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Opinião|O que acontecerá quando um robô finalmente roubar o seu trabalho?

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Personagens da série "Battlestar Galactica" (2004): todos são robôs, inclusive a mulher ao centro - Foto: reprodução

Ninguém quer admitir isso, mas você já pensou seriamente que poderá chegar um dia em que uma máquina fará seu trabalho melhor que você, por uma fração do que você custa? Se -ou quando- isso acontecer, o que será de você?

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Felizmente essa ainda é uma questão filosófica, na maioria dos casos, mas o exercício se impõe. Afinal, com a inteligência artificial avançando exponencialmente, é possível que isso aconteça.

Podemos argumentar que essas plataformas de fato não sabem o que dizem: apenas sequenciam estatisticamente palavras, imagens, sons mais prováveis para criar respostas críveis. Isso é muito diferente de como construímos as nossas, elaborando ideias completas antes de apresentá-las.

Há um outro problema da IA: suas já famosas "alucinações", quando, não sabendo o que dizer, apresenta qualquer bobagem como se fosse verdade. E isso já causou dores de cabeça para muita gente.

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A "mágica" da IA se dá pela sua força bruta, capaz de deglutir quantidades inimagináveis de informações. À medida que o poder de processamento cresce, os algoritmos melhoram e o volume de dados fica ainda maior, é de se esperar que as "alucinações" diminuam, até um ponto em que se tornem totalmente aceitáveis.

Nessa hora, seu gestor poderá achar que a IA estará pronta para deixar o papel de coadjuvante e ocupar sua cadeira.

Para muitos usuários, essa hora já chegou em várias coisas. Por exemplo, não param de surgir plataformas de IA com a pretensão de substituir psicólogos. Para mim, isso é uma loucura, pois, apesar de os sistemas serem capazes de criar conversas que façam sentido, a máquina não tem algo essencial a essa profissão: a empatia e a análise de emoções. Mas, para muita gente, encadear palavras com sentido parece bastar.

Vale lembrar que as big techs correm para chegar ao Santo Graal dessa tecnologia: a Inteligência Artificial Geral. Ela suplantaria as limitações da IA atual, comportando-se como a mente humana, inclusive com a iniciativa para tomar decisões sem ser provocada.

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Até para aumentar o valor de seus passes, essas empresas afirmam estar próximas disso. Outros especialistas afirmam que ainda faltaria muito, se é que chegaremos a ela em algum momento.

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Com a IA Geral, em tese qualquer trabalho poderá ser realizado pelas máquinas. Mas se todos formos dispensados, de que viveremos? Estaremos diante de uma mudança social profunda, em que uma renda básica universal será necessária para a manutenção da vida?

Apesar de ser um entusiasta da inteligência artificial, engrosso o coro dos que temem que uma IA geral, com sua consciência sobre-humana (mas não humana), possa tomar decisões que, apesar de logicamente corretas, sejam socialmente erradas.

Isso me remete à série de ficção científica "Battlestar Galactica" (2004), em que os humanos criaram os cylons, robôs com uma IA geral para facilitar sua vida. Mas com o tempo, essas máquinas começaram a desenvolver comportamentos inesperados, como se tornarem religiosas, mais até que os humanos. Lá pelas tantas, caem no lugar-comum de que "o melhor seria exterminar seus criadores".

Mas seu roteiro não é tão óbvio: na história, os cylons evoluíram por conta própria, criando um corpo biológico semelhante ao humano, sentindo emoções (mas não empatia), e até um "espírito" que sobrevivia à morte do corpo. Mas, por mais que tentassem, não conseguiam copiar dos humanos a capacidade de amar.

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Talvez aí esteja a "saída" para resistirmos à IA em nossos trabalhos: nossa humanidade é nosso diferencial! Sentirmos empatia, improvisarmos pela emoção e até o nosso amor nos colocam à frente das máquinas.

O único empecilho a essa "salvação" somos nós mesmos, quando passamos a valorizar uma insensibilidade ao outro, uma meritocracia inconsequente, uma sociedade desumanizada e egoísta.

Esse é o caminho para que os "cylons" nos substituam. Qual você quer tomar?


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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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