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Maria Amélia, ''mãe do Chico'', celebra 100 anos

Festa da matriarca dos Buarque de Holanda reunirá amigos como Lula

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O presidente Lula mandou avisar que vai. Oscar Niemeyer também confirmou presença. Hoje, Maria Amélia Buarque de Holanda, viúva do historiador Sérgio Buarque, completa 100 anos com festa na cobertura do filho Chico Buarque, no Leblon, zona sul do Rio. "Na primeira lista de convidados, só de parentes deu 128 pessoas. Tivemos de fazer alguns cortes", brinca Miúcha, a filha mais velha. Mais difícil do que fazer a lista foi convencer a matriarca de que a data merecia ser festejada. Memélia, apelido que ganhou da neta Bebel Gilberto, acha feio fazer festa de aniversário. "Vai parecer que estou querendo me auto-homenagear", argumentou com os filhos. A família a convenceu de que, na verdade, a celebração era uma homenagem dos 7 filhos e 14 netos à matriarca.Foi assim também quando o diretor Nélson Pereira dos Santos a procurou para dar um depoimento no documentário Raízes do Brasil em comemoração ao centenário de Sérgio, em 2002. Passou três meses dizendo que não gostava de aparecer, que não tinha nada para falar. Quando o diretor chegou ao apartamento de Maria Amélia na Avenida Atlântica, ela contou histórias por horas. "Ela lidera o documentário. Tem uma memória impressionante", conta o cineasta. "É a árvore frondosa da família."Graças ao filme, a família voltou à casa da Rua Buri, no Pacaembu, zona oeste de São Paulo, onde Maria Amélia e Sérgio moraram com os filhos por 25 anos. Os dois se casaram no Rio em 1936. Ela era a mais velha dos dez filhos de Francisco e Maria do Carmo Cesário Alvim, de tradicional família mineira. Ele, jornalista e historiador, tinha acabado de colocar o ponto final em Raízes do Brasil e levava um vida de boêmio no Rio.DEDICAÇÃONos anos 40, o casal se mudou para São Paulo, quando Sérgio foi dirigir o Museu do Ipiranga. Ele trabalhava muito em casa e gostava de ficar no escritório com a janela fechada e a porta que dava para a sala aberta. "Não faz barulho que seu pai está trabalhando" era a ordem que os filhos Miúcha, Sérgio, Álvaro, Chico, Maria do Carmo, Ana e Cristina mais ouviam da mãe. "Ela gritando fazia mais barulho do que a gente", diverte-se Miúcha. Maria Amélia ainda auxiliava o marido no trabalho. "Ela foi uma grande companheira. Ajudava papai nas pesquisas, datilografava os livros que ele escrevia. Até ela achava muito ter sete filhos, mas, muito católica, não evitava gravidez. Quem vinha era bem-vindo". Todos eram obrigados a ir à missa. "O sonho de mamãe era ter um filho padre", entrega Miúcha. Não conseguiu. "Somos todos pecadores." Maria Amélia sempre foi enérgica com os filhos. Miúcha lembra que, adolescente, descobriu que Chico, irmão mais novo, já tinha a chave de casa e ela não. Foi cobrar do pai. "Você vive dizendo que homem e mulher têm os mesmos direitos. Por que, então, eu não tenho a chave?" Sérgio foi rápido: "Homens e mulheres são iguais. Mas quem sabe é a sua mãe."Quando os filhos cresceram e ela passou a ser "a mãe do Chico", continuou do mesmo jeito. "Maria Amélia não faz distinção", testemunha Affonso Arinos de Mello Franco, primo em segundo grau. "Ela é uma espécie de anjo da guarda da família. Cuidou das irmãs quando elas adoeceram. É capaz de se dedicar a todo mundo, mas detesta ter de cuidar da saúde dela." Aos 100 anos, Maria Amélia está bem. A cabeça continua funcionando perfeitamente. "Lembra de tudo como se tivesse 50 anos", define Franco. As pernas estão fracas, o que a obriga a usar cadeira de rodas, coisa que detesta. O apartamento da Avenida Atlântica vive cheio e Maria Amélia adora o Rio. Torcedora do Fluminense, apaixonada pela Mangueira, quando o marido morreu, ela decidiu voltar à cidade. Escolheu Copacabana, embora considere o bairro "uma porcaria". Sua paixão é a vista da praia com o Pão de Açúcar ao fundo.A festa da matriarca começará às 18 horas com a bênção de Frei Betto. Foi ele quem, em 1989, entregou ao comitê do então candidato Lula a primeira doação para a campanha presidencial: um cheque com a pensão que Maria Amélia recebia como viúva de Sérgio, membro-fundador do PT. No réveillon, Lula telefonou e, no início da conversa, Maria Amélia achou que fosse trote. "Conheço bem a voz do Lula e não é assim."

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