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Noitadas históricas em documentário

Documentário 'A Noitada de Samba' revive os tempos de ouro do Teatro Opinião, no Rio

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Rua Siqueira Campos, 143, Copacabana. Durante 13 anos, de 1971 a 1984, o endereço do Teatro Opinião estava na cabeça de quem gostava de samba e queria ver e ouvir de perto novos e velhos compositores e cantores que não tinham vez em outros espaços do Rio. Os organizadores e as estrelas daquelas noites de segunda-feira - Cartola, Nelson Cavaquinho, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Beth Carvalho, Monarco, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola, entre outras - são personagens do documentário A Noitada de Samba, de Cély Leal, que será apresentado no Festival do Rio hoje, amanhã e quarta-feira.  

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Os shows começaram pelas mãos dos jovens produtores Jorge Coutinho e Leonides Bayer, numa época em que ser sambista ainda não era profissão, como lembra Alcione no filme. O novelista Gilberto Braga conta que via ali uma oportunidade de conhecer os artistas do morro. Já Leci Brandão e Martinho da Vila comentam o fato de muitos dos sambistas falarem das mazelas das periferias - um discurso político, mas não explicitamente.

 

A ditadura, aliás, estava de olho naquele palco, foco de resistência cultural e política, e não raro agentes se infiltravam para ouvir o que se cantava e se falava. A diretora do filme, Cély Leal, baiana que passou a frequentar as noitadas em 1978, quando chegou ao Rio, lembra bem disso.

 

"Mas eles não podiam fazer nada, porque o teatro ficava lotado, com quase 600 pessoas, sendo que a capacidade para 400 pessoas, e a mídia adorava", diz Cély, que já ouvira falar dos shows em Salvador, onde morava antes e trabalhava como jornalista.

 

"Quando assisti pela primeira vez, me apaixonei, e tive uma vontade enorme de registrar e mostrar aos meus amigos e minha família em Salvador. No fim dos anos 90, tive a ideia de fazer um documentário. Agora estou muito feliz, realizando um sonho muito antigo."

 

Foram 617 shows. A Noitada de Samba acabou com a venda do Teatro Opinião, deixando saudade numa geração inteira. Por conta do filme, Jorge e Leonides Bayer voltaram ao espaço do teatro, hoje ocupado por um Juizado de Pequenas Causas, e se emocionaram.

 

"O filme conta uma história que não poderia não ser contada, como muitas outras que existem no Brasil, e que terminam só na memória de quem viveu", diz Cély, que vai lançar ainda um livro com essa história, em textos e fotos. Ela pretende refazer um show como o da série no Opinião. A data ainda não está fechada, mas possivelmente seria no dia 1º de novembro - uma segunda-feira.

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