar as várias crises é a união. Passou da hora de buscarmos o diálogo e o equilíbrio”, disse ele, no Memorial JK, em Brasília. Nessa toada, o próximo passo será um Plano de Metas na linha dos “50 anos em 5”.

Bolsonaro e seus aliados do Centrão desconfiam do bom mocismo de Pacheco e acham que ele joga para a plateia, dando seta para a centro-direita e sinalizando para uma ala do PT. Há no Planalto a convicção de que o mineiro age agora em dobradinha com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (DEM-AP), para barrar a indicação de André Mendonça a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Alcolumbre, por sinal, estava na solenidade de filiação de Pacheco ao PSD.

“O presidente da CCJ foi meu aliado por dois anos. Por que essa mudança? Não sei o que ele quer”, disse Bolsonaro a evangélicos da Assembleia de Deus, em Manaus, na noite desta quarta-feira, ao se referir à resistência de Alcolumbre em pautar a sabatina de Mendonça, ex-advogado-geral da União e ex-ministro da Justiça.

Para o grupo de Lira, Alcolumbre foi um dos “protegidos” pela CPI da Covid. Um deputado ligado ao presidente da Câmara lembrou, por exemplo, que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias – indicado na gestão de Luiz Henrique Mandetta por Ricardo Barros (Progressistas-PR), hoje líder do governo na Câmara – só permaneceu no cargo porque Alcolumbre o bancou.

Na avaliação de integrantes do Centrão, o Senado tem “muito telhado de vidro”, mas a CPI não os expôs. Com pedido de indiciamento no relatório da comissão, por defender tratamentos ineficazes contra o coronavírus, o senador Luiz Carlos Heinze (Progressistas-RS), por exemplo, teve o nome retirado do relatório na última hora, a pedido de Pacheco. A atitude foi vista como corporativista pelo presidente da Câmara, que é do mesmo partido de Heinze.

Publicidade

“Não se pode aplicar dois pesos e duas medidas no mesmo relatório sobre parlamentares do Congresso Nacional”, criticou Lira, reclamando de tratamento desigual. Renan lembrou que o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho 01 do presidente, tem pedido de indiciamento no relatório. “O papel de Arthur Lira é defender a Casa. Não é defender a impunidade”, reagiu.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A Câmara articula uma estratégia para acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), contestando o trecho do relatório que pede a punição de deputados. Além de Ricardo Barros, a lista dos alvos da CPI inclui Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Carlos Jordy (PSL-RJ) e Osmar Terra (MDB-RS), que também aparecem no inquérito das fake news, em tramitação no Supremo.

Embora não se possa dizer que a passagem entre os salões Verde e Azul do Congresso tenha virado uma Faixa de Gaza, o contraponto entre Lira e Pacheco chama a atenção. Detalhe: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI), é senador e foi alçado ao cargo no figurino de “amortecedor” político justamente para resolver a falta de interlocução do Salão Azul com o governo.

Nessa queda de braço, aliados do “picolé de chuchu” mineiro afirmam que o presidente do Senado “não leva a disputa eleitoral para o plenário” e veem uma tropa de choque bolsonarista, capitaneada por Lira, agindo cada vez com mais desenvoltura na Câmara. Na prática, porém, o modo eleição entrou há tempos na agenda do Congresso. O palanque de 2022 está em acelerado processo de montagem, tanto para um lado como para o outro. Com ou sem picolé de chuchu.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.