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Adoniran Barbosa e personagens de suas músicas são celebrados em filme

O ‘Estadão’ fez um passeio pela Vila Itororó, onde o longa-metragem protagonizado por Paulo Miklos é rodado

Foto do author Matheus Mans
Por Matheus Mans
Atualização:

No mês passado, a reportagem do Estadão viveu uma experiência diferente: mergulhou na imaginação e na criatividade do cantor e compositor paulistano Adoniran Barbosa (1910-1982). Como? Visitando o set de filmagens de Dá Licença de Contar, filme de ficção distribuído pela Elo Studios, que deve estrear até o início de 2024, inspirado não apenas na vida de João Rubinato – nome real de Adoniran – como também nas histórias, às vezes ficcionais, que contava nos seus sambas.

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Esse clima, que parece nos colocar diretamente dentro da cabeça do sambista, aconteceu por uma decisão de Pedro Serrano e da produtora Pink Flamingo Filmes. Em vez de recriar cenários em um set de filmagens distante e gelado, boa parte de Dá Licença de Contar está sendo filmada na Vila Itororó, centro cultural de São Paulo, com casas da década de 1920. É um espaço histórico que lembra uma cidade que não existe mais.



A Vila Itororó é cenário para o filme Dá Licença de Contar, de Pedro Serrano, sobre Adoniran Barbosa  Foto: João Oliveira


Logo na entrada, na Rua Maestro Cardim, está o interior da maloca de Adoniran – um tanto maltratada, mas que continua de pé, mostrando sua permeabilidade ao tempo. Logo abaixo vem a residência de Iracema, uma casinha de pensão do século passado. Há ainda a fachada da casa da Saudosa Maloca e o botequim Black Tie – onde Adoniran e dois de seus personagens, Joca e Mato Grosso, bebiam cerveja gelada ao som de Vila Esperança.

A gente não quis ficar realmente atento aos fatos da história do Adoniran. É um filme com liberdade

Pedro Serrano

“A gente não quis ficar realmente atento aos fatos da história do Adoniran. É um filme com liberdade”, explica o diretor, durante a visita do Estadão ao set de filmagens no Centro Cultural Vila Itororó. “Tinha o desejo de falar sobre quem era o Adoniran, lembrar do João, mas, principalmente, celebrar sua imaginação, sua criatividade, esses personagens que se tornaram parte da nossa memória. É o Arnesto, a Iracema, o Joca, o Mato Grosso.”

ELENCO DE PESO

Com isso, percebe-se que Dá Licença de Contar amplia o que já havia sido mostrado por Pedro Serrano no curta-metragem. Uma biografia com liberdades ou seria uma liberdade criativa com toques de biografia? “Quase não tem João Rubinato aqui”, indica o cineasta.


Paulo Miklos vive Adoniran Barbosa no filme Dá Licença de Contar, de Pedro Serrano Foto: João Oliveira


Vivendo esses personagens, um elenco que também estava na tela do curta premiado no Festival de Gramado. Paulo Miklos faz Adoniran, Gero Camilo é Mato Grosso e Gustavo Machado, o Joca, companheiros do compositor. “É muito bom ter esse mergulho na mente do Adoniran, do João. Era uma figura muito emblemática, muito paulistana, que se embaralha com a nossa história”, diz Paulo Miklos.

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“No curta-metragem, nós já começamos a construir esses personagens. A gente tirou das músicas e deu vida a eles. Agora, com o longa, tivemos a oportunidade de mergulhar mais fundo no que cada um desses personagens traz de memórias, de vida”, explica Gero Camilo, ator que vive Mato Grosso, ao Estadão. “Meu personagem tem nome de Estado. Então, a gente cria relação não só com São Paulo, mas com o Brasil como megalópole.”


O cantor e compositor Adoniran Barbosa Foto: Oswaldo Jurno/ Estadão - 15/2/1978


Com isso, Dá Licença de Contar tem um pé no passado e outro no presente. De um lado, relembra a história de Adoniran, dessas músicas que estão no fundo de nossa memória, das malocas que caíram. Do outro, essas mudanças do espaço, daquele prédio enorme e espelhado que tomou conta do terreno de Mato Grosso e do Joca – e que causou estranhamento até para Adoniran quando apresentou o Bexiga a Elis Regina.

COMO PAISAGEM

No entanto, engana-se quem pensa que Dá Licença de Contar vai se limitar ao Bexiga. Além de a história ser um Brasil, como Camilo destacou, outros espaços serão aproveitados – como Santos, centro de São Paulo, Vila Maria Zélia e Brás. “É a cidade como paisagem”, diz o diretor.

“Teremos essa questão do cronista social Adoniran bem mais aprofundada. É a viagem do eu lírico, do Mato Grosso e do Joca, passeando por uma São Paulo que não existe mais”, acrescenta. “Não é cinebiografia, é o Adoniran vivendo novos fatos.”

É muito bom ter esse mergulho na mente do Adoniran, do João. Era uma figura muito emblemática, muito paulistana, que se embaralha com a nossa história

Paulo Miklos

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