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Carlos Vieira toma posse na Caixa apadrinhado pelo Centrão e prega diálogo com parlamentares

O governo Lula cedeu o comando do banco público ao grupo político que dá as cartas no Congresso em troca de apoio parlamentar.

Foto do author Iander Porcella
Foto do author Fernanda Trisotto
Por Iander Porcella (Broadcast) e Fernanda Trisotto (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - O novo presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Antônio Vieira Fernandes, tomou posse nesta quinta-feira, 9. Ele chegou ao cargo apadrinhado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após meses de negociações com o governo Lula, que cedeu o comando do banco público ao grupo político que dá as cartas no Congresso em troca de apoio parlamentar.

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Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tido dificuldades para formar uma base no Legislativo e precisou recorrer ao Centrão.

Em seu discurso, Vieira pregou o diálogo do banco público com parlamentares e exaltou os resultados econômicos do governo. “O diálogo ocorrido entre Legislativo e Executivo é para o bem do Brasil”, afirmou.

O presidente da Caixa também disse que Lula pediu a ele que “gere governança” no banco público e colha resultados para os mais necessitados. “Essa será a minha interferência na sua gestão”, disse o petista, de acordo com Vieira.

A nomeação de Carlos Vieira foi oficializada no Diário Oficial da União em 3 de novembro. Funcionário de carreira aposentado da Caixa, ele foi indicado por Lira, que conduziu a articulação com o governo para a mudança na estatal, antes comandada por Rita Serrano.

A troca foi anunciada pelo Palácio do Planalto em 25 de outubro, após meses de negociações. O presidente da Câmara, contudo, está em Alagoas e não compareceu à cerimônia.

Apesar da ausência de Lira, a posse foi prestigiada por políticos como o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho (RJ), os senadores Daniella Ribeiro (PSD-PB) e Dr. Hiran (PP-RR), o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB), e o ministro do Esporte, André Fufuca (PP), indicado pelo Centrão para integrar o governo Lula.

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O governo Lula cedeu o comando do banco público ao grupo político que dá as cartas no Congresso em troca de apoio parlamentar. Foto: Luis Macedo/Agência Câmara

Estava prevista a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas ele acabou enviando o secretário-executivo da pasta, Dario Durigan, para representar a equipe econômica.

Lula também não foi ao evento, que contou ainda com a participação do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, da procuradora-geral da Fazenda Nacional, Anelize de Almeida, do presidente Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, e da ex-presidente da Caixa Daniella Marques, que comandou o banco no governo Bolsonaro.

Vieira Fernandes foi presidente do Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa, e ocupou o posto de diretor-presidente da BRB Financeira, controlada pelo Banco de Brasília. Também fez parte da equipe do Ministério das Cidades no governo Dilma Rousseff, em período no qual a pasta foi comandada por Aguinaldo e por Gilberto Occhi.

Occhi chegou a ser cogitado para a presidência do banco público agora, cargo que ocupou durante o governo Michel Temer, mas a possível indicação acabou perdendo força. Outro nome que circulou para o comando da Caixa foi o da ex-deputada federal Margarete Coelho (PP-PI), atual diretora financeira do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

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Outros cargos na Caixa também estão em disputa. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o PT fez um acordo com Lira e a tendência agora é o partido manter o comando da vice-presidência de Habitação. A função é exercida hoje por Inês Magalhães, indicada pela sigla de Lula. Ela deve permanecer no posto, apesar da pressão inicial do Centrão para levar o banco público de “porteira fechada”, ou seja, com a ocupação de todos os cargos.

A Caixa tem 12 vice-presidências, e o principal impasse para o acordo entre governo e Centrão era o comando da Habitação, responsável pelo programa Minha Casa, Minha Vida. O União Brasil queria tirar Inês Magalhães do posto para colocar um apadrinhado do partido no lugar. No entanto, o perfil da atual ocupante do posto garantiu a ela uma sobrevida.

Pesa a favor de Inês a proximidade que ela tem com Carlos Vieira. Os dois já trabalharam juntos. O novo presidente da Caixa foi secretário-executivo do Ministério das Cidades, no governo Dilma, ao mesmo tempo em que ela comandava a secretaria de Habitação da pasta. Esse histórico foi citado para justificar a permanência de Inês no cargo que ocupa atualmente no banco público.

A vice-presidente de Habitação da Caixa é referência em políticas para o setor e, de acordo com uma fonte do Congresso, “transita bem com todo mundo”. Em 2016, antes do impeachment de Dilma, ela chegou a ser ministra das Cidades.

Com Inês mantida no cargo, o Centrão negocia a divisão das outras 11 vice-presidências do banco público. Além do PP de Lira, União Brasil e Republicanos devem indicar nomes. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, mobilizou cerca de 30 deputados para exigir uma vice, e deve ter seu pedido atendido. O PDT, por sua vez, indicou o ex-deputado federal Wolney Queiroz, mas ainda não obteve resposta.

A entrega da presidência e a maior parte das vice-presidências da Caixa fez parte de um acordo de Lula com Lira para garantir governabilidade e apoio na Câmara. A troca no comando do banco público foi negociada junto com a reforma ministerial que alçou Fufuca ao comando do Ministério do Esporte e Silvio Costa Filho (Republicanos) à chefia da pasta de Portos e Aeroportos. O Centrão também negocia cargos na Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

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