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Indígena Yanomami morre em hospital de Roraima; dois filhos estão internados com desnutrição grave

Mulher de 33 anos havia dado entrada no local no dia 24 e estava na UTI do Hospital Geral. Liderança e criança morreram em comunidade, relatam representantes

Por Cyneida Correia
Atualização:

Uma mulher indígena que estava internada em Boa Vista morreu na sexta-feira, 27, em decorrência do agravamento do seu estado de saúde. Rodênia Yanomami tinha 33 anos e estava na UTI do Hospital Geral de Roraima. Dois filhos estão internados com desnutrição severa no Hospital da Criança Santo Antônio, na capital roraimense.

Representantes também informaram sobre a morte de um líder e de uma criança de 9 anos na comunidade Surucucu, base da terra indígena no Estado. A mulher que morreu na sexta-feira havia dado entrada na unidade de saúde no último dia 24, com quadro clínico de diarreia, desnutrição e malária.

Yanomamis estão sendo atendidos no Hospital Santo Antônio, conhecido como Hospital da Criança, em Boa Vista.  Foto: ALEX PAIVA /ESTADÃO

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Já os corpos do líder indígena e da criança, até as últimas atualizações, ainda não tinham sido resgatados por estarem em local de difícil acesso em Surucucu, região situada a cerca de 270 km da capital.

As principais causas das mortes na população são doença diarréica aguda, desnutrição grave, pneumonia e malária.

A denúncia foi feita pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi), Júnior Hekurari Yanomami. “O número de profissionais não é suficiente para atender o Povo Yanomami, além de não terem as condições de trabalho necessárias. Existe também a presença dos garimpeiros na Terra Indígena Yanomami, o que colabora para o aumento do número de doenças e mortes, pois os mesmos impedem o funcionamento de postos de saúde”, relatou Hekurari.

Em 4 anos, 570 vítimas

Ao menos 570 crianças Yanomamis morreram por causas evitáveis durante os últimos quatro anos, segundo a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

A pneumonia foi responsável por 1/3 das mortes evitáveis de crianças Yanomami com até 5 anos de idade em 2022, segundo dados do Sisai (Sistema de Informações da Atençāo à Saúde Indígena). Ao todo, 99 indígenas nessa faixa etária morreram somente em 2022, sendo 33 deles em razão de inflamação nos pulmões.

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As principais causas das mortes da população yanomami são doença diarréica aguda, gastroenterocolite aguda, desnutrição, desnutrição grave, pneumonia e malária Foto: Alex Paiva/Estadão

Outros problemas respiratórios como a covid-19 foram responsáveis por mais cinco mortes. Desnutrição e diarreia foram as causas das outras mortes.

Governo afirma ter feito quase 30 mil atendimentos

Para além das mortes, o sistema de saúde de Roraima pode colapsar por conta do aumento do atendimento de indígenas, juntamente com o atendimento aos migrantes venezuelanos que já ocorre desde a crise na Venezuela em 2019.

Foram registrados 27.650 atendimentos aos indígenas nas unidades de saúde de médio e grande porte em Roraima no último ano, dados confirmados pelo governo de Roraima.

O governo de Roraima informou que está oferecendo, além de apoio logístico, o envio de 203 mil unidades de medicamentos e composto nutricional para os povos Yanomami.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

“Na saúde, mesmo não tendo recebido nenhum tipo de pedido oficial por parte do governo federal, o governo de Roraima já realizou, ao longo dos quatro anos de gestão, 27.650 atendimentos aos indígenas nas unidades de saúde de médio e grande porte do Estado. Isso demonstra claramente o compromisso do governo de Roraima com os povos indígenas, ou melhor, compromisso com todos os roraimenses sejam eles indígenas ou não”, destacou em nota o governo.

De crianças, somente na capital, onde existe a única unidade de saúde em Roraima que atende crianças a partir dos 29 dias de vida até 12 anos, foram 703 internações de indígenas yanomami em 2022. Até o dia 25 de janeiro de 2023, tinham 62 indígenas internados no local. Desses, 46 são crianças yanomami.

A Casa de Apoio da Saúde Indígena, em Boa Vista, até sexta-feira atendia 576 indígenas – o local, com capacidade máxima de 300 pessoas, chegou a suportar 777 há dez dias.

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São pessoas em atendimento ou aguardando atendimento de saúde pelo SUS. Desses 700, cerca de 170 já estão aptos a voltar para suas aldeias e não voltam por falta de transporte.

Há mais ou menos seis meses a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) cancelou os contratos com a empresa que faz o percurso aéreo. Muitos dos indígenas caminham mais de 200 quilômetros tentando chegar em casa, mesmo saindo de um quadro de doença e estando subnutridos.

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