Astrud Gilberto, a voz de ‘Garota de Ipanema’ em inglês, morre aos 83 anos

Cantora foi a primeira mulher brasileira indicada e vencedora de um Grammy

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Por Redação
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A cantora brasileira Astrud Gilberto morreu na noite desta segunda-feira, 5, nos Estados Unidos, onde morava. Ela tinha 83 anos. Astrud ficou conhecida mundialmente após gravar a versão em inglês para Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, no álbum Getz/Gilberto, lançado em 1964.

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The Girl from Ipanema, versão escrita por Norman Gimbel, ganhou o mundo na voz de Astrud e foi premiada com o Grammy como Melhor Gravação do Ano, em 1965. Astrud foi a primeira mulher brasileira a ser indica ao Grammy como Melhor Cantora, No entanto, foi derrotada por Barbra Streisand pela gravação de People.

O anúncio da morte de Astrud foi feito no perfil oficial da neta de Astrud, Sofia Gilberto. A menina compartilhou uma mensagem de despedida e uma gravação caseira na qual é possível ouvir a voz de Astrud cantando uma canção que fez para a neta.

“Minha vovó Astrud Gilberto fez essa música pra mim, se chama Linda Sofia. Inclusive ela queria que meu nome fosse Linda Sofia. A vida é linda, como diz a música, mas venho trazer a triste notícia que minha avó virou estrela e hoje está ao lado do meu avô João Gilberto. Astrud foi a verdadeira garota que levou a bossa nova de Ipanema para o mundo. Foi a pioneira e a melhor. Aos 22 anos, deu voz à versão em inglês de Garota de Ipanema e ganhou fama internacional. A música, um hino da bossa nova, se consagrou como a segunda mais tocada em todo o mundo principalmente por sua causa”, diz o texto.

A morte de Astrud foi confirmada ao Estadão pela nora da cantora, Adriana Magalhães Hoineff que também informou ao jornal que o corpo de Astrud será cremado nos Estados Unidos, em um cerimônia ainda sem data para ocorrer. A causa da morte da cantora não foi revelada pela família. Adriana é casada com João Marcelo, filho de Astrud e o cantor João Gilberto (1931-2019), com quem a cantora foi casada.

Reclusa do mundo artístico há pelo menos 20 anos, a gravação caseira com a voz de Astrud cantando para a neta Sofia, atualmente com sete anos, é uma preciosidade para os fãs da cantora brasileira.


O escritor Jorge Amado (esquerda) é padrinho de casamento de João Gilberto e Astrud, no cartório de Aníbal Machado (direita), em Copacabana, em 1959 Foto: Zelia Gattai/Acervo Fundação Casa de Jorge Amado

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Quem foi Astrud Gilberto?

Astrud nasceu em Salvador, na Bahia, com o nome de Astrud Evangelina Weinert, filha de mãe brasileira e pai alemão. Astrud se mudou com a família para o Rio de Janeiro ainda na adolescência, no fim da década de 1940.

Em 1959, após a bossa nova estourar no Brasil, ela se casou com o cantor e compositor João Gilberto com quem teve seu único filho, João Marcelo.

Com o sucesso da bossa nova, João Gilberto e Astrud se mudaram para os Estados Unidos em 1963. Por lá, João começa a trabalhar em parceria com o saxofonista americano Stan Getz no álbum Getz/Gilberto, que seria lançado no ano seguinte, com releituras de músicas de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Ary Barroso, entre outros compositores brasileiros.

É nesse disco que a voz de Astrud aparece pela primeira vez em uma gravação. Astrud, aos 22 anos, aceitou gravar a versão em inglês para Garota de Ipanema, que se tornou um sucesso mundial. Àquela altura, Astrud tinha um inglês perfeito, ao contrário de João, que não aceitou o desafio de gravar no idioma.

Com isso, e pela indicação ao Grammy, Astrud foi uma figura fundamental para o sucesso internacional da bossa nova na década de 1960. Sua interpretação de Girl from Ipanema, com o vocal suave e sem afetação, como ditava o estilo, transformou a música em hit mundo afora.

Após se separar de João Gilberto, em 1965, a cantora continuou vivendo nos Estados Unidos - e durante essas quase seis décadas foram poucas vezes em que ela esteve no Brasil para se apresentar, Astrud tampouco gostava de conceder entrevistas.

Uma história de sucesso e reclusão

Ainda em 1965, Astrud lançou seu primeiro álbum solo,The Astrud Gilberto Album. Dele, se destacam as gravações de Água de Beber, de Tom Jobim, que participou da gravação fazendo vocal e tocando violão. Nesse mesmo disco há a versão em inglês para Dindi, música de Jobim e Aloysio de Oliveira.

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Embora longe do Brasil e com aproximação com o jazz, Astrud manteve as raízes na música brasileira. Em 1967, lançou o álbum A Certain Smile, A Certain Sadness, gravado com a participação do pianista Walter Wanderley. Cultuado pelos amantes do balanço, o disco traz faixas como os sambas Nega do Cabelo Duro, Você Já Foi à Bahia e o bolero Tu Mi Delirio.

Outro álbum em que Astrud mostra versatilidade é o que gravou ao lado do saxofonista americano de jazz Stanley Turrentine, em 1967. Nele estão por exemplo Zazueira, sucesso então recente de Jorge Benjor e Wanting Things, sucesso de Burt Bacharach.

Com apresentações ao redor do mundo, e recebeu o reconhecimento de seus pares. Gravou, em dueto com George Michael a faixa Desafinado, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, incluída na coletânea Red Hot + Rio.

Em 2002, Astrud lançou seu último álbum lançou Jungle, co-produzido pelo guitarrista norte-americano Mark Lambert, com composições próprias, como The look of love (Bacharach e David) e Como fué (E. Duarte). A faixa que abre o álbum é Jungle (Xangô), cantada em inglês e português, com letra que fala sobre as religiões da matrizes africanas.

Em publicação nas redes socais nesta segunda-feira, Lambert, músico radicado no Brasil, falou seu seu trabalho com Astrud.

“Toquei na banda dela de 1992-2001. Fizemos turnê na Europa, Japão, Indonésia e estados Unidos. Aprendir muito sobre música brasileira com ela e com os músicos incríveis que ela tinha em sua banda. (...) o que ela contribuiu para a difusão da música brasileira pelo mundo é imensurável. Seu swing icomparável e bom gosto em todos os assuntos estéticos sempre ficarão comigo”, escreveu;

A partir de 2022, a vida artística de Astrud foi ficando mais discreta. Na época, ela declarou que tiraria uma “folga” das apresentações públicas.

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Afastada dos palcos e da mídia há anos, Astrud morava com o marido Greg Lasorsa na Filadélfia, nos Estados Unidos e não se manifestou nem quando o ex-marido João Gilberto morreu, em 2019.

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