É Tudo Verdade 2024: Festival exibe documentários sobre Verissimo, Luiz Melodia e reality japonês

Evento gratuito ocorre de 3 a 14 de abril em São Paulo e no Rio de Janeiro, com mostras competitivas, retrospectivas de Thomaz Farkas e Mark Cousins; veja quais são os principais filmes, que marcam maior presença de cineastas mulheres na programação

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Por Flávio Pinto
Atualização:

O 29º Festival É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, o principal evento brasileiro dedicado ao cinema documental, começa nesta quarta, 3. Este ano, serão apresentadas 77 produções, entre longas, médias e curtas-metragens, provenientes de 34 países. As exibições são gratuitamente e ocorrem em salas de cinema em São Paulo e no Rio de Janeiro até o dia 14 do mesmo mês.

Cena de 'O Competidor', documentário de Clair Titley sobre o participante do reality show 'Nasubi' Foto: Reprodução de vídeo/Nippon TV

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A abertura, no Rio - na Estação NET Botafogo -, nesta quarta, 3, será com a estreia de Um Filme para Beatrice, dirigido por Helena Solberg, a única mulher a fazer parte do Cinema Novo. O trabalho inédito de Solberg é uma espécie de retrospectiva de sua carreira, abordando questões sociais relacionadas ao atual momento do movimento feminista no País.

Em São Paulo, a abertura será na quinta, 4, com a exibição de O Competidor, de Clair Titley, na Cinemateca Brasileira, em uma sessão especial para convidados. Lançado mundialmente no prestigiado Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) de 2023, o filme narra a história de Tomoaki Hamatsu, um homem confinado por 15 meses em um quarto, completamente sozinho e nu, sem saber que sua vida estava sendo transmitida para milhões de telespectadores japoneses no reality show Nasubi.

“A edição conta com uma das seleções mais fortes de todos esses anos de festival. É uma safra excepcional de filmes,” destaca Amir Labaki, diretor-fundador do evento, ao Estadão.

Força feminina

Curiosamente, ambos os filmes de abertura são dirigidos por mulheres. O filme que encerra o festival, Luiz Melodia - No Coração do Brasil, também. “Estou muito feliz com a minha estreia no festival, especialmente ao lado de tantas mulheres. A perspectiva feminina tem muito o que acrescentar no audiovisual”, comemora Alessandra Dorgan, diretora da produção sobre o compositor e músico carioca.

Cena do documentário 'Luiz Melodia - No Coração do Brasil' Foto: Divulgação/MUK

Segundo Labaki, a presença feminina em destaque no festival é apenas um reflexo do atual momento da indústria. “O festival é um espelho. Temos testemunhado um aumento significativo da presença de cineastas mulheres no evento e, consequentemente, também de temas ligados às questões e conquistas das mulheres, e isso é algo inegável”, afirma.

Outras produções que oferecem uma perspectiva feminina incluem Diários da Caixa Preta, de Shiori Ito, no qual a cineasta retrata sua jornada para processar o homem que a estuprou, um jornalista conceituado no Japão; Diamantes, de Daniela Thomas, Sandra Corveloni e Beto Amaral, que acompanha a vida de três mulheres em Diamantina, Minas Gerais; e Copa de 71, de Rachel Ramsay e James Erskine, que resgata a história da Copa do Mundo de futebol feminino não oficial realizada em 1971, mas apagada da história.

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Literatura

Outro vetor que norteia a programação do É Tudo Verdade 2024 é a literatura. Este ano, o evento apresenta uma seleção de filmes que também exploram o universo dos escritores e dos livros.

Imagem de 'Fernanda Young — Foge-me ao Controle', filme de Susanna Lira Foto: Divulgação/GNT

Entre eles, destacam-se Verissimo, dirigido por Angelo Defanti, sobre a vida e obra de Luis Fernando Veríssimo; Antonio Candido – Anotações Finais, de Eduardo Escorel, longa que se debruça sobre textos inéditos, menções à infância e lembranças de Gilda de Mello e Souza; Mixtape La Pampa, de Andrés di Tella, o diário cinematográfico de uma viagem prolongada pelas Pampas, seguindo os passos de Guillermo Enrique Hudson, também conhecido como William Henry Hudson; e Fernanda Young - Foge-me ao Controle, dirigido por Susanna Lira.

