Fica difícil imaginar o dólar voltando para patamar inferior a R$ 5, mesmo que um pouco de calma e serenidade retorne aos mercados globais de câmbio, com moedas emergentes e de países desenvolvidos recuperando parte das perdas sofridas em relação ao dólar no auge do nervosismo com a situação geopolítica mundial e do pessimismo quanto à magnitude dos cortes de juros nos Estados Unidos.
O real brasileiro mudou de preço. E isso porque, aos olhos dos investidores, uma âncora fiscal com um mínimo de credibilidade deixou de existir no Brasil. Na fotografia de hoje, a nossa moeda vale menos, a não ser que o Banco Central dê um cavalo de pau na sua política monetária e pare de cortar os juros em um patamar bem mais elevado do que o consenso das projeções de analistas aponta hoje, interrompendo o atual ciclo de redução da taxa Selic num nível próximo ou até acima do que os mais pessimistas estimam, de juros ainda em dois dígitos.
A escalada da tensão entre Israel e Irã e as surpresas para cima nos mais recentes índices de inflação e de indicadores de atividade dos EUA, derrubando as apostas de um maior número de cortes dos juros americanos pelo Federal Reserve, causaram um “overshooting” – disparada – do dólar ante a maioria das moedas internacionais. Assim, é razoável esperar que qualquer melhora no cenário geopolítico mundial e no ritmo de desaceleração da inflação americana abra espaço para a maioria das moedas se acomodar em patamar mais valorizado em relação ao dólar, reduzindo as perdas recentes.
Mas essa narrativa talvez não sirva para o real brasileiro depois da mudança da meta fiscal de superávit primário em 2025 para déficit zero, com a banda de oscilação permitindo rombo de 0,25% do PIB. Com essa alteração, o governo gerou uma desconfiança no mercado de que, no futuro, ainda possa piorar as metas outra vez, para acomodar aumentos de gastos condizentes com as ambições políticas em ciclos eleitorais.
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Sem uma âncora fiscal crível, a política monetária precisa carregar um fardo adicional para conter a piora nas expectativas inflacionárias, limitando a demanda e novas pressões sobre os preços. Caso contrário, um dos reflexos imediatos será no câmbio. Mas, então, onde vai parar o dólar?
Mesmo se houver uma melhora no estresse externo, sem uma sinalização do BC de uma política monetária mais apertada, diante da implosão do arcabouço fiscal, o preço do câmbio estaria muito mais próximo de um dólar ao nível atual, perto de R$ 5,20, do que a R$ 5,00. E isso com uma boa dose de condescendência.