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Grupo deve ter relevância limitada

Celac é redundante, tem objetivos etéreos e nasce sem agenda definida

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Oficializada ontem pelos 32 países presentes em Cancún, a sonhada instituição hemisférica "livre da tutela de Washington" tem parcas chances de tornar-se um elemento relevante na paisagem internacional, dizem analistas. A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) nasce sem uma agenda definida, em redundância com instâncias que já existem e a gosto de um freguês específico, o México.O novo organismo tem objetivos etéreos, como "impulsionar o desenvolvimento e integração", e buscar um "melhor posicionamento comum ante acontecimentos globais". "Mal estamos conseguindo implementar a Unasul, restrita à América do Sul, uma unidade geopolítica clara", afirma Ricardo Sennes, da consultoria Prospectiva. "Imagine uma instituição latino-americana. Qual seria sua identidade? Não é possível ter uma viabilidade efetiva." A Celac seria também mais um exemplo do aumento excessivo de organizações internacionais na América Latina. Essa proliferação é "autodestrutiva" e prova que o modelo dessas instituições está equivocado, diz José Augusto Guilhon Albuquerque, professor de Relações Internacionais da USP. "Estamos voltando a um passado não invejado de criação de organismos burocráticos altamente ineficientes", lamenta Guilhon. O contraexemplo à esse tipo de organização seria o Mercosul, que iniciou uma "nova era" ao adotar um formato reduzido, tendo objetivos claramente delineados.A busca de uma instância regional da qual os EUA não façam parte é "correta", defende Guilhon. Contudo é um "equívoco" fazer isso criando mais uma organização.MÉXICO E BRASILA Celac é, sobretudo, um desejo do presidente mexicano, Felipe Calderón. Desde os anos 90, o México tem concentrado atenções nos EUA, com o qual firmou o Nafta em 1994. A nova instituição seria uma forma de retomar a "política latino-americana", explica Sennes.Ambos os analistas afirmam que, desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o Brasil privilegia projetos de integração voltados especificamente à América do Sul, em detrimento de iniciativas que abarquem toda a América Latina. Assim, a entidade criada ontem em Cancún é "incoerente" com a estratégia brasileira, opina Guilhon. Para Sennes, a nova organização hemisférica "não está entre as prioridades do Brasil".PRINCIPAIS ORGANIZAÇÕES Unasul - Criada em 2004, busca a unidade política e econômica da América do Sul Mercosul - União aduaneira sul-americana com 4 signatários e 6 associados Alba - Grupo liderado pela Venezuela com 8 países da região Grupo do Rio - Com 18 integrantes, é um mecanismo de consulta sem a participação dos EUA

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