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O mundo das viagens e as minhas viagens pelo mundo

Salve Jorge, do Rio de Janeiro a Barcelona, Portugal e Inglaterra

Veja um caleidoscópio de ideias inspiradas pelo 23 de abril, para você visitar no Dia de São Jorge ou não. Ah, acompanha sugestão de trilha sonora

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Por Nathalia Molina
Atualização:

23 de abril, Dia de São Jorge. O mártir Jorge da Capadócia. Aquele que leva todo ano fiéis, vestidos de vermelho, a igrejas na zona norte e no Centro do Rio de Janeiro. Também o que arrebata tantos brasileiros pela fé em Ogum. O que ele pode ter a ver com viagem? Resolvi descobrir para escrever aqui e acabei revistando e encontrando lugares e sentimentos, da carioquice guardada em mim mesmo em 25 anos de São Paulo às minhas frequentes idas à Península Ibérica.

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Drgão e Casa Batlló, em Barcelona - Foto: Juhi Sewchurran/Unsplash

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Protetor de lugares como Barcelona, Portugal e a Inglaterra, São Jorge é padroeiro do estado do Rio. Ele é celebrado com um feriado, desde a Lei Estadual 5.198 de 2008; antes, era só na cidade. Para muitos fluminenses, então, o 23 de abril é de descanso, reza ou viagem - ou tudo isso junto.

No Rio, São Jorge e o orixá Ogum se entrelaçam. Católica batizada, não praticante, sempre amei o sincretismo religioso da minha cidade. Mais tarde, aprendi que nem tudo é bonito como minha inocência de menina branca pressupunha. Mas ainda vejo o sincretismo, como disse o historiador Luiz Antonio Simas num vídeo recente, como um "acúmulo de força vital".

Os muitos domingos na casa das minhas avós em Brás de Pina, bairro da zona norte, me presentearam com uma visão do Rio que vai além da zona sul turística. Um subúrbio carioca que me traz memórias capazes de juntar o catolicismo progressista da minha avó Elayne com os doces de Cosme e Damião, a cada 27 de setembro. Minha tia preferida entre dezenas de tios, Regina se casou com (e depois se separou de) um Jorge, do candomblé como ela.

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Para aprender mais sobre o santo e sua relação com o Rio de Janeiro, recomendo os vídeos do Instagram do Simas. Apesar de ser eu a carioca da casa, justiça seja feita, é o meu marido, Fernando Victorino, jornalista paulistano, quem acompanha de perto o trabalho dele há anos.

Vencedor do Prêmio Jabuti em 2016, por Dicionário da História Social do Samba, em parceria com Nei Lopes, o escritor, professor e compositor está lançando Cavaleiro da Lua, livro infantil sobre São Jorge. Para adultos, ele já tinha escrito os textos de Guerreiro, publicação do fotógrafo Cesar Fraga, que passou pelo Oriente Médio, pela Europa e por Ogun, na Nigéria, para retratar história e manifestações culturais em torno da figura de Jorge.

Num dos seus vídeos deste mês, Simas fala sobre Ogum e cerveja. Eu sempre vi a imagem de São Jorge em botequins do Rio, mas nunca soube porque ele estava lá, junto com um copinho americano com a bebida. Aprendi o porquê com o historiador, que lembra ainda que 23 de abril é também o dia da lei da pureza da cerveja alemã, a Reinheitsgebot. No Como Viaja, a gente já escreveu sobre essa lei promulgada pelo duque Wilhelm IV, na cidade bávara de Ingolstadt, em 23 de abril de 1516.

Sob a luz de Lisboa, no Castelo de São Jorge - Foto: Fernando Victorino @ComoViaja

Passei este 23 de abril embalada por Zeca Pagodinho com Jorge Ben Jor (Ogum), Maria Bethânia (Padroeiro do Brasil e Medalha de São Jorge), Fabiana Cozza (Ogã de Ogum) e Alcione (São Jorge). Enquanto ouvia essas preciosidades, relembrei experiências e viagens e esbarrei com o santo em destinos e memórias, que trago neste texto. Salve Jorge.

Sant Jordi em Barcelona ou San Jorge na Espanha

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A celebração de Sant Jordi, nome do santo em catalão, mistura livros e rosas em Barcelona, já que 23 de abril é Dia do Livro e Dia dos Namorados na cidade espanhola. O roteiro passa pelo agito das Ramblas e pela Plaça de Sant Jaume, a da prefeitura, onde dá para ver dança regional e torres humanas (as castells, típicas da Catalunha).

