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Opinião|IA pode trazer enormes ganhos, mas investimentos devem ser conscientes

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Atualização:
Não basta que uma solução seja impulsionada por inteligência artificial para que seja adotada - Foto: WolfVision GmbH/Creative Commons

Desde que o ChatGPT foi lançado, há apenas 15 meses, a inteligência artificial tomou de assalto o mundo da tecnologia e dos negócios. Se antes o tema pertencia a um grupo restrito de especialistas de TI, hoje todos querem pular nesse barco e aproveitar seus benefícios "quase mágicos". Mas essa percepção pode ser distorcida, levando a investimentos que não trarão os resultados esperados.

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Em um estudo divulgado em julho passado, cinco pesquisadores da McKinsey, liderados por Eric Lamarre, sócio-sênior do escritório da consultoria em Boston (EUA), concluíram que, embora 89% das grandes empresas no mundo tenham projetos de transformação digital e de IA em curso, apenas 31% aumentaram as receitas e 25% diminuíram custos como esperado.

Esses resultados podem atrapalhar grandes investimentos em transformação digital. Segundo o grupo, gestores podem preferir investir em um segundo momento, depois de outras empresas terem desbravado uma nova tecnologia. Isso pode, de fato, reduzir riscos, mas diminui também a chance de consolidarem uma liderança estratégica por um bom uso do recurso desde cedo.

"Assim como a beleza está nos olhos de quem vê, o valor também está nos olhos de quem vê", afirma Anurag Goel, líder global de "Business Value Practice" da Red Hat, líder mundial de software empresarial open source. Conversamos sobre isso durante sua visita ao Brasil nessa semana.

Ou seja, é preciso saber o que é valioso para cada caso. Para ele, que lidera uma equipe que identifica as melhores soluções tecnológicas para resolver as necessidades de negócios, os baixos resultados indicados nessa pesquisa podem ter muitas causas, como um escopo de projeto mal definido ou uma implementação deficiente. "Você também precisa garantir que haja uma mudança de processo, uma mudança de pessoas, que andem de mãos dadas com a tecnologia", explica.

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Segundo o executivo, a inteligência artificial representa uma transformação tecnológica fabulosa, mas as empresas não devem fazer investimentos inconsequentes em algo só porque é movido por IA. Deve ser feito um estudo cuidados para se identificar quais benefícios essa tecnologia pode trazer para o negócio e como isso será feito, para evitar a alocação de grandes volumes de recursos que eventualmente poderiam ser mais bem aproveitados em outras áreas, que também precisam de investimento.

Goel também recomenda que tudo seja bem documentado desde o princípio, com expectativas, metas e prazos bem especificados, para que nada se torne subjetivo ou pouco objetivo. Isso facilita também que os resultados possam ser monitorados com precisão, fazendo eventuais correções necessárias.

Na atual intersecção do mundo digital com o corporativo, as decisões de adotar uma tecnologia não pode mais se restringir a aspectos técnicos. Da mesma forma, os gestores da área de negócios precisam entender que dependem criticamente da tecnologia. Por isso, os executivos de TI agora precisam necessariamente fazer parte das decisões da empresa, não como área de suporte, mas indicando caminhos de toda a operação.

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Além disso, com a disseminação da IA em soluções das mais diversas, a segurança se torna ainda mais crítica. Ela depende não apenas de uma boa plataforma, mas também de bons dados para que traga resultados interessantes. E isso aumenta as exigências de uma boa governança nas corporações, para garantir que as informações de um cliente não "vazem" para outros usos.

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Essa preocupação transcende o mundo dos negócios, podendo expor até mesmo nações. Em um artigo recente, o New York Times explicou como empresas chinesas de inteligência artificial estão usando soluções de americanas, como a plataforma LLaMA, da Meta, para tentar tirar seu grande atraso em relações aos sistemas ocidentais. Por isso, o governo americano tenta restringir o acesso da China a tecnologias necessárias para o desenvolvimento da IA, como os novos e poderosos processadores dedicados.

Assim, mais que fazermos investimentos corretos, precisamos estar atentos aos impactos que a inteligência artificial terá no cotidiano de empresas e de pessoas. "A própria raça humana pode ficar em risco se não colocarmos barreiras de proteção na IA", afirma Goel. "Ela (a IA) é boa, mas facilmente pode sair do controle se não houver uma governança adequada", conclui.

 

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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