Lina Bo Bardi ganha biografia ilustrada para crianças

Escrito pela espanhola Ángela León, livro narra a trajetória e os principais projetos da italiana que marcou a arquitetura brasileira

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Por Júlia Corrêa
Atualização:

Músicos, pintores, cientistas... São figuras como essas que costumam ser retratadas nas biografias destinadas ao público infantil. Uma nova publicação, no entanto, busca apresentar aos pequenos uma personalidade pertencente a outro campo – a italiana Lina Bo Bardi (1914-1992), ícone da arquitetura brasileira.

Interação. Lina buscava criarprojetos cheios de vida, como a sua própria casa, frequentada por nomes como Burle Marx. Foto: Ilustração de Ángela León

Escrito e ilustrado pela espanhola Ángela León, o livro Lina: Aventuras de uma Arquiteta, que acaba de ser lançado pelo selo Pequena Zahar, propõe um mergulho em sua vida desde a infância na tumultuada Itália entreguerras, passando pelo casamento com o colecionador Pietro Maria Bardi e a migração com ele ao Brasil, até a sua consagração como criadora de projetos tão originais como o do Masp, o do Sesc Pompeia, entre outros cartões-postais paulistanos.

Masp.Livro mostra como Lina projetou o museu pensando em sua integração com a rua. Foto: Ilustração de Ángela León

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Antes de escrever sobre Lina, Ángela já havia vivido por um período na capital — uma experiência “tão intensa quanto estimulante”. O entusiasmo com a cidade fez a designer, nascida em Madri, lançar, em 2015, o livro Guia Fantástico de São Paulo, pela editora Lote 42.

Este seu novo trabalho é marcado pela delicadeza impressa tanto na narrativa quanto nas ilustrações. Com sutileza, aborda, além dos projetos emblemáticos de Lina, questões definidoras de sua trajetória, como a conquista de um maior espaço para as mulheres e a experiência sob a repressão do fascismo italiano e da ditadura militar brasileira.

No que não deixa de ser proveitoso também aos adultos, o que mais chama atenção na obra, no entanto, é a descrição muito vívida da inquietude e da criatividade da arquiteta. Em entrevista ao Estadão, Ángela dá mais detalhes sobre o livro.

Criação.Os icônicos cavaletes idealizados para o Masp. Foto: Ilustração de Ángela León

O que faz de Lina uma figura de interesse ao público infantil? Aparentemente, a Lina pode ter uma linguagem um pouco dura, crua, pelos materiais que usa, muito essencial e sem adornos, mas, na sua originalidade, tem um ponto de fantasia, como nas janelas com buracos do Sesc ou nos muros cheios de plantas da casa Valéria P.Cirell. Esse ponto fantasioso pode conectar com as crianças, e também seu interesse na convivência, em que seus projetos sejam vívidos, que aconteçam coisas neles. Dá para perceber muito bem esse lado dela, divertido, lúdico, nos seus desenhos.

Sua biografia mostra como Lina era uma figura inquieta, atenta aos objetos cotidianos, à natureza e às formas ao seu redor. Nesse sentido, que tipo de lições as crianças podem obter da personalidade da arquiteta? Para mim, a curiosidade e a inquietude pelo que acontece ao redor é uma característica que todas as crianças têm. Acho que vamos perdendo elas à medida que vamos ficando velhos, mas a lição é que essa curiosidade é o motor da aprendizagem, do interesse pela vida, então deveríamos cultivá-la com estímulos e valorizá-la.

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Ícone.Obra exalta o caráter inquieto e criativo da arquiteta. Foto: Ilustração de Ángela León

Quais foram os desafios de abordar temas políticos complexos, que compõem o contexto histórico da vida de Lina, em uma linguagem apropriada e, ao mesmo tempo, elucidativa? Os conflitos fazem parte da vida, e também da vida das crianças. Me parece importante ir aos poucos explicando o mundo a elas, então não duvidei em abordá-los. Como as crianças têm muita capacidade para aprender, simplesmente procurei a essência do conflito, eliminando as referências que elas não iam entender e que não eram necessárias.

De um modo geral, qual a importância de se apresentar o tema da arquitetura e do urbanismo para as crianças? A arquitetura e o urbanismo estão no cotidiano das crianças. A cidade é uma construção coletiva, e as crianças também fazem parte dela. É bom que comecem a refletir sobre como funciona, quem pensa as cidades, e que também encontrem seu papel nela. Que sejam educadas no direito à cidade. O papel que damos às crianças é passivo demais, relegado ao doméstico, à escola, mas as cidades poderiam ser melhores incluindo seu ponto de vista e valorizando sua criatividade.

Sesc Pompeia.Arquiteta projetou o espaço a partir da estrutura prévia de antiga fábrica. Foto: Ilustração de Lina Bo Bardi

Serviço

LINA: AVENTURAS DE UMA ARQUITETA Autora: Ángela LeónEditora: Pequena Zahar (64 págs, R$ 54,90)

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