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Filme ‘Dias Vazios’ fala de uma juventude angustiada e sem perspectivas

Baseado em romance de André de Leones, drama de Robney Bruno Almeida, em cartaz no Brasil, mostra o tédio de jovens em cidade do interior de Goiás; veja o trailer

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Nas primeiras cenas de Dias Vazios, de Robney Bruno Almeida, vemos uma sala de aula quase sem alunos. Nela, apenas Daniel (Arthur Ávila) folheia um caderno e conversa com a namorada, Alanis (Natália Dantas). Os planos são fixos, as cores desmaiadas, o ambiente asséptico. Mostra o tédio dos jovens de Silvânia, interior de Goiás. Velhos gostam de cidades pequenas porque nada acontece e o tempo custa a passar. Jovens as detestam pelos mesmos motivos. 

Daniel mantém o ar de perene aborrecimento, mas talvez seja influenciado por um processo de identificação. O caderno que ele leva para cá e para lá contém o esboço de um romance que está escrevendo e tem como protagonista outro casal da cidade – Jean (Vinícius Queiroz) e Fabiana (Nayara Tavares). Eles se amavam e o amor não deu muito certo. Fabiana sumiu. E Daniel escreve seu livro para tentar descobrir o que aconteceu com a moça, e também com o rapaz. 

Cena do filme 'Dias Vazios' Foto: Olhar Distribuição

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Há um exercício de metalinguagem aí, um relato dentro de outro relato. Daniel investiga um casal e, ao mesmo tempo, reproduz, com a namorada, situações vividas pelos outros. Dá-se, então, uma circularidade da narrativa, com o espectador dividido entre o que “de fato” aconteceu e a descrição romanesca de Daniel.

Trata-se de um artifício narrativo nesse filme adaptado do romance Hoje Está um Dia Morto, de André de Leones (2005). Essas idas e vindas entre os dois planos não impedem que o espectador entre na história e nela permaneça. Caso aceite o jogo, será premiado com certo adicional de estranheza que pode tornar a narrativa ainda mais atraente.

A maior parte da trama se desenvolve em torno dos dois casais jovens. E da freira interpretada por Carla Ribas, atriz notável. Ela é diretora do colégio e se empenha em aconselhar os alunos através de conversas. Os diálogos entre freira e alunos são pontuadas por silêncios, impasses e certa agressividade. Como se, de fato, não funcionassem e o abismo de gerações fosse outro fator a agravar as condições de uma juventude realmente em falta de utopias que dessem sentido às suas vidas. O tom é de mal-estar absoluto

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