‘Nunca estive numa briga’, diz Ralph Macchio, de ‘Karate Kid’ e ‘Cobra Kai’; novo filme sai em maio

Últimos episódios da série da Netflix estrearam na última quinta, 13; ator responde o que o fez voltar à franquia e qual seria sua morte ideal para Daniel LaRusso

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Por Sarah Bahr (The New York Times)
Foto: Graham Dickie/NYT
Entrevista comRalph MacchioAtor

THE NEW YORK TIMES - Na primeira vez em que Ralph Macchio foi procurado para fazer uma série Karate Kid sobre a vida adulta de Daniel LaRusso e Johnny Lawrence, ele não levou muito a sério.

“Eu pensei: ‘Sou vendedor de carros?’”, disse Macchio, que estrelou o filme original de 1984 como Daniel, um adolescente que se muda para o sul da Califórnia, aprende caratê e derrota o valentão local, Johnny (William Zabka), no tatame. “Eles não me convenceram de primeira”, disse ele.

Mas, numa reunião que durou mais de três horas no jardim do Greenwich Hotel, em Manhattan, os criadores Jon Hurwitz, Josh Heald e Hayden Schlossberg o conquistaram com sua visão para Cobra Kai. Não era só uma questão de nostalgia. A série também buscava apresentar uma nova geração de “karate kids”.

“Quando eles começaram a falar sobre os personagens mais jovens – Miguel, Samantha, a próxima geração – e sobre a parte das famílias”, disse Macchio, “passei a escutar com mais atenção”.

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Agora, seis temporadas depois, Cobra Kai, que se passa no Vale de San Fernando aproximadamente trinta anos depois dos eventos do filme Karate Kid, lançou seus últimos cinco episódios na Netflix na última quinta-feira, 13. A série, estrelada por Macchio e Zabka, traz uma nova perspectiva sobre Johnny, que começa como um pai ausente, assombrado por sua queda em desgraça na década de 1980, mas encontra um novo propósito ao reabrir o dojo Cobra Kai e reacender sua rivalidade com Daniel.

“O filme termina de um jeito que tem todas aquelas sensações, aplausos e lágrimas dos filmes dos anos 80, mas é visto através de uma lente tipo Cobra Kai”, disse Macchio em uma recente chamada de vídeo de sua casa em Long Island. De camiseta preta, moletom de zíper e fones de ouvido imensos, ele ainda parecia pronto para dar alguns golpes da garça no quintal, apesar de declarar aversão a conflitos.

“Nunca entrei numa briga de verdade”, disse Macchio. “Guardo essas coisas para os filmes. Não sou de briga. Prefiro ser diplomático”.

'Karate Kid: Legends', novo filme da franquia, estreia em maio. Foto: Richard Shotwell/Invision/AP

Embora Cobra Kai tenha terminado, Macchio voltará a interpretar o papel de Daniel adulto no próximo filme da franquia, Karate Kid: Legends, cujo lançamento está previsto para 30 de maio. (Jackie Chan também retorna como o Sr. Han, personagem do filme Karate Kid de 2010). Ambientado três anos após os eventos de Cobra Kai, o filme acompanha um adolescente prodígio do kung fu, Li Fong (Ben Wang), que tenta se adaptar depois de se mudar de Pequim para Nova York com a mãe. Ele se inscreve em uma competição de caratê, tendo Daniel e o Sr. Han como mentores.

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Na conversa, Macchio pareceu alegre e gregário. Aos 63 anos, ele ainda tem a juventude e o charme de seu personagem dos anos 80. Ele também ainda tem o Ford 1947 amarelo do filme de 1984, mas o deixa na garagem e só o dirige de vez em quando.

Macchio contou como foi abraçar um papel menos heroico para Daniel em Cobra Kai, o que o fez voltar à franquia e qual seria sua morte ideal para Daniel. Aqui vão trechos editados da conversa.

‘Cobra Kai’ acabou na quinta-feira, depois de seis temporadas. Como você está se sentindo?

Estou ótimo, porque... quando isso acontece? Uma série baseada num filme de 34 anos atrás criando um novo fandom e novas gerações de fãs em torno da franquia. Parece que está terminando na hora certa, não está se arrastando. Estou animado para que os fãs de todo o mundo vejam o desfecho de Johnny, Daniel e todos os outros personagens.

Como foi o último dia no set?

