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Crise argentina: ‘Não sou mágico nem salvador’, diz novo ministro da Economia, Sergio Massa

Ao tomar posse, Massa anunciou suas primeiras medidas para tentar resolver a inflação de mais de 60% ao ano, gastos públicos desordenados e a desconfiança na própria moeda

BUENOS AIRES - O novo ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, anunciou nesta quarta-feira, 3, uma série de medidas destinadas a reduzir o déficit fiscal, captar divisas por meio de incentivos à exportação e empréstimos internacionais e, assim, tentar estabilizar uma economia abalada por graves desequilíbrios.

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“Não sou ‘super nada’, nem mágico nem salvador. Venho trabalhar de forma muito comprometida para tentar ajudar a Argentina a se sair bem”, disse Massa em entrevista coletiva, após tomar posse como novo membro do gabinete do presidente Alberto Fernández.

Na entrevista, Massa pediu que todos os setores se unam e trabalhem para resolver “a dupla face da Argentina, que cresce 6% ao ano e gera emprego, mas que tem uma enorme falta de confiança em sua moeda, desordem nos gastos, lacunas no investimento público e uma enorme injustiça na distribuição de renda”. “Temos de enfrentar a inflação com determinação porque é a maior fábrica de pobreza”, destacou.

Massa disse que as medidas anunciadas nesta quarta-feira não são as únicas, pois adotará mais resoluções nos próximos dias, todas voltadas a conseguir ordem fiscal, superávit comercial, fortalecimento das reservas monetárias e desenvolvimento com inclusão social, apoiadas no investimento, na produção, nas exportações e na defesa do mercado interno.

Este “roteiro”, segundo assegurou, busca “iniciar um caminho para uma solução que não é mágica, mas que visa atacar a inflação, a perda de renda e a falta de estabilidade macroeconômica e fiscal”.

O ministro Sergio Massa em reunião com Alberto Fernández, presidente da Argentina Foto: Esteban Collazo/Presidência da Argentina/Reuters

Ordem fiscal e superávit comercial

Em matéria fiscal, Massa ratificou que está mantida a meta estabelecida no acordo firmado em março com o Fundo Monetário Internacional (FMI) de reduzir o déficit primário para 2,5% do PIB neste ano e garantiu que fará as “correções necessárias” para alcançá-la.

Além disso, decidiu deixar de contar com a assistência monetária do Banco Central ao Tesouro pelo resto do ano, ratificou a decisão de congelar as contratações na Administração Pública e nas empresas estatais e anunciou que estimulará o racionamento na utilização dos serviços públicos entre os 9 milhões de domicílios que solicitaram a manutenção dos milionários subsídios estatais ao consumo.

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Sobre a dívida pública em moeda local colocada no mercado doméstico, cuja sustentabilidade tem sido um fator de incerteza nas últimas semanas, Massa declarou que foi lançada uma troca voluntária de títulos com vencimentos de até 90 dias e para a qual se conta com uma adesão comprometida de 60%.

Em termos comerciais, anunciou que haverá regimes especiais para promover as exportações do agronegócio, mineração, hidrocarbonetos e economia do conhecimento e para aumentar o financiamento à exportação.

Além disso, antecipou que manobras irregulares de importação serão investigadas e que será estabelecido um sistema de “rastreabilidade” do comércio exterior para maior controle e transparência no uso de moeda estrangeira para pagar as importações.

Reforças as reservas

Em relação ao objetivo de fortalecer as reservas monetárias da Argentina, que atualmente giram em torno de US$ 37,8 bilhões, Massa anunciou acordos com os setores de pesca, agricultura e mineração, que prometem liquidar exportações no valor de US$ 5 bilhões nos próximos 60 dias.

Por outro lado, disse que espera acordar com organismos internacionais empréstimos de US$ 1,2 bilhão e antecipou que em breve assinará um desembolso de US$ 750 milhões com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

Da mesma forma, revelou que nesta mesma quarta-feira realizou um primeiro encontro “produtivo” com representantes do FMI para “encarar os desafios” decorrentes das medidas anunciadas.

Ajudas sociais e renda

Por outro lado, Massa afirmou que haverá uma auditoria dos planos sociais pagos pelo Estado aos setores vulneráveis. Além disso, antecipou que haverá um bônus para aposentados com rendimentos reduzidos devido à alta inflação - chegou a 62% em junho - e anunciou que se reunirá com sindicatos e patronais para estabelecer um mecanismo que permita recuperar a renda do setor primário diante da escalada dos preços. (EFE)

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