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Ainda que você não se programe para ir ao destino nessa data, um ponto da cidade espanhola remete ao universo de São Jorge. Repare no telhado da Casa Batlló, do arquiteto Antoni Gaudí. Está lá um dragão arqueado de perfil, com escamas e olhinho e tudo. O arremate brilhante do gênio: a cruz fincada (no dorso do animal e) no alto da construção. Confira a agenda e atrações da cidade no site oficial do Turismo de Barcelona.

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Na região de Extremadura, Cáceres também tem o santo como padroeiro. Durante o Pregón San Jorge, em 23 de abril, a comunidade dança e toca até a derrota do dragão em praça pública pelos Caballeros de San Jorge. A luta pela ocupação da região, hoje encenada pela população, está expressa no patrimônio arquitetônico local. Erguida pelos muçulmanos sobre construções romanas, a muralha não impediu a tomada pelos cristãos na Reconquista da Península Ibérica.

Na cidade antiga de Cáceres, considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a Torre de Bujaco é a mais conhecida entre as cerca de 30 do período muçulmano. Ela faz parte do Conjunto Patrimonial e Arqueológico de Bujaco, junto com a muralha, a Torre de los Púlpitos e vestígios do romano Palacio de Mayorazgo.

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São Jorge em Portugal

O Castelo de São Jorge é um dos mais bonitos mirantes de Lisboa, para se estar lá e também apreciar à distância. Imprescindível numa primeira vez em Portugal. Para Fernando e eu, desejável sempre. Então não poderia ficar de fora dessa listinha inspirada por São Jorge.

A dica é chegar no fim da tarde para ver Lisboa de vários ângulos, do alto da colina. Depois, apreciar o pôr do sol, um dos mais lindos que a gente guarda na memória de viagens à Europa. Dá para comprar de água a vinho num quiosque no pátio. As luzes artificiais brilhando pela capital portuguesa encerram a visita.

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No Centro de Portugal, fica uma das mais visitadas atrações de Portugal, o Mosteiro da Batalha, na lista dos Patrimônios da Humanidade pela Unesco e um rico exemplar de arquitetura manuelina (o gótico tardio português). Na região de Leiria, a construção foi erguida em agradecimento pela vitória sobre os espanhóis, conseguida pelo exército português de D. João I e Nuno Álvares (representado montado a cavalo na estátua em frente ao mosteiro).

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A Batalha de Aljubarrota, em 1385, foi travada no Campo de São Jorge, perto da hoje também turística Alcobaça. Os dois pontos históricos são maravilhosos para se visitar, mas geralmente são vistos em excursões corridas a partir de Lisboa. Eu te digo para dormir no Centro de Portugal e aproveitar uma delas por dia, com calma.

Destino de natureza, o Arquipélago dos Açores tem a Ilha de São Jorge, que comemora o santo com um calendário de atividades esportivas e concertos. Em 2024, se estende até a celebração do 25 de abril, a Revolução dos Cravos, que marca a derrota da ditadura do Estado Novo em Portugal.

 

CHECK OUT

Saint George na Inglaterra

A English Heritage, que cuida de 400 lugares históricos na Inglaterra, tem uma página especial sobre o Dia de São Jorge - uma curiosidade: para a criançada, tem passo a passo para fazer espada e escudo de papelão e dragão de feltro. A organização ajuda a manter de castelos medievais a um bunker da Guerra Fria, passando pelo misterioso Stonehenge, que eu tive a chance de ver de perto numa excursão durante o cruzeiro de lançamento do navio Norwegian Prima, pelo norte da Europa.

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Pinturas ao longo dos séculos

Há uma pintura medieval do santo no Farleigh Hungerford Castle, fortaleza a 15 minutos de carro de Bath - cidade onde foram gravadas cenas de Bridgerton, série sucesso da Netflix, como descobri na matéria que fiz aqui para o Estadão, na pandemia, no início de 2021. Em Londres, a National Gallery tem mais de um quadro com o santo padroeiro da Inglaterra; entre eles, um Paolo Uccello, do século 15, e um Jacopo Tintoretto, do século 16.

Do Masp ao Metropolitan de Nova York

O santo e sua história de luta inspiraram quadros e mais quadros pintados ao longo de séculos. Em muitos, aparece com o dragão, como: o Ernesto de Fiori, sem data, no nosso Museu de Arte de São Paulo (Masp); o Bernat Martorell, do século 15, do acervo do americano Art Institute of Chicago; e o Peter Paul Rubens, do século 17, no Museu Nacional del Prado, em Madri. Mas também sozinho, caso do Carlo Crivelli, também do século 15, do Metropolitan Museum of Art, em Nova York.

 

QUEM FAZ

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Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja, no grupo gratuito no WhatsApp e em comoviaja.com.br

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