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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A economia dos EUA espirra

Adiamento do ciclo de baixa dos juros americanos deve desacelerar o crescimento do PIB global

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Para lembrar velho ditado, a economia dos Estados Unidos espirra e tosse, o resto do mundo, o Brasil inclusive, fica ameaçado de pegar uma gripe braba.

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As novas informações divulgadas nesta quinta-feira pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos mostraram uma evolução insatisfatória do PIB no primeiro trimestre do ano (em relação ao último trimestre de 2023). Ficou mais baixa do que o esperado, em 1,6%, em vez de alguma coisa entre 1,9% e 3,1%.

Mas a tossida mais forte veio com a alta dos preços na ponta do consumo (PCE, na sigla em inglês), de 3,4% em relação ao quarto trimestre do ano passado, muito acima do 1,8% acusado no trimestre anterior – e também acima da meta de inflação, que é de 2,0% em 12 meses.

A principal consequência é a de que o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) fica praticamente engessado para começar, antes de setembro, o ciclo de baixa dos juros, hoje no intervalo de 5,25% a 5,50%. Se essa puxada dos preços de varejo continuar nesse ritmo, talvez o Fed nem comece neste ano ou, mesmo, tenha de voltar a elevar os juros, como alguns analistas começam a desconfiar.

Esses números, que poderiam parecer insignificantes para um leigo em economia, são suficientemente densos para produzir enorme impacto, tanto na economia dos Estados Unidos como na do resto do mundo.

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Adiamento do ciclo de baixa dos juros americanos deve produzir grandes impactos na economia global  Foto: LM Otero/AP

Juros persistentemente mais altos valorizam o dólar em relação às outras moedas, aí incluído o real. Um dólar mais forte tende a derrubar em dólares as cotações das commodities, hoje foco de exuberância nas contas externas do Brasil. Os gigantescos volumes de moeda que hoje rolam pelo mercado financeiro global tendem a seguir aplicados em renda fixa para aproveitar os juros ainda altos. Ou seja, menos recursos deverão ser canalizados para investimentos, o que também significa enfraquecimento das bolsas de valores.

Juros mais altos também deverão desacelerar o crescimento do PIB global. Tudo isso significa que o mundo das finanças mais voltado ao risco, tal como esperado há meses, não deve acontecer tão cedo.

Essa mudança geral dos ventos passa advertências para a economia do Brasil. A cotação do dólar em reais tende a continuar acima dos R$ 5 e pode ajudar a empurrar a inflação para cima. O nosso Banco Central terá um motivo adicional para reduzir o ritmo do corte dos juros básicos (Selic) a partir de junho, para contrariedade do presidente Lula, que conta com a redução do custo do crédito para azeitar a economia e melhorar as condições eleitorais em outubro para seu partido. E uma economia global rallentando pode reduzir as encomendas para o Brasil.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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