PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Jornalismo, educação, tecnologia e as combinações disso tudo

Opinião|A tecnologia deveria proteger os usuários, e não os enganar

PUBLICIDADE

Foto do author Paulo Silvestre
Smartphones nos oferecem comodidades incríveis, mas podem abrir as portas para crimes digitais - Foto: Freepik/Creative Commons

De maneira geral, novas tecnologias são criadas para o bem da humanidade. Claro que existem aquelas encomendadas para o mal desde sua raiz, e há também usos ruins de algo positivo: por exemplo, a mesma energia nuclear que gera eletricidade pode viabilizar uma arma de destruição em massa. Mas outras tecnologias bem mais próximas de nós, como nossos smartphones, nos desafiam com essa ambivalência cotidianamente.

PUBLICIDADE

Por mais que nos proporcionem grande produtividade, diversão e outros benefícios incomparáveis, esses aparelhos também nos trazem ameaças. Não pelo que são, mas por apropriações inadequadas de todo o seu poder. E infelizmente os responsáveis pelos equipamentos e pelos incontáveis aplicativos que rodamos neles fazem pouco para nos proteger dos cibercriminosos.

A pergunta inevitável é: por que isso ainda acontece, se os prejuízos podem ser tão devastadores?

A verdade é que é muito mais fácil enganar um usuário, mesmo alguém bem instruído digitalmente, que hackear um sistema, especialmente aqueles que podem trazer gordos ganhos aos bandidos.

Publicidade

Os smartphones facilitam isso, pois são a única coisa que carregamos conosco o tempo todo. A maioria das pessoas não toma com eles cuidados básicos que tem com seus computadores, como instalar um antivírus. E há aspectos emocionais, que nos levam a acreditar facilmente no que nos chega pelo WhatsApp de quem conhecemos (ou de quem diz ser alguém que conhecemos).

Confiamos em mensagens fraudulentas pedindo dinheiro ou abrimos aplicativos ou links que disparam vírus. No ano passado, pessoas no mundo todo perderam mais de US$ 1 trilhão com esses golpes!

Esses descuidos também causam grandes prejuízos a instituições. Por exemplo, em 2017, vírus como o WannaCry e o Petya infectaram milhares de computadores pelo mundo, tornando-os inoperantes até que a vítima pagasse um resgate, uma prática conhecida como ransonware. Houve também custos humanos imensos: uma das vítimas foi o Hospital do Amor, em Barretos (SP), que trata câncer gratuitamente. Com o ataque, cerca de 3.000 consultas e exames foram cancelados e 350 pacientes ficaram sem radioterapia.

Como advento da inteligência artificial, esses golpes podem ficar cada vez mais críveis, aumentando a quantidade de vítimas, com textos mais convincentes, além de áudios e até vídeos que simulem com perfeição pessoas conhecidas.

Publicidade

A boa notícia é que essa mesma tecnologia também está sendo usada para aumentar a proteção dos usuários. Na semana passada, por exemplo, o Google anunciou dois recursos de segurança que devem chegar aos smartphones Android até o fim do ano.

PUBLICIDADE

Um deles monitora em tempo real conversas por voz de números desconhecidos, procurando por frases que indiquem golpes. Nesse caso, a IA alerta o usuário, explicando o risco. O outro recurso bloqueia o celular se ele for tirado abruptamente de sua mão, como no caso de um assalto por alguém em uma bicicleta, inspirado na grande quantidade desse crime no Brasil.

Só o tempo dirá se essas funcionalidades serão realmente eficazes. A bandidagem digital consegue ser muito astuta, até mesmo para burlar proteções de sistemas.

De todo jeito, essas iniciativas são bem-vindas e deveriam inspirar outras big techs a fazer muito mais para proteger seus usuários. Eles são o elo frágil na segurança, e não se pode jogar sobre as pessoas a responsabilidade pelo problema.

Dado que os criminosos continuarão usando os recursos digitais com incrível habilidade, cabe aos desenvolvedores, autoridades e instituições bancárias investirem muitíssimo mais que o que fazem atualmente para proteger a população. Já passou da hora de podermos usufruir dos benefícios da tecnologia sem ter que ficar, o tempo todo, preocupados com que isso possa nos causar enormes dores de cabeça por algo que, no final, nem deveria ser nossa culpa.

Publicidade


Vídeo relacionado:

 

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.