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DJs combinam vanguarda eletrônica pop e erudita

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Por Agencia Estado
Atualização:

Na tela do computador o DJ paulistano Xerxes acompanha um documentário sobre música eletrônica. Entusiasma-se com os movimentos frenéticos de um senhor que manipula com desenvoltura grande aparato tecnológico. Sorri, um tanto surpreso, ao identificar os sons produzidos pelo decano. Algo parecido com acid tecno, um dos mais "modernos" gêneros da música pop eletrônica. Instantes depois, o locutor do filme anuncia o ano em que o fato transmitido ocorreu: 1965. O DJ Xerxes, que melhor materializa em seu trabalho a união do pop ao erudito, se vale desta história para explicar a proximidade existente entre música pop eletrônica e a música de vanguarda erudita, ou eletroacústica. DJ e pesquisador, há mais de dez anos envolvido na produção de hits para pista, Xerxes conhece a distância temporal e conceitual que separa estes dois gêneros. "O erudito costuma trabalhar um tema primeiro e depois desenvolver a música. Chegam a demorar anos para compor uma peça", diz. "Geralmente, com a gente acontece o contrário. Trabalhamos os sons e de repente aquilo, a partir de um certo ponto, passa a ter um significado. Outra diferença é que nossa produção é muito mais rápida", completa. Para ele, essa relação entre erudito e popular é algo comum na história da música ocidental: "da mesma forma que existem Bach e Stravinsky, compositores considerados eruditos e músicos tradicionalmente populares, hoje temos Stockhausen, John Cage e os DJs e produtores". Eletropop - Com Xerxes, trabalham dois estudante de regência e composição da Unesp, Rafael Gimenez e Luís Felipe. São compositores de música eletroacústica que se renderam a música pop. Há outro exemplo, ainda mais circunstancial. Duas teses de mestrado do departamento de eletroacústica da Unesp se basearam em composições de Xerxes e de seu companheiro Ramilson Maia. "É engraçado que depois do contato que eu tive com os caras passei a usar ferramentas que eles usam para composição de eletroacústica. Na verdade, eu vou buscar novos sons no clássico", brinca Xerxes. "A música eletrônica erudita pode ser popularizada por meio do nosso trabalho", completa o DJ. Xerxes não está sozinho nesta empreitada. Está sempre ao lado dos companheiros Ramilson, Guilherme Lopes e Jr. Deep. Criaram há quatro anos, para explorar novas linguagens, o selo independente Innerground. Mesmo que integrem o Sambaloco Records, é falando do innerground que os olhos dos músicos se enchem de entusiasmo. Para eles o selo funciona como um laboratório, em que testam sons não usuais: diferentes batidas, novas tecnologias, efeitos. O resultado é muito mais próximo da música eletroacústica do que se pode imaginar. Hangar 15 - Paralelamente ao trabalho de produção, discotecagem, e dos live PAs que fazem (apresentações em que o produtor monta ao vivo as suas próprias músicas), o grupo do Innerground ministra aulas no centro Hangar 15. Na casa ensinam os truques da produção eletrônica para os futuros DJs. São cursos que tratam de discotecagem, composição, estrutura técnica, etc. "Não é um local onde a gente apenas oferece cursos, uma escola. É um núcleo em que o pessoal acaba saindo com uma certa ideologia" explica Anderson, de apenas 19 anos. "Não é pregação, apenas refletimos a nossa ótica quando falamos para o pessoal que está começando. Debatemos experiências, técnicas e ideologia". Ramilson Maia completa: "Nós temos a preocupação de passar para a frente esse trabalho que a gente faz. Não nos esquecemos de nossas origens. Queremos expandir ao máximo, divulgar ao máximo o trabalho que fazemos e continuar a ampliar os horizontes da música pop".

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