Para mim, foi menos um adeus e mais um “até a próxima”. Por mais que Cobra Kai tenha ficado super grande, com todas essas brigas e mortes acidentais e zilhões de personagens, a série ainda nasceu da rivalidade entre Daniel e Johnny – e agora de sua amizade. E isso é uma coisa meio vida imitando a arte imitando a vida. Não que Billy e eu tenhamos sido rivais, mas nunca fomos tão próximos como somos hoje.

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Você disse não a muitas propostas de spinoffs de ‘Karate Kid’. O que o fez aceitar essa proposta?

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Uma das coisas mais importantes para mim foi que o personagem Pat Morita Miyagi estivesse presente em toda a série. Sem a atuação de Pat Morita, não estaríamos tendo essa conversa hoje. Se não fosse por esse personagem, o filme jamais teria levantado voo. Então eu queria proteger isso.

Há algum momento específico em que você se lembra de ter dito: “Daniel LaRusso não faria isso de jeito nenhum”?

Tem uma cena no episódio 5 desta temporada em que Daniel dá um soco na cara de Johnny. E eu disse: “Tem que ter uma justificativa muito forte”. E eles disseram: “Bem, ele está desequilibrado, tem um monte de coisa acontecendo ao mesmo tempo”, mas não era só isso. Foi um longo debate, porque é uma ótima cena para o William: ele leva um soco no rosto e normalmente teria revidado, mas não revida, o que é uma coisa linda. Isso mostra o crescimento dele. Não sei se concordamos totalmente se a justificativa era forte o suficiente, mas, no final das contas, filmamos a cena. E ela funciona. Tem redenção. Mas eu queria que a cena fosse mais quente, para que não houvesse dúvidas sobre o motivo pelo qual ele se enfureceu com aquilo.

Como foi ver um novo Kid, Xolo Maridueña, fazer o papel de um novo Daniel, mas como Miguel?

Não gosto de ser o tiozão, mas gosto de ser o cara que conta as histórias do passado, e eles param para ouvir e adoram. E me inspiro muito na ética de trabalho deles – eu me lembro de estar lá vendo o Miguel colocar a faixa na cabeça. O Xolo estava muito empolgado, e foi tipo: “Nossa, eu estava neste quintal pintando cercas antes de vocês nascerem. E agora estou ensinando vocês a pintar a cerca e encerar o carro”. Foi a única vez em que me emocionei de verdade no começo da série.

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Os projetos ‘Karate Kid’ estão na zona de conforto ou ainda são desafiadores?

As duas coisas ao mesmo tempo. É um conforto porque sinto essa confiança, porque sinto que ninguém conhece a história melhor que eu, porque já vivi tudo isso. Mas, por outro lado, como manter a novidade? Cobra Kai com certeza tem alguns episódios em que senti que estávamos tentando não nos repetir, mas é difícil não fazer isso quando se está no mesmo lugar, tendo a mesma discussão sobre o mesmo esporte. Este tem sido o desafio.

Você é parecido com o Daniel?

Sou muito mais analítico e me preparo para o maior número possível de surpresas. Não sou completamente viciado em controle, mas gosto de ouvir e digerir antes de reagir. Mas o Daniel – e isso deixa tudo muito mais divertido – reage primeiro e depois lida com as consequências.

Somos muito parecidos no sentido de que a família dele, a mãe dele, Miyagi, são o que ele mais valoriza. Ele é uma pessoa de bom coração, que se preocupa com os outros e é vulnerável, mas também aberto e positivo. Gostaria de acreditar que sou assim também.

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Sempre brinco dizendo que eu era o oposto daquele programa True Hollywood Story – se fizessem um episódio sobre mim, não teria nem um minuto. Mas isso não é bem verdade. Definitivamente, também tenho muitos defeitos. Acho que minha maior falha é que, às vezes, quando me sinto fora de controle numa situação, quando tenho medo de alguma coisa ou quando estou preocupado, minha tomada de decisão não é a melhor possível.

Você está disposto a fazer mais spin-offs de ‘Karate Kid’ ou este filme é o último?

Olha só, eu disse que tinha acabado para mim quando terminei o último filme Karate Kid dos anos 1980. Então eu diria: nunca diga nunca. Se Karate Kid: Legends for bem-sucedido, eu adoraria ver um filme Cobra Kai daqui a dois ou três anos. Contanto que haja uma maneira de ser fiel aos personagens, de impulsionar a história de um jeito que a expanda para as próximas gerações, é algo sobre o qual eu estaria aberto a conversar.

Se você pudesse escolher como seu personagem morreria...

Caindo de um penhasco com o derradeiro golpe da garça. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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