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China nega que governo tenha atirado em tibetanos

Governador admite 13 mortos em confrontos; líderes tibetanos falam em 80 mortos.

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Por Marina Wentzel

Um alto funcionário do governo chinês negou nesta segunda-feira que tropas do país tenham usado de força letal para controlar os protestos que eclodiram na sexta-feira em Lhasa, capital do Tibete. "Eu posso dizer como oficial encarregado que armas não foram disparadas" afirmou Qiangba Puncog, governador da província autônoma do Tibete, em entrevista coletiva à imprensa na capital, Pequim. Qiangba ressaltou que as tropas leais ao governo chinês não fizeram uso de "armas mortais" e defendeu que a capital, Lhasa, estaria retornando à normalidade à medida em que se aproxima o fim do prazo para os revoltosos se entregarem. O ultimato do governo chinês vence nesta segunda-feira, à meia-noite, horário local (13h de Brasília). Números oficiais Qiangba disse que apenas 13 "civis inocentes" morreram nos protestos, o que contrasta com o número estimado pelo governo do Tibete no exílio, liderado pelo Dalai Lama, que coloca em pelo menos 80 o total de vítimas fatais. Segundo os dados estatais apresentados por Qiangba, 13 pessoas morreram, 61 soldados ficaram feridos e houve mais de 300 focos de incêndio, dos quais 215 em lojas. Organizações não-governamentais pró-Tibete discordam da versão oficial dos fatos e defendem que os mortos no conflito seriam seguramente mais do que 13. Outras províncias As declarações oficiais são feitas em meio a rumores de que os protestos estão se espalhando para outras províncias. Testemunhas disseram que manifestantes pró-Tibete entraram em choque com a polícia no domingo na cidade de Aba, província de Sichuan. A polícia teria aberto fogo contra cerca de mil monges que participavam de um protesto. Segundo Kate Saunders, do grupo International Campaign for Tibete, fontes locais de confiança da ONG estimam em sete o número de mortos. Também teriam ocorrido protestos na cidade de Manchu, província de Gansu, onde centenas marcharam em frente a prédios do governo e atearam fogo em lojas e escritórios de companhias chinesas, a ONG Free Tibet Campaign disse a agências internacionais. China: "Culpa do Dalai Lama" Durante a entrevista coletiva, Qiangba seguiu a linha do governo e culpou novamente o "bando do Dalai Lama" pelos confrontos. Qiangba também instou os tibetanos que participaram dos protestos a se entregar. "Se essas pessoas puderem oferecer mais informações sobre os envolvidos, elas serão tratadas com clemência", mas aqueles que cometeram crimes sérios serão "duramente" punidos, prometeu. Por sua vez, o Dalai Lama pediu, em entrevista à BBC neste fim-de-semana, que seja feita uma investigação internacional para apurar as ações da China durante a repressão aos protestos e se isentou de responsabilidade. "Eu sou o porta-voz do povo tibetano, não o controlador, o mestre. É um movimento popular, então depende deles. O que quer que eles façam, eu preciso agir de acordo", disse o líder espiritual. "Eu já recebi um pedido do (povo do) Tibete: não peça para as manifestações pararem", disse ele. Situação A imprensa estatal diz que a situação em Lhasa já está normalizada e as escolas funcionam normalmente nesta segunda-feira, mas um morador local contatado pelo Serviço Mundial da BBC disse que, pela manhã, o comércio continuava fechado e havia forte presença policial nas ruas. Não há mantimentos suficientes em Lhasa e o preço dos alimentos dobrou desde sexta, informou o jornal South China Morning Post de Hong Kong. "Se a situação não melhorar, vamos ficar sem arroz em poucos dias", disse Liu Xiaoyu, proprietário de um restaurante na capital tibetana ao jornal. Confirmar as declarações das ONG e do governo é difícil, pois o partido comunista controla fortemente o acesso ao Tibete e censura o trabalho da imprensa. Uma equipe de TV de Hong Kong foi forçada a sair de Lhasa depois de transmitir imagens dos protestos e o governo não está emitindo vistos de acesso a jornalistas internacionais que queiram visitar a área. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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