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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Ponto a favor

Apesar da valorização do real, o desempenho da balança comercial é fortemente positivo e trabalha como principal alavanca no ajuste das contas externas

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Atualização:

Se eventualmente os planos de resgate da economia do governo Temer não derem  resultado, não seria por falta de contribuição da balança comercial (exportações menos importações).

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Ao contrário, apesar da valorização do real (queda do dólar de 17,9% em 2016, até esta quinta-feira) o desempenho dessa conta é fortemente positivo e trabalha como principal alavanca no ajuste das contas externas (Transações Correntes).

O superávit de agosto, dentro das expectativas, ficou em US$ 4,1 bilhões, o que perfez um saldo positivo de US$ 32,4 bilhões na acumulada dos oito primeiros meses do ano (veja o gráfico). O mercado, auscultado pela Pesquisa Focus, prevê para todo este ano um superávit comercial de US$ 50 bilhões.

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A principal causa desse ajuste num momento em que os principais parceiros comerciais enfrentam paradeira na economia e baixa disposição a fazer encomendas tem a ver com sacrifício. Trata-se da redução do consumo nacional induzida pela recessão e pela perda de renda, que reduziu as importações (queda de 25,5% nos oito primeiros meses do ano) e deixou alguma sobra para exportar.

Esse resultado positivo trabalha a favor de uma virada da economia. Mas não se pode deixar de levar em conta que, a partir do momento em que o crescimento voltar, as importações tenderão a aumentar.

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Esta crise se diferencia das outras grandes crises da economia brasileira pelo menos em dois pontos: não enfrenta vulnerabilidades no setor bancário e não apresenta fuga de capitais.

A saúde do setor externo, por sua vez, tem a ver não só com a existência de um colchão de US$ 377 bilhões em reservas externas, mas, também, com a forte entrada de dólares de longo prazo (de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões em Investimento Direto no País em 2016) e com esse excelente desempenho da balança comercial.

Paradoxalmente, o excelente comportamento da área externa do Brasil tende a atrair ainda mais dólares e, portanto, puxar as cotações do câmbio interno para baixo. Essa relativa valorização do real, por sua vez, é um dos fatores que, a mais prazo, tendem a enfraquecer o resultado da balança comercial, na medida em que barateia em reais as importações e encarece em dólares as exportações.

Mas há outro obstáculo para que as exportações possam alavancar o crescimento econômico imediato. O Brasil continua sendo um país fechado e protecionista. As receitas com exportações não pesam mais que 10% do PIB. O único setor altamente competitivo no mercado externo é o agronegócio, que, no entanto, enfrenta agora persistente queda das cotações.

Nos últimos 13 anos, os sucessivos governos do PT não cuidaram de negociar acordos de comércio exterior. Ficaram à espera de que avançassem as negociações da Rodada Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), que afinal emperraram. Enquanto isso, o resto do mundo tratou de fechar negociações bilaterais ou regionais que deram às partes acesso preferencial a seu mercado. Esta é uma área que precisa agora ser destravada para que as exportações possam ter maior papel no crescimento econômico do Brasil.

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CONFIRA:

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Fundo do poço?

Não deixa de ser um bom indício. As vendas de veículos aumentaram 1,53% em agosto, em relação a julho. Depois do mergulho persistente, esta é boa notícia. Mas convém não tirar conclusões apressadas. De um lado, agosto teve dois dias úteis a mais do que julho e isso pode ter ajudado nas vendas. De outro, agosto foi mês de Jogos Olímpicos, fator que trabalhou na contramão. São razões que pedem cautela nas avaliações. Embora o endividamento do consumidor continue alto e sua disposição para sacar o cartão de crédito continue baixa, dá para sentir que as vendas pararam de cair.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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