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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Criadora de conteúdo com foco na diversidade, La Robertita lança coleção democrática com a C&A

A collab da historiadora com a fast fashion estará disponível a parir do Dia Internacional da Mulher

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Foto do author Sofia Patsch
Atualização:

Ícone fashion, a criadora de conteúdo Laís Roberta, conhecida no mundo digital como “La Robertita” lança nesta quarta-feira – no Dia Internacional da Mulher – uma collab exclusiva com a C&A. Robertita é formada em história, mas foi na moda que achou espaço para dar voz à diversidade e inclusão. “Vi uma lacuna no mercado, faltavam mulheres gordas elegantes. Para falar de corpo, não necessariamente preciso aparecer de biquíni, esse corpo pode estar bem vestido”, disse à repórter Sofia Patsch durante café da manhã no hotel Fera Palace, em Salvador, na Bahia.

La Robertita clicada usando um de seus chapéus - o acessório é uma das marcas registradas da produtora de conteúdo Foto: Iara Morselli

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Em pouco mais de um ano, Robertita conquistou o que imaginava inconquistável. “Hoje sou uma das poucas brasileiras pretas que trabalha com marcas de luxo no Brasil, dá pra contar em duas mãos quem são essas mulheres”, diz. “No fim das contas, toda a minha trajetória é sobre desconforto”. Confira os melhores momentos da conversa a seguir.

Como começou seu interesse por moda?

Venho de uma família de extrema escassez. Minha mãe era metalúrgica, veio de Pernambuco pra São Paulo trabalhava dentro de fábrica, usava botina. Tinha toda essa ideia da perda da feminilidade. Então, quando ela estava fora do trabalho era muito perua, adorava se arrumar e eu cresci vendo todo esse processo. E também acredito que ao longo da vida fui criando estratégias pra ser vista de alguma maneira. Fui uma criança que sofreu muito bullying, as crianças conseguem ser cruéis. E a gente precisa falar sobre isso, sobre quanto as crianças são até nocivas umas com as outras nesse período escolar.

Acha que o bullying te ajudou a construir a persona que é hoje?

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Fui criando estratégias pra ser uma adolescente integrada ao meio. Foi no ensino médio que minha vida virou de ponta cabeça. Nesse período comecei a criar uma consciência racial, conheci Nina Simone, Aretha Franklin, passei a ouvir todas essas mulheres. Sempre falo que existem dois tipos de famílias pretas no Brasil: a família autodeclarada preta e aquela que não tem nenhuma consciência racial, que foi o caso da minha. Eu alisava o cabelo, ninguém dava nome pra nada, era tudo velado.

Então sua mãe não conversava sobre questões raciais com você?

Não tinha consciência pra isso. Depois do ensino médio, passei pela transição capilar, fiz um “blackão” gigante, trancei o cabelo, usava turbante. E isso foi aflorando, fiz uma conta no Facebook e depois migrei pro Instagram e há mais ou menos um ano minha vida mudou.

Quando foi a virada da sua carreira?

Então, em 2014 e 2015 teve um boom do segmento plus size, as marcas começaram a perceber que existiam esses corpos e precisavam de pessoas para vestir. Foi aí que eu entrei no mercado, é muito louco pensar que não fazem nem 10 anos.

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Como se tornou uma influenciadora?

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Foi nessa época que refiz todas as minhas redes sociais, comecei a adicionar todo mundo da moda, stylists e estilistas, trazer essas pessoas pra perto de mim. Nesse trajeto conheci muita gente que estava batalhando para ser notado, assim como eu. Todas essas pessoas pretas que são expoentes hoje, a gente sempre esteve junto, a gente sempre esteve aqui trabalhando, só não tínhamos oportunidade. As pessoas falam: “Nossa, Robertita, mas você veio do nada”. Do nada não, tô aí há muito tempo.

Sua marca registrada são os acessórios, principalmente o chapéu. Como foi esse processo de criar a própria imagem?

Pensei: “mas aonde que está a lacuna desse mercado?”. Foi aí que me deu o click de que faltavam mulheres gordas elegantes. Para falar de corpo, não necessariamente preciso aparecer de biquíni, esse corpo pode estar bem vestido. E por isso que eu sou isso, quero vir na contramão de toda ideia de que pra se amar e ter uma consciência corporal precisa estar com ele à mostra. No fim das contas, toda a minha trajetória é sobre desconforto.

Sua vida mudou em pouco mais de um ano. Como vê tudo isso?

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Hoje sou uma das poucas brasileiras pretas que trabalha com marcas de luxo no Brasil, dá pra contar em duas mãos quem são essas mulheres. No último ano conquistei coisas impensáveis até pouco tempo atrás. Comprei um apartamento, conheci cinco países diferentes. Fui capa de revista. Trabalhei com marcas incríveis. Tive a minha primeira semana de moda internacional, mas também passei por muitos perrengues e questionamentos. Isso tudo com 28 anos.

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