“É realmente emocionante estar no festival com este filme, um projeto que mergulha profundamente na literatura de Fernanda Young. Este ano marca o quinto aniversário de sua morte, e até agora ninguém havia abordado seu trabalho e sua importância,” destaca Lira.

Vitrine

O festival É Tudo Verdade também desempenha um papel fundamental nas chances do Brasil no Oscar.

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Anualmente, os vencedores dos prêmios dos jurados nas Competições Brasileiras e Internacionais de Longas/Médias e de Curtas-Metragens são automaticamente qualificados para submissão à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, visando conquistar uma vaga nas respectivas categorias na maior premiação do cinema.

“Por ser um qualificador do Oscar, o prêmio é uma plataforma que pode alçar o filme vencedor a uma vitrine internacional,” explica Juliana Sakae, relações públicas das campanhas para o Oscar dos documentários Babenco e Incompatível com a Vida.

Homenagens

Além das mostras competitivas, o É Tudo Verdade 2024 tem retrospectivas dedicadas a Thomaz Farkas (1924-2011) e Mark Cousins (1965).

Imagem de 'Hermeto Pascoal' (Sivuca), trabalho de Thomaz Farkas Foto: Divulgação/Thomaz Farkas

“Thomaz foi uma figura de grande importância nas primeiras edições do festival e sempre marcou presença nas aberturas, atuando como jurado e debatedor”, destaca o organizador. No ano do centenário do nascimento do documentarista e pioneiro da fotografia moderna no Brasil, seu trabalho recebe destaque com a retrospectiva Thomas Farkas 100.

Cousins, por sua vez, também terá seus longas exibidos, incluindo Cinema Tem Sido Meu Verdadeiro Amor: O Trabalho e A Vida de Lynda Myles, lançado em 2023 no Festival de Telluride. Além disso, o ensaísta e cineasta britânico estará presente para ministrar um master class e participar de um debate. “Esta será a primeira vez que ele vem ao Brasil, e estamos muito empolgados”, acrescenta Amir.

O centenário do documentarista americano Robert Drew, com os títulos Primárias e Faces de Novembro, e os 50 anos da Revolução dos Cravos, com As Armas e o Povo e Outro País, também fazem parte da programação.

Competição internacional - longas e médias-metragens

Celluloid Underground, de Ehsan Khoshbakht

Cento e Quatro, de Jonathan Schörnig

Copa de 71, de Rachel Ramsay e James Erskine

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Corpo, de Petra Seliškar

Diários da Caixa Preta, de Shiori Ito

E Assim Começa, de Ramona S. Diaz

Mamãe Suriname, de Tessa Leuwsha

Mixtape La Pampa, de Andrés di Tella

O Mundo É Família, de Anand Patwardhan

O Relatório da Revolta de 1967, de Michelle Ferrari

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Uma Estória Americana, de Jean-Claude Taki e Alexandre Gouzou

Zinzindurrunkarratz, de Oskar Alegria

Competição brasileira - longas e médias-metragens

Diamantes, de Daniela Thomas, Sandra Corveloni e Beto Amaral

Fernanda Young — Foge-me ao Controle, de Susanna Lira

Hoje É o Primeiro Dia do Resto da sua Vida, de Bel Bechara e Sandro Serpa

Inutensílios, de Bruno Jorge

Lampião, Governador do Sertão, de Wolney Oliveira

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Tesouro Natterer, de Renato Barbieri

Verissimo, de Angelo Defanti

Serviço

29º É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários

São Paulo

  • Espaço Itaú de Cinema Augusta (R. Augusta, 1475)
  • Cinemateca Brasileira (Largo Sen. Raul Cardoso, 207)
  • IMS Paulista (Avenida Paulista, 2.424)
  • Sesc 24 de Maio (Rua 24 de Maio, 109)
  • Spcine - Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000)

Rio de Janeiro

  • Estação NET Botafogo (R. Voluntários da Pátria, 88)
  • Estação NET Rio (R. Voluntários da Pátria, 35)

Para a programação completa, acesse o site do festival.

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